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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

De Rafael Alberti (1902-1999), traduzido


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Aquele aroma inesperado a morte,
esse cheiro a soldado sem nome nem família,
legando aos formigueiros da terra
talvez o melhor traje da sua vida,
de à beira de um olmo me levou
para muito longe do sabor da minha amiga.



Rafael Alberti, in Entre el clavel y la espada (pg. 97).



Nota pessoal: a capa, em imagem e muito danificada, pertence ao meu exemplar da primeira edição (1941). O livro, de bom apuro gráfico, contém vários desenhos (surrealistas) do Poeta.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Idiotismos 29


Os anos que eu levei até saber que o curioso toponímico Marateca (concelho de Palmela) poderia ter-se originada na simples expressão: Mar até cá...
Das cores dos cavalos, entre outras, conhecia eu, baio (crina e rabo pretos), de cor isabel (entre o branco e o amarelo). Mas quando dei pelo poema de Alberti, cantado por Ibañez (poste de 1/3/2015), estranhei o verso: "/Galopa, caballo cuatralvo/". Esclareci a dúvida num competente dicionário espanhol. Um cavalo assim, teria as quatro patas em pelagem branca. Quanto ao termo português (Quatralvo, que eu não conhecia) os 2 dicionaristas, que eu consultei, não coincidem inteiramente. Se Houaiss regista como cavalo com pintas brancas nas quatro patas, já Moraes refere: "diz-se do cavalo malhado de branco até aos joelhos". A Coudelaria de Alter, talvez melhor que os dicionaristas, pudesse resolver com rigor esta questão... 

terça-feira, 3 de março de 2015

Um poema de Rafael Alberti (1902-1999)


O soldado sonhava, aquele soldado
das terras interiores, escuro: - se ganharmos
hei-de levar-te daqui para veres as laranjas,
até ao mar que nunca viste,
para que o teu coração se encha de barcos.

Mas veio a paz. E era uma oliveira
de sangue interminável pelos campos.


Rafael Alberti, in Entre el clavel y la espada.

domingo, 1 de março de 2015

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Um poema de Rafael Alberti


Faz falta estar cego,
pelos olhos infiltradas raspaduras de vidro,
cal viva,
areia fervendo,
para não ver a luz que vem dos nossos actos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra diária.
Faz falta querer morrer sem rumo de glória ou alegria,
sem participar em nenhum dos hinos futuros,
sem deixar vestígios para os homens
que hão-de julgar o passado sombrio da Terra.
Faz falta querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido.


Nota pessoal: neste poema de Rafael Alberti (1902-1999), para lá dos breves vestígios surrealistas, é importante ter em conta que foi escrito no período da Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

Bibliofilia 82


É a primeira impressão (1949) de um dos últimos livros, publicados em vida, por Juan Ramón Jiménez (1881-1958). Precioso - como dizem os espanhóis -, porque é um livro bonito, de um dos meus poetas mais estimados. É uma edição bilingue, com a versão francesa dos poemas, feita por Lysandro Z. D. Galtier, para a Editorial Pleamar, de Buenos Aires, com capa de pano, original. O livro Animal de Fondo está integrado na colecção Mirto, dirigida por Rafael Alberti, também ele poeta, e acabou de se imprimir a 4 de Julho de 1949.
Não sei quanto dei por ele, mas creio que o comprei em Madrid, no ano de 1986. Na AbeBooks, em rápida consulta, verifiquei que os preços da obra oscilam entre 40 e 100 euros, consoante o estado de conservação do livro. O meu exemplar, embora com as capas um pouco empoeiradas, encontra-se em bom estado.

domingo, 4 de novembro de 2012

Um poema sem título, de Rafael Alberti


Alguns se comprazem em dizer-me:
Estás velho, adormeces
de súbito em qualquer lugar.
Trazes raras camisas, cabelos e casacos dissonantes.
Mas eu respondo-lhes
como o velho poeta Anacreonte
teria feito hoje:
- Sim, sim, mas as minhas centenas de viagens pelo ar,
a minha presença feliz, tenaz, arrebatada
diante do meu povo,
a viva voz do meu eco
capaz de erguer o mar acima das ondas,
e as belas raparigas, e os valentes jovens
que me bailam de roda... E sempre o sustenido, cego amor
que vai além da morte...

Puerto de Santa María, 1995.

domingo, 16 de setembro de 2012

Um desapiedado retrato de Neruda, por J. R. Jimenez


"Sempre considerei Pablo Neruda (porque não Neftalí Reyes, porquê Gabriela Mistral e não Lucília Godoy?) como um grande poeta, um grande mau poeta, um grande poeta da desorganização; o poeta dotado que acaba por não compreender nem utilizar os seus dotes naturais. Neruda parece-me um torpe tradutor de si mesmo e dos outros, um pobre explorador dos seus filões e alheios, que às vezes confunde o original com a tradução; como se não soubesse completamente o seu idioma nem o idioma que traduz. Por isso naquilo que escreve, bom ou mau, há uma aparição evidente com as falhas do ignorado. Ouvi Rafael Alberti dizer que ele gosta de ler livros estrangeiros que não compreende de todo. Creio que ele supre com algo melhor, seu, aquilo que não entende do outro. Mas Alberti é mais lince que Neruda, que é o assimilador universal. ..." (1939)

Juan Ramón Jimenez, in Españoles de Tres Mundos (pg. 115/6).

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Recordar Eugénio


Eugénio de Andrade nasceu a 19 de Janeiro de 1923. Em 28/10/1999, aquando da morte do poeta espanhol Rafael Alberti, prestou ao jornal "Público" um depoimento sobre o amigo que falecera. É esse escrito que reproduzimos pois, provavelmente, não mais terá sido editado.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rafael Alberti (1902-1999)




Espantalho

Já na minha alma pesavam de tal modo os mortos futuros
que eu não podia dar um passo sem que as pedras revelassem as suas entranhas.

Que gritam e defendem essas roupas retorcidas por exalações?
Sangram olhos de machos atravessados de arrepios.
O céu torna-se impossível entre tantas campas alagadas de setas corrompidas.

Para onde ir com as ânsias dos que vão morrer?
A noite desmorona-se por um excesso de equipagem clandestina.
Louvai o choque eléctrico que fulmina os bandos e os rebanhos.
Um homem e uma vaca perdidos.

Que novas desventuras esperam as folhas, este outono?
Minha alma não suporta já tanta carga sem destino.
O sonho para resguardar-se das chuvas procura uma cabana.
Pela noite de ontem já uivaram as lobas.

Que espero rodeado de mortos no gume de uma aurora indecisa?

Rafael Alberti, in Sermones y Moradas (1929-1930).

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ódios de estimação literários


É curioso constatar que escritores, até reconhecidos pela sua generosidade natural, não deixam, contudo, de ter alguns ódios de estimação centrados em confrades da mesma arte. E que exorcisam esse sentimento, com alguma frequência, em conversas mais íntimas, ou mesmo em escritos. É nítida, por exemplo, a antipatia intelectual que George Steiner consagra a E. M. Cioran. Ou a que Cioran, por sua vez, dedicava a Albert Camus. É conhecida a pouca simpatia que Jorge de Sena tinha por Manuel Bernardes, e que considerava pouco inteligente; ou por António Ferreira, que achava um poeta menor - e, aqui, estou quase de acordo com Sena.
René Char (1907-1988), que dedicava uma enorme estima humana e literária a Albert Camus e Saint-John Perse, desprezava, intelectualmente, Valéry e não apreciava nada Aragon. Li, há pouco tempo, um pequeno episódio, narrado por Jean Pénard ("Rencontres avec René Char", 1971), que passo a citar: "...René Ménard n'a décidément pas de chance. Il compare Rafael Alberti à Federico García Lorca. Emportement imédiat de Char: «Comment pouvez-vous les mettre l'un prés de l'autre? García Lorca avait le chant. Alberti ne l'a jamais eu.» Il prononce ces mots avec violence et gravité. ..."