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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Pequena história (36)


Quando, há 200 anos, Napoleão foi derrotado por Wellington, este, antes de mais, preocupou-se sobretudo em visitar os feridos, antes mesmo de informar Londres sobre o desfecho da batalha. As notícias foram enviadas por pombos-correios, e também através de sinais de luzes. A mensagem era sucinta: Wellington defeated Napoleon at Waterloo. Na altura da notícia, porém, o céu cerrou-se de nuvens nessa parte do dia (15 de Junho de 1815) e os receptores apenas anotaram as primeiras duas palavras da mensagem: Wellington defeated... Que. deste modo, incompleta e errada na conclusão, terá chegado a Londres.
Conta-se que, sabendo ou não da verdade inteira, o banqueiro inglês Nathan Rotschild (1777-1836) chegou à Bolsa de Londres, no dia seguinte, com ar lúgubre, e comprou grandes quantidades de acções, que tinham entrado em queda vertiginosa e brutal. Naturalmente, e em pouco mais de 24 horas, aumentou consideravelmente a sua fortuna, após a notícia da vitória se ter confirmado. Por aqui se vê a racionalidade dos mercados, ainda hoje considerados como deuses absolutos...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Lisboa, pisando a terra

Em luz, os dias ainda vão crescendo devagar. O "Aladino" piscou os olhos às 21,16, o irmão mais novo, o "Pirilampo", só deu sinal dois minutos mais tarde. As andorinhas outrabandistas vão altas, hoje, prenúncio de bom tempo. Mas ontem não as vi em Lisboa.
Vamos que a Exposição ainda não estivesse fechada, e eu não teria feito o itinerário pedestre, quase em duplicado. Também não teria ouvido por mais de uma hora, até à exaustão e para lá do que podia suportar, música bossa-nova requentada, em casa amiga. Por direitos de minoria, quase exigi, urbanamente, Elis Regina e, depois, Ella Fitzgerald, em comum acordo. Deu para respirar fundo e não ficar irritado.
Valeu depois a companhia inesperada e grata, ao jantar, na esplanada tranquila. Acabada que foi, soberbamente, a refeição, nos eflúvios de uma "Alvarinha" caseira, depois do café, cujo furor divino, e aromático, foi aplacado por uma pequena pedra de gelo - que a noite de Junho ainda estava morna e não havia vento. O serviço, a cozinha e a companhia ajudaram a esquecer a tarde. Depois, foi a pedestre descoberta, pelas ruas silenciosas e interiores de Lisboa.
Desde a loja Rosacruz, numa rua quieta, ao busto equilibrado de Wellington do pequeno Largo triangular, creio que entre a Saraiva de Carvalho e a Rua D. Dinis, muito chegado ao Cemitério Inglês, onde descansa Fielding. Mas antes, já tinhamos passado por aquilo que fora uma das casas de Garrett. Transformada, e já sem azulejos, num condomínio pardo e sem graça. De uma arquitectura baça e neutra, talvez para disfarçar o luxo das madeiras exóticas e das piscinas interiores (que um distinto ilhavense, que já foi ministro, não dispensa a água...). Até porque isto de cultura, cada um toma a que quer e sabe.
Despedimo-nos, no Rato, e eu segui e bisei, no mesmo dia, o percurso que já fizera de tarde. No Príncipe Real, para intervalar o passo já um pouco cansado, sentei-me na esplanada do Quiosque para beber o terceiro café dessa noite. A Catarina Portas terá agradecido, de forma imaterial e abstracta, a despesa. Mas eu arrependi-me: tive uma insónia dos diabos!... E parecia-me ouvir, interminavelmente, bossa-nova.

para ms, afectuosamente.