Poucos quadros terão provocado o fascínio que "A Queda de Ícaro", de Pieter Brueghel, o Velho, exposto no Museu das Belas Artes, em Bruxelas, exerceu sobre tantos poetas.
A singularidade da obra reside, essencialmente, no facto de a figura de Ícaro - que dá nome ao quadro - ser quase imperceptível: apenas uma das pernas se lhe vê, fora das águas, porque o restante corpo está submerso. Por outro lado, quem trabalha não interrompe o que faz, apesar da queda (e morte) de um homem. A situação leva-nos, na sua origem, até um provérbio flamengo antigo que diz, mais ou menos, o seguinte: "Não é por um homem morrer que o lavrador deixa de lavrar."
É por aqui que W. H. Auden começa o seu poema "Musée des Beaux-Arts": "Sobre o sofrimento os antigos nunca se enganavam..." Além de Auden, também William Carlos Williams escreveu um poema sobre o mesmo quadro: "According to Brueghel/ when Icarus fell/ it was Spring..."; entre poetas de primeira água, Gottfried Benn tem dois poemas sobre o tema, e Michael Hamburger compôs "Lines on Breughel's Icarus". Muitos outros poetas abordaram, em verso, este célebre quadro: Edward Field ("Icarus"), Anne Sexton ("To a Friend whose work has come to triumph"), etc.
Em relação à obra de Pieter Brueghel, o Velho (1525-1569), que terá sido pintada entre 1555 e 1558, se não é rigorosamente segura a atribuição de execução ao pintor, é pelo menos certo, que a concepção do quadro lhe é atribuída, com segurança.