Na esteira do manifesto
anterior, aplicando-se o jargão economicista de sobrefacturação ao tratamento e
“sofrimento” duplicados a que fui sujeita, não posso calar a minha indignação
perante a falta de civismo dos utentes do SNS. Sejamos francos, há muito boa
gente a abusar dos recursos, marimbando-se nas consequências económicas,
financeiras e até humanas, do SNS, recorrendo aos Hospitais quando não é
necessário.
Aliás, já há muitos anos que
me dizia uma médica amiga o seguinte: “Quando precisares da urgência, a melhor
hora é a das telenovelas. Ficamos às moscas. [sic]” Não me espanta, por isso, que, mesmo passados vários anos,
ainda haja uma percentagem elevadíssima – de 40% - de emergências médicas não
urgentes, i.e., de recurso a uma Urgência Hospitalar.
Confesso que não compreendo
este gosto, para mim algo perturbador, de pensar, logo ao primeiro sinal, de se
deslocar a um Hospital, já que é ambiente que não me é confortável e evito ao
máximo. No entanto, já aconteceu ter tido a necessidade de utilizar este último
recurso. Liguei para a Saúde 24, quando a minha ciência a capacidade de
sofrimento ultrapassou o limite. Mesmo estando fora da residência habitual,
encaminharam-me para o Hospital mais próximo, o Garcia de Orta de Almada. A
chegada ao Hospital foi tranquilíssima. Na Recepção da Urgência já tinham todos
os meus dados recolhidos no telefonema anterior e aguardei, conforme o parecer
médico, pela ordem amarela atribuída, já que não vinha trucidada de nenhum
membro. Posto isto, não partilho de nenhuma opinião catastrofistas quanto a
este ou outro Hospital, a saber, o S. José em Lisboa.
O caso de haver, ainda, 40 %
de casos – NÃO URGENTES – nos Hospitais portugueses, relaciona-se, quanto a
mim, com uma enorme condescendência relativamente à falta de civismo com que
muita gentinha utiliza os recursos.
Para elucidar como se
processa lá fora, na Grande Alemanha, como cá por casa se conhece, conta-se, em
poucas palavras, como se processa.
NÃO SE PODE IR PELO PRÓPRIO
PÉ PARA UMA URGÊNCIA ! É mesmo assim, tal e qual. Ou vai, como se diz, de
charola, ou pelo Serviço Saúde 24, i.e., um médico a dizer que tem de ser
assistido em ambiente hospitalar.
Ora, um dia, há muitos anos,
a minha mãe sofria de degenerescência de um fémur, provocando, por vezes, dores
insuportáveis. Sucedeu que, ao circular numa estrada secundária, bati num
buraco e o balanço do carro lhe devia ter provocado um movimento pouco
saudável. Chegado ao destino, a casa. ela não conseguiu, com tantas dores, sair
do carro, mesmo com a minha ajuda. Que fazer ? Fui com ela ao Hospital mais
próximo. Estacionei no parque e, na Recepção, relatei o caso. Resposta: NADA.
Não contactou o seu médico ? Não ligou para o 112 ? Assim não pode ser ! Só com
muita insistência, lá foi um enfermeiro falar com a minha mãe, deram-lhe uma
injecção contra as dores para, pouco depois, sob o efeito da mesma, poder
ajudá-la a sair do carro e contactar o seu médico assistente para mais apoio.
Com efeito, o abuso por parte
de prestadores e utilizadores apenas conhece, quanto a mim, uma regra clara de
não complacência, quando a falta de civismo não ajuda.
Post de HMJ