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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Dois ou três olhares


De Eva Mudocci (1872 ou 1883-1953) não se sabe muito, para além de ter sido uma violinista com algum sucesso. De seu nome completo, Evangeline Hope Muddock, várias nacionalidades lhe são atribuídas: inglesa, dinamarquesa, polaca, italiana ou espanhola... Há quem a diga, também, cantora, pianista e poeta. Facto indiscutível é que terá sido apresentada, em 1903, ao pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), e nesse mesmo ano lhe serviu de modelo, para a sua obra Madonna.


Terão tido uma relação de que resultou, em 1908, o nascimento de um casal de gémeos: Isabella e Edvard. Muito embora as biografias do pintor não lhe atribuam descendentes. Mais tarde ligou-se ao pianista Bella Edwards. Mas no certificado de óbito (1953) consta como viúva de um jornalista ignorado (Louis Levy?), que poucos traços terá deixado na sua vida. Embora haja quem o nomeie como pai dos seus filhos.
Ponto assente, é que também se terá dado com Henri Matisse (1869-1954) que, em 1915, lhe terá desenhado as feições, de forma muito linear.

E eis tudo o que praticamente se sabe desta musa singular e misteriosa.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Apontamento 122: Civismo


Resultado de imagem para E. Munch.Menina doente

Na esteira do manifesto anterior, aplicando-se o jargão economicista de sobrefacturação ao tratamento e “sofrimento” duplicados a que fui sujeita, não posso calar a minha indignação perante a falta de civismo dos utentes do SNS. Sejamos francos, há muito boa gente a abusar dos recursos, marimbando-se nas consequências económicas, financeiras e até humanas, do SNS, recorrendo aos Hospitais quando não é necessário.

Aliás, já há muitos anos que me dizia uma médica amiga o seguinte: “Quando precisares da urgência, a melhor hora é a das telenovelas. Ficamos às moscas. [sic]” Não me espanta, por isso, que, mesmo passados vários anos, ainda haja uma percentagem elevadíssima – de 40% - de emergências médicas não urgentes, i.e., de recurso a uma Urgência Hospitalar.

Confesso que não compreendo este gosto, para mim algo perturbador, de pensar, logo ao primeiro sinal, de se deslocar a um Hospital, já que é ambiente que não me é confortável e evito ao máximo. No entanto, já aconteceu ter tido a necessidade de utilizar este último recurso. Liguei para a Saúde 24, quando a minha ciência a capacidade de sofrimento ultrapassou o limite. Mesmo estando fora da residência habitual, encaminharam-me para o Hospital mais próximo, o Garcia de Orta de Almada. A chegada ao Hospital foi tranquilíssima. Na Recepção da Urgência já tinham todos os meus dados recolhidos no telefonema anterior e aguardei, conforme o parecer médico, pela ordem amarela atribuída, já que não vinha trucidada de nenhum membro. Posto isto, não partilho de nenhuma opinião catastrofistas quanto a este ou outro Hospital, a saber, o S. José em Lisboa.

O caso de haver, ainda, 40 % de casos – NÃO URGENTES – nos Hospitais portugueses, relaciona-se, quanto a mim, com uma enorme condescendência relativamente à falta de civismo com que muita gentinha utiliza os recursos.

Para elucidar como se processa lá fora, na Grande Alemanha, como cá por casa se conhece, conta-se, em poucas palavras, como se processa.

NÃO SE PODE IR PELO PRÓPRIO PÉ PARA UMA URGÊNCIA ! É mesmo assim, tal e qual. Ou vai, como se diz, de charola, ou pelo Serviço Saúde 24, i.e., um médico a dizer que tem de ser assistido em ambiente hospitalar.

Ora, um dia, há muitos anos, a minha mãe sofria de degenerescência de um fémur, provocando, por vezes, dores insuportáveis. Sucedeu que, ao circular numa estrada secundária, bati num buraco e o balanço do carro lhe devia ter provocado um movimento pouco saudável. Chegado ao destino, a casa. ela não conseguiu, com tantas dores, sair do carro, mesmo com a minha ajuda. Que fazer ? Fui com ela ao Hospital mais próximo. Estacionei no parque e, na Recepção, relatei o caso. Resposta: NADA. Não contactou o seu médico ? Não ligou para o 112 ? Assim não pode ser ! Só com muita insistência, lá foi um enfermeiro falar com a minha mãe, deram-lhe uma injecção contra as dores para, pouco depois, sob o efeito da mesma, poder ajudá-la a sair do carro e contactar o seu médico assistente para mais apoio.

Com efeito, o abuso por parte de prestadores e utilizadores apenas conhece, quanto a mim, uma regra clara de não complacência, quando a falta de civismo não ajuda.

Post de HMJ

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Nietzsche e a Dança


A Dança, por que Friedrich Nietzsche (1844-1900) se interessou, despertou-lhe várias reflexões curiosas. Talvez a mais dogmática tenha sido: que se deveria considerar um dia perdido qualquer dia em que se não dançasse ao menos uma vez.
Menos assertiva e propícia a fácil consenso foi a observação judiciosa e óbvia de que "aqueles que são vistos a dançar, poderão ser considerados loucos por aquele que não consiga ouvir a música."
Sendo que esta afirmação poderá ter um conceito mais alargado de metáfora...

terça-feira, 30 de maio de 2017

A propósito de Edvard Munch


Curador de uma recente exposição (Mot Skogen = Em direcção à Floresta) da obra de Edvard Munch (1863-1944) - no seu Museu de Oslo -, do escritor norueguês Karl Ove Knausgaard (1968), especializado em História de Arte, apraz-me citar algumas palavras suas, muito perspicazes, e que talvez mereçam uma reflexão:

"Todos temos, mais ou menos, uma vida interior caótica, todos temos pensamentos que nunca expressamos, sentimentos que não gostamos de ter, sonhos proibidos e desejos sem esperança, e estamos cheios de memórias, que existem sob várias formas e feitios, do vago e selvaticamente impressivo, até ao nitidamente lembrado. Todos temos mentiras que se foram transformando em verdades, e estamos repletos de equívocos, confusões, banalidades e defeitos... Mas raramente assumimos uma forma de os comunicar, como Munch fez. Porque os reservamos para nós mesmos."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Memória (84)


Pelos 150 anos do nascimento de Edvard Munch (1863-1944), este auto-retrato, feito em 1909, pelo Pintor expressionista norueguês.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Paisagem


Poderíamos, decerto, estar no triálogo, interminavelmente, mas o nosso Amigo tinha de se ir embora.
Agora e contra a aguarela exterior azul e rosa, acendo a luz amarela interior da sala. O Tejo empresta ainda o azul cobalto, firme. Falta apenas o verde, mais o negro da noite, para compor o arco-íris do quadro. A inocência do branco já não é chamada para aqui, nem pela idade nem pelo tempo que passa.
Estamos soterrados pelo lixo claustrofóbico e superior de quem nos governa. Vai sendo cada vez mais difícil vir à tona. Outrabandistas e ténues, entre amarelo e branco, as  primeiras luzes que se acendem, numa esparsa solidão, ao longe. Logo a seguir ao rio.

domingo, 12 de maio de 2013

Osmose (43)


Haverá sempre uma área fechada e delimitada de incomunicabilidade humana. De diálogo impossível, mesmo para o próprio, consigo mesmo. Alargada em restrição, para o outro. E esta intransmissibilidade vem de longe.
Pode assumir a forma enigmática do verso "edoi lelia doura", do poema de Pedro Eanes de Solaz, que Herberto Helder quase fez sua. Passa, evidentemente, pela "Cold Song" de Purcell, como atravessa "O Grito" de Munch, ou "a gaguez furiosa" de que fala Jorge de Lima. E pode vir desembocar, mais perto de nós, nos "Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena", de Jorge de Sena. É tudo uma questão de temperamento.
De Leste, e desconexos, os sinais que chegavam só permitiam, ao homem, o pesadume do silêncio e uma tensão de gestos, quase mecânicos ou medidos, para evitar o patético e o excessivo. A desconformidade ininteligível, em suma. Elevou o braço esquerdo, rodeou com o anelar e o dedo mínimo a concha da orelha e começou, simplesmente, a coçar a nuca. Poderia, como o homem de meia idade, no "Eclipse" de Antonioni, ter tomado uma aspirina. Esse homem, aparentemente calmo, que, minutos atrás, tinha perdido tudo o que tinha, na Bolsa. Que, depois, se levantou da mesa do café e, em passos meditados, foi embora. Não podia fazer mais nada...

sábado, 21 de julho de 2012

Poema traduzido de Philip Larkin (1922-1985)


Dias

Para que servem os dias?
Os dias são para vivermos neles.
Eles chegam, acordam-nos
Tempo após tempo.
Existem para neles ser feliz:
Onde podemos viver senão nos dias?

Ah, para resolver esta questão
Traz o padre e o médico
Nos seus longos casacos
Correndo por sobre os campos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Divagações 16 : a propósito de "The Cold Song" de Henry Purcell

Assim como há obras intemporais que podem atravessar todas as idades, da mais primitiva à mais moderna, há também, na vida de algumas pessoas, sentimentos inexprimíveis ou indizíveis que não encontram, nas palavras, maneira de se expressarem, senão por forma desarticulada. Ou em que a voz humana adquire uma expressão outra, talvez animal: o uivo, o urro, o grito inumano.
Estou a lembrar-me de 2 casos a que assisti, na minha vida; estou a recordar-me dos quadros de Munch, ou do grito suspenso que deflagra em Al Pacino, em Godfather III, quando a filha é assassinada ("Salão de Recusados 10", de 1/3/2010, aqui no Arpose). Estou a pensar nos "4 sonetos a Afrodite Anadiómena" de Jorge de Sena, ou em 1 ou 2 poemas de Jorge de Lima. Estou a lembrar...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Colagem(ns)


O homem era vulgar, a mulher não, de todo. Mas o homem era uma força de trabalho organizado, a mulher deu-lhe a experiência do trato, a gestão dos silêncios, as regras de convivência, os contactos necessários para poder crescer na cidade. E o homem cresceu.
(...)
A criança ainda se lembra dos 2 urros das duas mulheres que ocorreram entre a sua infância e adolescência. Muitos anos depois soube das várias versões de O Grito de Munch. Mas nenhum dos urros ocorreu sobre uma ponte. O primeiro que ouviu foi à saída do caixão, e retiniu pelas paredes da casa. O segundo urro ocorreu num canto de uma sala clara, e veio de uma mulher sentada. A criança achou que a mulher ia enlouquecer.
(...)
Campo de Ourique, transmissão de saberes, ou experiências. O mais velho dos homens, apesar de provocador, conta ao mais novo dos homens, de forma pausada, mas tensa, episódios da sua vida. Quer transmitir o seu retrato exacto. Mas, à noite, de regresso a casa, conclui que o não conseguiu.
(...)
Enquanto escreve, o homem ouve o vindimador do Douro dizer: Tinta Roriz, enquanto quase afaga um cacho de uvas. Associa: Aragonês, primeiro, para Sul; depois, Tempranillo, para leste, Espanha. Lembra-se do Vega Sicilia e do Amigo, a Norte. E agradece à Vida. E vai à procura de Matisse, de Picasso. Mas acaba por escolher René Bertholo.