A falta de um amplo compartimento em casa apenas dedicado à oficina de trabalhos manuais, costura e encadernação, obriga-me sempre a soluções de compromisso, quando a disposição mental e a disponibilidade de espaço o permitem.
Como há sempre muitos doentinhos cá em casa, em lista de espera e com achaques ligeiros ou mais sérios, a oficina volante lá se instalou na sala após a arrumação das decorações de Natal.
Não faltam nesta oficina “hospital” visitas para aconchegar os doentinhos. A foto acima mostra, portanto, o senhor papel, sentado na primeira cadeira. Segue-se a senhora cartolina e cartões, conversando com a sua comadre, a senhora das peles. Todos muito atentos e virados para a mesa das operações, onde tudo está à mão de semear para tratar dos enfermos.
O “doente” que pedia mais insistentemente o seu atendimento
foi o exemplar abaixo reproduzido e que tinha a sua capa dividida em duas
partes. O anterior proprietário fez uma asneira da grossa: colou as duas partes
com fita cola. A marca fica, pois, até ao fim da vida útil. Depois de tirar com
cuidado a má da fita, restaurou-se a capa, colando no verso uma folha de papel
japonês para reforçar o papel e sobretudo as badanas.
Os leitores bem sabem que os exemplares de impressos do fim do século XIX, início do século XX, sobrevivem, e mal, apenas com uma folha de papel mais encorpado a servir de portada. Por outro lado, estes livros têm uma lombada pouco resistente e, por isso, costumam marcar a consulta com frequência, pedindo um reforço das “costas”, i.e., a encolagem da lombada, assim como um tratamento das folhas iniciais, anterior e posterior, aplicando o remédio do papel japonês.
Em cima da mesa já estão alguns doentes despachados, outros em tratamento mais prolongado, dentro da prensa, e outros ainda à espera de oportunidade.
Já deixei um aviso à porta do “hospital”: É favor marcar a sua consulta com brevidade, uma vez que o espaço será encerrado nos próximos dias.
Infelizmente, esta oficina só poderá funcionar em
ambulatório !