Nada mais cortesão nem mais polido
que o nosso Rei Filipe, que Deus guarde,
sempre de negro até aos pés vestido.
Tão pálida a sua pele, como é a tarde,
cansado o ouro do seu cabelo ondeado,
e dos seus olhos, o azul, cobarde.
Sobre o seu augusto peito generoso
nem jóias perturbam nem correntes
o negro veludo silencioso.
E em vez de ceptro real, segura apenas
com desmaio galante, uma luva diante
da branca mão de azuladas veias.
Por razões afectivas, há duas comunidades autonómicas espanholas, que se sentem, ou nós sentimos, mais próximas de Portugal do que de Castela. Refiro-me à Galiza e à Catalunha. A raíz comum do galego-português na poesia, no iño, nos sentimentos quase minhotos (Rosalía), na gastronomia, explicam, em parte, essa afectuosidade recíproca com a Galiza.
Da Catalunha, e do pouco que conheço, talvez a maneira de ser que é menos alacre e orgulhosa ( e não estou a falar de sentimento de independência que os catalães têm arreigado) do que a castelhana, a recordação do Condestável D. Pedro, filho do homónimo português das-sete-partidas, que lá foi rei. Mas os portugueses devem, também, em parte, à Catalunha, a sua re-independência de 1640. Porque os dois movimentos independentistas ocorreram no mesmo ano (1640), na Catalunha com els segadors (os ceifeiros) e, em Portugal, com boa parte da nossa nobreza. E Filipe IV (terceiro de Portugal) teve que dividir as suas tropas para tentar sufocar as duas rebeliões simultâneas, e Portugal ganhou com o facto.
Por isso, hoje, recordo a Batalha de Montjuic (26 de Janeiro de 1641), ganha por Pau Clarís, herói catalão que morreu pouco tempo depois. E a versão alargada do hino da nação catalã: Els Segadors, em homenagem aos campesinos que iniciaram a revolta, no séc. XVII.
P. S.: para os 3 Amigos prosimetronistas, que andam por terras de Espanha.