Admito que há pouca gente, entre os amadores como eu, a quem possa interessar saber as castas de uvas do lote que constitui o vinho que vão provar. Por várias razões, é muito raro eu comprar algum vinho que não possua esta informação no rótulo ou no contra-rótulo. Dou-me, habitualmente, mal, a nível de digestão, com a Castelão e a Trincadeira que são, no entanto, castas interessantes e saborosas, que dão personalidade marcada a alguns vinhos de renome e são mais utilizadas no centro e sul de Portugal, por vários produtores.
Se a Sogrape, no que ao Dão Grão Vasco diz respeito, ora informa ora omite a referência às castas, numa incoerência caprichosa que eu não entendo, já a Soc. de Vinhos Borges é raro dar essa informação que me parece sempre útil e importante. Compreendo, no entanto, que alguns produtores a não indiquem, por mero desconhecimento da qualidade de uvas que utilizam. É que, em áreas de vinhas velhas, a mistura de castas prolifera, como era de norma geral nesses antigos terroirs plantados com cepas muito diversas.
Mas também há muitos novos produtores, chegados há pouco ao mercado dos vinhos que, além de omitirem as castas do lote (será que para eles o segredo é a alma do negócio?), substituem essa informação importante, pelo menos para mim, por pequenos textos com derrames líricos, normalmente pindéricos e exuberantes, realçando as excelências do néctar, no contra-rótulo, de forma despropositada. É o que menos perdoo, embora por vezes me ria destas incontinências verbais e saloias destes arrivistas modernaços.