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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A aceleração dos tempos



Ficou célebre, na memória de muitos e da história francesa, o empolgante elogio fúnebre feito por André Malraux, em 1964, aquando do acolhimento simbólico de Jean Moulin no Panthéon, durante o consulado de Charles de Gaulle. Tinham-se passado 21 anos sobre o assassinato de um dos mais importantes chefes da Resistência, até a decisão ter sido tomada, ainda que com ampla justificação.
Robert Badinter (1928-2024), ministro da Justiça responsável pela abolição da pena de morte em França, na presidência de Miterrand, faleceu a 9 de Fevereiro, e cerca de 5 dias depois, Macron anunciava pressuroso a sua próxima entrada no Panthéon francês. Aliás, nos tempos recentes, o número de jazidas tem crescido muito: Simone Veil (2018), Maurice Genevoix (2020), Josephine Baker (2021).
Parece notar-se a necessidade premente de novos heróis, mas, em Portugal, não é muito diferente.
Prefere-se a urgência emocional à serena reflexão sobre os méritos da "panteonização".

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Uma fotografia, de vez em quando... (158)



A atenção humana é, sem dúvida, uma das virtudes maiores de uma boa amizade. 
O meu amigo H. N. teve a grata lembrança de me remeter esta fotografia, acima, que reúne, algures (França?, Portugal?, Itália?, Espanha?...), cinco políticos socialistas que se davam bem. Não deixa de ser uma foto histórica, que muito estimei e que aqui fica.
Só lhe posso agradecer este seu gesto atento e amigo.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Divagações 179



Não terei visto muitos filmes de Michel Bouquet (1925-2022), actor falecido recentemente. Talvez Clouzot, talvez algum filme de Chabrol. Mas, aquele que mais me impressionou, terá sido Le Promeneur du Champs-de-Mars (em português: "O último Mitterrand", 2005), de Robert Guédiguian. Era uma interpretação magnífica deste grande actor francês, sobretudo de teatro. Uma experiência de vida semelhante, com a guerra pelo meio, ajudou talvez a compor melhor a figura de um dos últimos grandes Presidentes da República francesa. 
Dele dizia Michel Bouquet: Mitterrand é uma figura de romance. Olhos negros, rosto pálido, máscara de gesso, um homem muito diferente do animal político.
De si mesmo, entretanto, o actor traçava um retrato: Não me acho interessante. Mas terno, banal, insosso. São os desempenhos que acabam por me dar espessura.




sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Memória 140

 


É sempre muito difícil evitarmos e escaparmos a este tipo de coscuvilhice nobre... Até no Le Monde.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Da leitura 42


Que ninguém atire a primeira pedra, porque quase todos nós temos as nossas fraquezas. O meu atento e bom amigo H. N. sabe das minhas. E trouxe-me, para emprestar, dois livros sobre Miterrand, para eu ler num futuro já próximo. Só posso, muito reconhecido, agradecer-lhe.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Balanços



Termino, algo defraudado (excepto pela qualidade da escrita), a desfolhada de Lettres à Anne (Gallimard, 2016), nas suas 1.280 páginas. Mas de que é que eu estava à espera? Segredos do poder, confidências demasiado humanas, retratos inescapáveis de alguns homens públicos? Nada disso aparece, as cartas de François Miterrand são inócuas, quase diria, cuidadosas, talvez por precaução futura ou para não enfastiar a jovem enamorada (Anne Pingeot) com aspectos políticos ou com minudências burocráticas do estado. Inesperadamente, nem sequer encontrei referências a Mário Soares. E, quanto a Portugal, apenas aparece um curto apontamento favorável sobre o Porto (pg. 1116), no dia de S. João, de 1977.



Retive alguns sinais do gosto pessoal de ambos, ou de cada um, através de uma notação cinéfila: Les Parapluies de Cherbourg (Jacques Demy), na página 323. E quanto à música clássica as referências abundam. No que diz respeito à música ligeira, não consegui saber qual era a interpretação preferida da canção Anyone who had a heart (Cilla Black?, Dionne Warwick?, Dusty Springfield?). Resta-me a consolação indubitável de que Je chante pour passer le temps, poema de Aragon, refere certamente a versão de Léo Ferré, que aqui fica.




sexta-feira, 26 de março de 2021

Lettera Amorosa


 

O título do poste é sedutor, e aqui o uso eu de forma muito restrita, que não como Monteverdi, René Char, Eugénio de Andrade ou João César Monteiro o usaram em obras suas. E tudo depende da perspectiva, muito embora estas cartas de François Miterrand (1916-1996), para Anne Pingeot, não confirmem inteiramente a conhecida afirmação irónica de Fernando Pessoa, até por evitarem o derrame excessivamente romântico, apesar da relação que, de algum modo, foi clandestina. Bem escritas as cartas, sem dúvida, pela extensão, talvez um pouco fastidiosas (são mais de 1.200 páginas). Mas o que seria de esperar deste oaristo de um grande político para uma competente estudiosa de Arte, embora 27 anos mais nova? Também não se esperem revelações bombásticas ou segredos de estado, pois Mitterrand, neste particular, foi cuidadoso na escrita.

Confesso que tenho feito alguma batota na leitura... tenho andado um pouco impaciente de humores, mas não dei ainda por terminado o folhear das páginas do livro, nem o devassar inteiro desta história de amor.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Mistérios...

 


O livro, que o meu amigo H. N. me recomendou, emprestando-mo, foi editado em 2011. Com 528 páginas e em bom estado, foi comprado, usado, num alfarrabista da rua da Misericórdia (Lisboa). E tinha a particularidade de trazer apensa, com um clipe, uma carta, dirigida, cordial e intimamente, ao Professor Diogo Freitas do Amaral (1941-2019), por um amigo, Alberto, de seu nome.


Por indícios e alguma investigação, que fiz, julgo que a oferta da obra terá sido feita por um colega de Direito mas, sendo as provas insuficientes, não revelo o nome do cavalheiro que se hospedou no Hotel Ritz, utilizando envelope e carta dessa unidade hoteleira.

com agradecimentos a H. N.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Confusão de sentimentos


Por entre sentimentos contraditórios, tomei conhecimento da dispersão, através de leilão, da biblioteca de François Miterrand (1916-1996), recentemente em Paris. As heranças a distribuir, neste caso particular, são o diabo!...
Eu creio que, perante situações destas, um bibliófilo honesto e autêntico, experimenta sensações adversas, no seu íntimo. Projecta o futuro dos seus livros e é atingido por uma nostalgia ontológica; depois, encara o leilão concreto, como uma janela de oportunidades, para enriquecer a sua biblioteca.
Senghor (1906-2001), com Aimé Césaire e José Craveirinha são os poetas da negritude que eu mais estimo, sobretudo, por questões de qualidade do seu ofício.

Por isso, embora vindo de uma biblioteca que se dispersou, por força do destino, eu não quis perder este livro com dedicatória do poeta e político senegalês. Que a endereçou a uma representante de uma família guineense conceituada, que ainda tinha raízes na Serra Leoa. Porque África, por metáfora excessiva, também pode ser considerada uma pequena aldeia... E, também, porque apesar da descolonização, ainda há muita coisa que vem parar à Europa. 

sábado, 6 de outubro de 2018

A abelha e o arquitecto *


Houve um tempo, em que os chefes políticos eram homens cultos, que sabiam escrever bem e reflectir ponderadamente. Muito embora alguns deles, muito poucos, não dispensassem, num ou noutro discurso, o seu ghost-writer. Não era o caso de François Miterrand (1916-1996).
Tenho vindo a ler, com manifesto agrado, uma versão portuguesa dos seus textos (Janelas da Memória, 1983), de cariz diarístico e que abarca escritos seus de 1971 a 1978, seleccionados. Para lá da preclara percepção do futuro (ambiente, renováveis...), o livro contém  muitas reflexões sobre Portugal, dos anos do PREC, e está escrito numa linguagem límpida e sedutora. Anotações de paisagem, contactos ao mais alto nível, impressões sobre a história de alguns países, comentários e retratos de estadistas, de tudo lá aparece, numa inclusão que sublinha o grande amor à vida que Mitterrand possuía, ao mais alto grau.
Nem por isso menor, não resisto a transcrever (pg. 174) um pequeno apontamento rural, muito interessante e pitoresco. Aqui vai:

" De regresso à herdade, o dono da casa falou da sua vizinhança: a raposa, o gavião, a abelha. Caçador de abelhas, ele espia as passagens de enxames e pousa os seus cortiços sobre o ramo de uma árvore, carvalho ou pinheiro, entre duas pedras erguidas, ou nos barrancos que estriam a beira do planalto, segundo a lei das migrações, que é o único a conhecer dez léguas ao redor. Ele volta lá numa noite sem lua e leva o enxame para o colmeal doméstico. «Desconfie das italianas», observa ele, enquanto à nossa roda zumbe um voo compacto. Explica-nos que os conselheiros agrícolas organizaram na cidade uma campanha a favor das híbridas e intervieram junto dos criadores para que a abelha italiana, cingida de um fiozinho amarelo, fecundasse a abelha provençal, mais discreta na sua veste negra. Resultado: a segunda geração desvaria e já não suporta a presença do homem. Ainda cavaqueávamos quando a tarde arrefeceu."


* o título deste poste plagia a obra "L'Abeille et L'Architecte" (1978), de François Mitterrand.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Girouette


Não terá sido o primeiro, mas é dos mais significativos golpes de rins, político. Ora, com um comandante de navio como Hollande percebe-se que os ratos espertos abandonem o barco, antes de irem ao fundo.
(Coitado do PS francês que, depois de Jospin e Mitterrand, se foi transformando, por dentro, num autêntico albergue espanhol!...)
O problema, ou talvez não, é que estes chico-espertos, habitualmente, além de não terem a coluna vertebral muito direita (salvo seja!), também não devem muito à ética, nem à inteligência - quem for ingénuo, que os compre, como hamsters.

sábado, 14 de março de 2015

Pena de Morte


Talvez nem todos saibam que Portugal foi o segundo país do mundo a abolir a pena capital, em 1867, depois do Ducado da Toscânia (1786). A iniciativa partiu do deputado liberal António Aires de Gouveia, mais tarde, bispo de Betsaida, e teve legislação a consagrá-la com a assinatura do Ministro da Justiça, Manuel Baptista. A França foi o último país da, então, U. E. a abolir a pena de morte, já só em 1981, durante o consulado de François Miterrand.
Mas durante todo o século XIX e parte do XX, houve várias personalidades, em França, que defenderam essa medida, embora sem resultados. Uma das primeiras figuras a fazer campanha pela abolição, foi o escritor Victor Hugo (1802-1885). Era conhecida a sua posição, pelo mundo fora. Daí que, logo que a legislação foi aprovada, em Portugal, o jornalista Eduardo Coelho, director do Diário de Notícias, por carta, tenha dado a conhecer a Victor Hugo a feliz notícia.
O grande escritor francês, apressou-se a responder, assim:
"Sr. Eduardo Coelho: - Está, pois, a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. Penhora-me a recordação da honra que me cabe nessa vitória. Humilde operário do progresso, cada novo passo que ele avança me faz pulsar o coração. Este é sublime. Abolir a morte legal deixando à morte divina todo o seu mistério, é um progresso augusto de entre todos. Felicito o vosso parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e os vossos filósofos! Felicito a vossa nação. A Europa imitará Portugal.
Morte à morte! Guerra à guerra! Vida à vida! A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos cidadãos.
Aperto-vos a mão como ao meu compatriota na humanidade. - Vítor Hugo."

Nota: a tradução, da carta de V. Hugo, pertence a João de Araújo Correia (1899-1985), e encontra-se no seu livro Passos Perdidos (Portugália, 1967) - aqui referido recentemente - nas páginas 161/2.