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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Curiosidades 107



Eu diria que há um ler a tempo, um ler na idade certa, mas também um ler fora de tempo (tarde na idade) ou ainda antes de saber apreciar e compreender convenientemente o que se lê.
Achei por isso curioso que Françoise Sagan (1935-2004) tenha situado três das suas leituras mais importantes, da e na juventude, assim:

- Les Nourritures terrestres, de André Gide, aos 13 anos.
- L'Homme révolté, de Albert Camus, com 14 anos.
- Les Illuminations, de Arthur Rimbaud, aos 16 anos.

Leituras precoces, no meu entender. Mas que cada um faça o seu juízo, ou avive a sua experiência pessoal...

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Muito breve


Há umas pequenas flores, entre azul e lilás, na varanda a leste, que são como algumas borboletas cuja vida é breve: duram apenas um dia - abrem com o Sol nascente, fecham e morrem ao anoitecer.
Ilustram como a beleza é frágil e efémera . Morrem, assim, na juventude. Quase como Rimbaud. Ou, antes, como Keats, que afirmou, em verso: "A thing of beauty is a joy forever..."

domingo, 17 de agosto de 2014

Personagens - a nitidez e a medida


Na ausência de feições visíveis ou de uma caracterização física e psicológica bem impressiva, num romance com grande número de personagens, o pobre do leitor (e muitas vezes isto me acontece) corre sempre o risco de se perder no labirinto, não conseguindo seguir, com precisão no fio narrativo, os nomes e as acções de cada um dos vários intervenientes, associadamente. Tudo, porque o autor não teve, talvez, nem a noção do equilíbrio, nem piedade para com o Outro - ser humano que o viesse a ler.
A maior parte das vezes, embora pareça ter o cuidado e a preocupação de nunca se exceder no número de figuras dos seus romances, Georges Simenon consegue que o leitor, son semblable, son frére, quase nunca se perca no enredo das suas obras. É essa - parece-me - uma das marcas de água por onde é mais simples reconhecer a qualidade e solidez de um bom ficcionista. Ou seja, não perder a noção real do mundo exterior que o rodeia.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sinestesia e Poética


Não será desajustado de todo dizer-se que as sinestesias tiveram o seu momento alto com o Simbolismo, sobretudo na literatura. Mas nesse cruzamento analógico, de domínio sensorial, há também muito de inconsciente e inexplicável, como boa parte das sensações humanas, principalmente, quando se reportam a dois extremos: gostar ou não gostar.
Quando Rimbaud se permite cantar:

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu: voyelles,
Je dirai...,

alguma coisa, apesar de aceitarmos o desafio, pode escapar ao nosso prosaico entendimento.
Tenha-se em conta, já no domínio das vozes, da música e das cores, este poético exercício da cega de Fellini, no filme E la nave va, personificada por uma espectral, mas sublime, Pina Bausch, no pequeno vídeo, abaixo.
E, quem puder e souber, que entenda.



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

História do arco da velha


O linguísta teve uma noite péssima. Sonhou que viajava interminavelmente, e de eléctrico, tendo que entrar e sair sempre que o guarda-freios mudava a agulha nos carris. E a chusma de passageiros, apeados também pela circunstância, nunca o deixavam reentrar primeiro. Ora, os bancos tinham todos a forma de letras pequenas do alfabeto, num design berrante e post-moderno. Sempre que regressava ao eléctrico os lugares mais cómodos já estavam todos ocupados. Nunca conseguia sentar-se no banco em forma de b, nem no d, muito menos no h ou no t, embora este último fosse muito baixo para o velho catedrático de Linguística. Ademais, os restantes passageiros e companheiros de viagem obrigavam-no a sentar-se, quase sempre, em cima do w - situação que lhe provocava grande incomodidade e enjoo. Apesar de ficar com enorme sonolência e acabasse a dormitar por causa do balanço do movimento no carro eléctrico. E, no sonho do sonho, ocorriam, obsessivamente, frases feitas tais como: "porrada de criar bicho", "porrada de cego"...
Acabou por acordar, com o corpo dorido e cheio de nódoas negras. Muito indisposto, lá se vestiu e apanhou um táxi para a Faculdade, para dar a aula de Introdução aos Estudos Linguísticos. Infelizmente, o banco de trás do carro, onde se sentou, tinha as molas num 8, de gastas, e o relevo mais se assemelhava a um m irregular, incómodo e oscilante. Quando se apeou do táxi, no terreiro da Universidade, ainda se sentia pior. Prometeu a si mesmo, nunca mais ler à noite, as Iluminações, Uma cerveja no Inferno, de Rimbaud, na tradução  de Cesariny. E encomendou-se a deus, antes de entrar no anfiteatro, para dar a aula de Linguística. Acontece que, logo no 2º degrau, tropeçou e caíu, desamparado, batendo com a cabeça nas esquinas dos L 's maiúsculos e sucessivos das escadas. Esteve em coma quatro dias. E ao quinto dia, morreu. Não deixou viúva, nem orfãos. Mas uma ampla bibliografia.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Escolhas


Numa altura do ano em que jornais e revistas publicam sugestões de compras de livros, ou escolhas de figuras conhecidas do público, vou lembrar as opções de Eugénio de Andrade (Rosto Precário, 6ºed., 1995). A referência a vários autores é ampla, e vai de Herculano a Guimarães Rosa, para se centrar, finalmente, em apenas 5 obras:
1. A poesia de Pessoa (de que exclui algumas odes de Ricardo Reis).
2. Clepsydra, de Camilo Pessanha.
3. Illuminations, de Rimbaud.
4. Song of Myself, de W. Whitman.
5. Poesia (só a poesia) de S. João da Cruz.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Léon-Paul Fargue (1) : sobre Poesia



Léon-Paul Fargue (1876-1947), poeta francês, fez várias incursões originais e interessantes sobre o tema poesia. Privilegiava a poesia simples, sem retórica, com pouco ornamento. Os excertos que se traduzem e transcrevem pertencem a efabulações contidas em "Suite Famillière (Sequência Familiar)".

"Descartes faz casamentos de razão. Rimbaud casamentos de amor. Os poetas fazem destes últimos. Num toque de trompa, uma trompa do vale de Thèvale, eles fazem convergir dos quatro cantos do universo as pessoas e as imagens menos semelhantes, as mais estranhas na aparência, e casam-nas, e juntam-nas como os hemisférios de Magdeburgo, e ao fim de cem anos, apercebemo-nos que fizeram bons conjuntos, assim como os grandes casamentos de Descartes, e que funcionam - pela eternidade."

"A palavra lâmpada é comum ao poeta e ao que acende as luzes.
O leitor crê que as palavras têm um sentido.
Em poesia, a inteligência faz os recados, leva os embrulhos, informa-se e vem dar notícia, faz as contas, classifica os pequenos papéis, selecciona as cartas de amor, telefona e prepara o banho. Como uma criada jovem e negra junto da sua bela patroa."