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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Notas de um quotidiano decadente 1: Ausência de civilidade

 

Sempre me debati, com veemência e durante a carreira que a tanto me obrigava, a favor de um respeito e de uma separação absoluta do espaço público do privado. 

Convinha ensinar que nem tudo era permitido no espaço público, ficando reservado ao privado, e ao recato da casa, uma convivência familiar eventualmente disfuncional.

Portanto, fazia parte da civilidade humana respeitar normas mínimas de vivência em sociedade, conhecendo os respectivos direitos e deveres.

Ora, como se vê pela imagem, já se encontra uma vida familiar exposta e com abuso do espaço público, sujeitando a vizinhança, debaixo das suas varandas, a este espetáculo deprimente.

Falta o cão, pendurado na porta da caravana, a ladrar, arruído que costuma fazer, durante tempos sem fim, da varanda dos donos da caravana, do seu andar contíguo que, pelos vistos, se alargou à zona do estacionamento público do prédio. Infelizmente, temos aqui mais um exemplo de um quotidiano em decadência. 

Post de HMJ

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Apontamento 96: Civilidade


[Civilidade, i.e. conjunto de formalidades, observadas pelos cidadãos entre si, quando bem educados]

A ausência de regras mínimas de respeito e educação tem obrigado, infelizmente, a soluções legais questionáveis. O gesto, de respeito básico civilizado, de pedir licença, deixar passar a quem mais precisa, parece já da esfera do Código do Procedimento Administrativo, quando a instrução básica falha.

Tentar atribuir a responsabilidade deste predomínio dos “feios, porcos e maus” sobre uma convivência civilizada, assente num respeito mútuo, matizado pela idade, pelo interesse cultural, social e vivencial, a uma falha do sistema educativo já não me parece razoável, há muito tempo.

Os ventos contrários da chamada educação formal, organizaram-se, há muito, e cada vez se impõem com mais força. Só não percebe aquele que não quer ver a intenção final.

O caos, em qualquer país, provocado por uns “bites jornalísticos de momento”, interessa sobretudo àqueles que não estimam a Humanidade nem o pensamento autónomo.


[E, para bom entendedor, não digo mais sobre “cidadões”, vizinhos, turistas, hordas futebolistas completamente desprovidos de noções mínimas de civilidade.]

Post de HMJ

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Civilidade (33) : o aperto de mão


"O aperto de mão é o complemento da saudação, de que faz parte.
Estende-se a mão toda, e não apenas alguns dedos, o que seria, sobremaneira impertinente.
...
O homem que retem, nas suas, a mão de uma senhora, commette um crime de lesa delicadeza.
O aperto de mão deve ser natural e simples, sem exageros de gesto, que o tornariam ridiculo."

Condessa de Gencé, in Tratado de Civilidade e de Etiqueta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Civilidade (32) : o braço que se oferece


Ora aqui está (em imagem) um best-seller pouco falado. Que este "Tratado de Civilidade e de Etiqueta", da Condessa de Gencé (1872-1951), editado pela Guimarães & Cª., teve, pelo menos, até 1957, nada menos de 15 edições. O nosso exemplar é da 8ª. impressão. E, quanto a gentileza e boas maneiras, temos ainda muito que aprender. Comecemos então pelo "braço que se offerece":

"O homem offerece, sempre a uma senhora, o seu braço esquerdo, e conserva livre o direito, para desviar a multidão, para assegurar a passagem, para mais facilmente poder proteger ou defender, aquella a quem dá o braço. Se o homem, porêm, offerecer o braço direito, não compete á senhora, fazer-lhe notar a sua ignorancia.
Os militares, quando depõem a espada, devem submetter-se á regra geral, e offerecem o esquerdo."
(...)
"O homem que offerece o braço a uma senhora, deve apresenta-lo de maneira a que ella nelle se apoie, livremente. Afastará sufficientemente o cotovello, para não comprimir o ante-braço da senhora. O cavalheiro deve reparar bem na altura da sua dama, baixar ligeiramente o braço, se ella não for alta, ou eleva-lo se elle fôr mais baixo do que ella.
Não deve gesticular com o braço occupado." (pg. 9)

Havemos de continuar...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Civilidade (31)


O cerimonial das refeições da corte portuguesa proporcionava, a alguns representantes das casas nobres lusitanas, ocupações que, hoje, consideraríamos insólitas ou difíceis de entender. Vamo-nos socorrer de Alberto Pimentel (Diccionario de Invenções..., Lisboa, 1876) para melhor as caracterizar e definir as suas atribuições. Assim:
"A côrte portuguesa costumava comer em publico, e com deslumbrante apparato desde o tempo de D. Affonso V. Assistia á mesa um trinchante, que cortava as viandas, até ao reinado de D. João III. D'ahi por diante os trinchantes foram dois, e no reinado de D. João IV eram três, escolhidos em outras tantas cazas nobres.
Á direita do trinchante ficava o uchão, e ao pé o servidor da toalha; á esquerda o mantieiro. Os moços de camara, precedidos habitualmente pelo prestes da cosinha e nas grandes festas pelo mestre-sala, traziam as iguarias. O servidor da toalha recebia os pratos, que punha na meza; o uchão chegava-os ao trinchante, que, depois de trinchados, os servia a el-rei, até que o mantieiro os tirava, e punha outros. O copeiro-mór era o fidalgo que chegava o pucaro de agua a el-rei. Quando el-rei fazia signal de querer beber, o copeiro-mór recebia do copeiro-menor o pucaro, e ambos se aproximavam acompanhados de dois porteiros da cana, que faziam cortezias, e ajoelhavam. El-rei bebia inclinado sobre a meza, e dava depois o pucaro ao copeiro-mór, que lh'o havia entregado. Nos grandes banquetes era ainda mais luzido o cerimonial. ..."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Civilidade (29)


Diz-nos o Padre João de N. Sra. da Porta Siqueira, no seu "Escola de Politica, ou Tratado Practico da Civilidade Portugueza" (Porto, 1803) que, ao convidarmos alguém, para almoçar ou jantar em nossa casa, devemos ter em atenção o gosto e preferências dos nossos convidados. É o que eu faço, normalmente, mas houve uma vez, aqui há uns anos, que me esqueci. E, logo que abri a porta, ao casal de amigos, perguntei de chofre: "Gostam de coelho?"; e ele me respondeu de imediato: "Não sei! Nunca comi..."
Fiquei petrificado, até porque o almoço já estava quase pronto, e não havia tempo para alternativas. Felizmente era um coelho bravo e, talvez por amizade ou deferência, eles comeram e não se queixaram.
Mas voltando ao Padre João, é assim que ele diz como se deve trinchar um coelho: "Fende-se desde o pescoço, correndo ao longo do espinhaço; e depois estes lombos se vão cortando às postas atravessadas para os ministrar; o mais se parte á vontade."
Este ministrar é que me deixou bastante curioso...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Civilidade (28)


No prefácio "Às Leitoras" e, no recuado ano de 1898, Beatriz Nazareth, logo no início do seu "Manual de Civilidade e Etiqueta", referia: "Tudo muda com o tempo, mas muito mais na apparencia que na realidade, pelas formas mais que pelo fundo..."
O último TLS (nº 5761) informa que, ainda há 60 anos, escritores como Norman Mailer, Henry Miller e James Jones eram alertados para não usar, em obras a publicar, aquilo que, eufemisticamente, era referido como "the F-word" ou "a four letter word" (que não era love, com certeza).
Mas - e digo eu - a partir dos anos 60/70, a cartografia escatológica norte-americana, apesar de todo o puritanismo farisaico de fachada, começou a entrar em força, sobretudo através do cinema, no dia a dia europeu. E até Philip Larkin, um comedido poeta britânico laureado, utilizou a palavra proscrita num poema - para escândalo, ainda, de alguns ingleses serôdios e vitorianos...
Cá, pela terrinha, depois das diatribes desbragadas de Raul Leal, da fulgurância exclamativa de "A Cena de Ódio" de Almada (que não tem só versos para criancinhas...) e do célebre "merda, estou lúcido!" de Pessoa, o consulado salazarista foi reconstruindo a moral. Mas com a Liberdade, alguns ganapos atrevidos, mais para ganhar fama rapidamente, e proveito, por via dos pacóvios saloios, começaram, a torto e a direito, a usar a palavra proibida, até no título dos livros. E até cantores fizeram bom uso financeiro dela... numa forma básica de exibicionismo infantil. 
Perdeu-se o efeito. Hoje, o "F...-.." é perfeitamente banal ou vulgar em livros e apenas televisivamente, talvez para não chocar famílias reunidas, a expressão é substituida por um silvo casto e desagradável, que todos sabemos o que significa.
"Tudo muda com o tempo", dizia, com toda a razão, a excelsa senhora Beatriz Nazareth...

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Civilidade (27)


Da avisada palavra de Beatriz Nazareth, já por várias vezes aproveitei conselhos para esta rubrica, recorrendo às regras protocolares contidas no seu "Manual de Civilidade e Etiqueta" (1898). Abordemos, hoje, os modos decentes no uso e partilha do tabaco:
"...Na ilha de Cuba o caballero toma o charuto ou o cigarro entre os labios, accende-o assim, aspira  algumas fumaças e apresenta-o depois ao seu amigo para que accenda o que vai fumar. O mesmo modo de proceder em Hespanha.
Na Austria accende-se o cigarro e offerece-se ao companheiro o phosphoro ainda acceso; fazem isso para dar mais tempo ao ultimo.
Effectivamente se offerecermos o phosphoro acceso antes de nos servirmos, aquelle que o recebe apressa-se em devolvel-o, antes que se tenha apagado.
Na Inglaterra o gentleman offerece um charuto ou um cigarro ao seu fellow (companheiro), accende-o e faz outro cigarro para si, o qual tambem elle accende.
O francez offerece sempre o phosphoro ao seu amigo antes de se servir.
Em Portugal pratica-se de dois modos, offerecendo egualmente como os francezes o phosphoro antes de nos servirmos d'elle, ou apresentando o nosso charuto ao amigo para que accenda o seu.
O costume de fazer parar na rua as pessoas desconhecidas para lhes pedir fogo é de origem americana; só uma má educação póde permitir tal facto. Todavia, este serviço não se recusa, mas as pessoas bem educadas não o pedem nunca."
Estes fellow, caballero e gentleman fizeram-me lembrar a dialectologia de alguns actuais CEOs portugueses...Quanto ao uso de tabaco pelas Senhoras, Beatriz Nazareth não se refere. Não seria de bom tom, na época.

sábado, 16 de março de 2013

Civilidade (26) : Saúdes


Penso que já pouco se usa, hoje em dia, o termo "saúdes" ou, desenvolvidamente, beber à saúde, que se praticava em ocasiões festivas: casamentos, baptizados, aniversários. Os ingleses tinham até uma expressão assaz curiosa para expressar o brinde: Hip, hip, hooray!
Por cá, seriamos menos efusivos e exclamativos. No seu livro sobre etiqueta, Beatriz Nazareth ("Manual de Civilidade e Etiqueta"), em 1898, explicita com regra o ritual deste gesto. Assim:
"...Aquelle que propõe uma saude levanta-se, pondo o seu copo á altura do rosto e, inclinando-se para aquelle a quem vae brindar, diz: «Bebo á saude do sr. F...ou da exma. sra. D. F...» Os outros convivas erguem-se da sua cadeira, e approximando-se todos os copos uns dos outros, repetem o nome proposto: «Ao sr. F...» os homens vasam o seu copo, as senhoras podem molhar sómente os labios. ..."

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Civilidade (25)


Este livro de Beatriz Nazareth, editado em 1898, de que já fiz algumas transcrições nesta mesma rubrica, está um pouco desconjuntado, mas é uma fonte inesgotável de informações sobre etiqueta, cortesia e regras de comportamento em sociedade, no séc. XIX. E, em muitos casos, pelo desajuste dos tempos, a sua leitura faz, pelo menos sorrir, ao constatarmos como as coisas se modificaram. Outras, mantiveram o básico das normas, com pequenas alterações. Hoje, vou transcrever o tratamento prescrito para contactar ou se dirigir às pessoas ou autoridades. Assim:
- O Papa deveria ser tratado por Santíssimo Padre ou Vossa Santidade.
- Ao Rei e Rainha, repectivamente, por Senhor e Senhora ou, em carta, por Vossa Magestade.
- Serenissimo Senhor ou Senhora devia ser usado para com os Príncipes, Princesas ou Infantes.
- O Cardeal Patriarca teria direito a Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor.
-Os barões, viscondes, duques e marqueses: Ilmo. Excelentíssimo Senhor.
-Aos Clérigos, por Vossa Reverência.
E Beatriz Nazareth acrescenta: "...Ás senhoras competem os respectivos tratamentos de seus paes, maridos, etc. e sempre Dom: no emtanto é moda dar-se Excellencia a todas, muito particularmente nos bailes e soirées. Aquelle, que infringisse hoje este requintado preceito de urbanidade, passaria por grosseiro e descortez. ..."
Estamos, apesar destas regras, muito longe da sofisticação e rigor do séc XVIII (ou para trás), em que trocar, por exemplo, o tratamento de Vossa Mercê por Vossa Senhoria, era justificação suficiente para um duelo...

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Civilidade (24) : a ter em conta, lá fora


Para quem se passeia por fora, agora em férias, ou porque imune à crise, ou para poder contar e se ufanar junto dos amigos e inimigos, talvez seja importante anotar algumas regras ou práticas de boa educação, no estrangeiro. Elas constam de "Le Tour du Monde de la politesse", livro de Anne Grignon, que recomenda:
- na Áustria deve guardar-se uma distância de 60 centrímetros em relação ao nosso interlocutor;
- assoar-se em público é impensável no Brasil (duvido, muito sinceramente);
- ficar embriagado depois de um jantar, na China, é sinal de familiaridade para com o seu anfitrião;
- o atraso é norma, na Colômbia (em Portugal, também);
- mostrar-se incomodado com o fumo do cigarro é de mau tom e descortês, em Hong-Kong.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Civilidade (23) : das vantagens de ser Mulher


Já aqui falámos, na mesma rubrica, do excelso livro "Manual de Civilidade e Etiqueta" (1898), de Beatriz Nazareth. Ora, sobre cumprimentos e gestos, tem a Autora ideias bem definidas. Aqui vai a citação:
"...Os tregeitos affectados, os ares languidos, são absolutamente detestáveis. Sente-se uma affectação que revolta como mentira. A nervosidade é a doença do nosso tempo e é difficil ás pessoas nervosas conservarem-se hirtas, immoveis, como o exigia uma moda idiota. Um leque é um grande soccorro para uma senhora, abre-o, fecha-o, agita-o; estes movimentos occupam-lhe as mãos e impedem-n'a de se desmanchar em gestos desordenados. Os homens tem menos auxilio, não podem causticar o chapeu que teem na mão sem provocar a zombaria. Precisam constranger-se alguns instantes por dia, afim de se habituarem a ser calmos. ..." (pgs. 140/41)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Civilidade (22) : protocolos


"...He de grande incivilidade o puchar pela capa, manga ou outra qualquer parte do vestido a huma pessoa qualificada, quando lhe quisermos fallar..." - era isto norma de etiqueta e boa educação, em 1788. Admito que ainda hoje o seja. Mas, muitas vezes, os códigos alteram-se com o tempo. O que hoje pode ser um ritual de conduta e conveniência - sinal de deferência e respeito -, amanhã, poderá ser considerado absurdo, uma bizantinice e ser motivo de chalaça e ridículo.
Há pouco tempo, foram notícia, as gaffes protocolares do casal Obama, na Inglaterra. A mais badalada terá sido Michelle Obama ter passado o braço sobre as costas da raínha Isabel II que, num raro momento de fraternidade democrática, correspondeu quase de imediato para desfazer o "caricato" da situação. Mas todos sabemos que, neste particular, os americanos são extremamente naturais, "naives e rurais", e democráticos.
No passado mês de Março, saíu um livro do embaixador português José Bouza Serrano, intitulado " Livro do Protocolo ". Por mero acaso, num zapping televisivo, assisti a parte de uma entrevista do embaixador,  que é também chefe do protocolo do PR, para publicitar a obra. O homem era afável (compreende-se), monárquico, interessante no falar, embora afectado demais para o meu gosto. Mas gostei de o ouvir e fiquei com curiosidade de folhear o livro.
Poucos dias depois, na FNAC, peguei na obra e dei-lhe uma vista de olhos, mas o preço (32,00 euros) dava-me para comprar 1 ou 2 livros do séc. XVIII, num alfarrabista, e desisti de a comprar. Afortunadamente, um Amigo meu comprou-a, leu-a rapidamente, e emprestou-ma. Vou no princípio, mas já deu para algumas reflexões e perplexidades. Sobretudo na questão das precedências protocolares. Por exemplo, no protocolo oficial da República Portuguesa as cabeças coroadas (portanto, não eleitas) têem prioridade sobre os Presidentes da República (eleitos), até de outros países. Como é que este feudalismo obsoleto subsiste? Só se for para dar substância  às historinhas infantis...

domingo, 11 de março de 2012

Civilidade (21) : Do vestir, seus usos civilizados e ornamentos



Mais uns conselhos prudentes e oitocentistas (1803) do Padre João de N. Sra. da Porta Siqueira, do seu "Escola Politica ou Tractado Practico da Civilidade Portugueza". Desta vez, sobre alguns ornamentos do vestir civilizado. Aqui vão, na sua ortografia original:
" Lenço...Não se traz na mão, nem no chapeo, nem ao pescoço, e sobre a cazaca, nem pendurado do bolso. Quando nos assoarmos, não ficaremos olhando para o que sahir no lenço. Não se offerece jámais a outrem, senão quando o pedir, ou virmos, que precisa delle, estando muito limpo. Assoando-nos á mesa, se faz com muito modo, para que não cause asco.
Gravata... Com vestido sério deve ser de fivéla, que aperte atraz, e sempre seja branca a gravata: indo a cavallo, usamos das compridas, que apertão com laçada para diante.
Meias...Usão-se ordinariamente brancas, e só de seda preta com vestidos pretos, ou tambem com calção preto, quem quer.
Bengála...Ninguem a póde trazer com castão, senão militares, e confórme as suas Graduaçõens, e Patentes, e  só estes a pódem levar á presença de El-Rei; os mais se servem de páosinhos, muletas ou bengálas similhantes; porém nunca as levarão a visitas de maior ceremonia. He grosseria ir pelas ruas brincando, ou levantando-a para o ár."
[ 2ª via de 11/3/12]

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Civilidade (20) : precauções


A já aqui citada Beatriz Nazareth, no seu "Manual de Civilidade e Etiqueta" (1898), sob o título de Um detalhe importante, aconselha na página 82 do seu livro:
"Os donos da casa que convidam um militar para uma soirée ou um jantar, devem dizer-lhe, á sua chegada: «Desarme-se, capitão, coronel, etc.» Um official não deixa a sua espada, em um salão, senão depois d'esta especie de licença dos donos da casa; é preciso não esquecer dar-lh'a."

Comentário: ora aqui está  um conselho que o nosso ministro da Defesa, Aguiar Branco, deve ter em consideração. Recentemente, o causídico nortenho, num discurso, afrontou as Forças Armadas. Acresce, em seu desabono, que Aguiar Branco nunca cumpriu o serviço militar. Por outro lado, as reacções dos militares foram rápidas e violentas. Nas próximas reuniões, será conveniente que os militares entrem no gabinete ministerial, sem as espadas. O ministro da Defesa poderá alegar, em seu abono, estas regras de etiqueta aconselhadas por Beatriz Nazareth.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Civilidade (19) : etiqueta do galanteio


Na sua "Arte de Galantaria", D. Francisco de Portugal (1585-1632) refere:
"...Tomou lugar certo galã (D. Luis da Silveira) junto de uma Dama, que tinha por hábito vexar e correr a todos, e valeu-se daquela tão ofensiva frase «está V. M. muito feia!» É um remédio violentíssimo, com que se descompõe a mais formosa mulher. Disse muito bem o Poeta:

Eu prefiro ser vexado
A ter de ser descortez.

Bem atinadamente procedeu o outro que, ao dizer-lhe uma Dama (D. Maria Manriquez) um ultraje, se voltou para alguém que estava com ele, dizendo:
- Que farei, senhor? Nem sequer lhe posso chamar feia ou velha..."

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Civilidade (18) : sobre os piqueniques


Sobre piqueniques, Beatriz Nazareth no seu Manual de Civilidade e Etiqueta (Lisboa, 1898), na página 72, adverte:
"Na nossa opinião os pic-nics devem-se evitar. N'estas festas reina uma familiaridade que toca a raia dos inconvenientes. Cada qual sente-se em sua casa e as pessoas de natureza um pouco grosseiras não se julgam obrigadas á etiqueta que existe quando há só um amphitryão. E depois, porque estas refeições de despezas comuns dão logar a todas as especies de reparos pouco caridosos, pouco amaveis e pouco convenientes: «Aquella senhora trouxe dois frangos e seis pessoas para comer. - «A  menina X. deu um prato de morangos e comeu de tudo quanto havia», etc.
Estas festas acho-as possíveis apenas sob a condição de reunir todas as pessoas egualmente bem educadas."

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Civilidade (17) : os bons hábitos à mesa


Ainda, do Codex Romannoff, manuscrito de Leonardo da Vinci, mais alguns preceitos de urbanidade e bom convívio, exigidos para estar à mesa dos Sforza:
- Convidado algum se deve sentar em cima da mesa, nem de costas voltadas para ela, nem ao colo de outro comensal.
- Não deve tirar comida do prato do vizinho, sem primeiro lhe pedir autorização.
- E se tiver vontade de vomitar, que abandone a mesa.
- Tal como se tiver de urinar.
- Não deve limpar a sua faca às vestes do vizinho.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Civilidade (16) : Deveres dos alunos


"Os meninos, aos quaes se manda dar lições em casa, estarão sempre cuidadosamente vestidos para receber o seu professor. Seria grosseiro deixal-os apparecer, na sua presença, com os cabellos em desalinho e o fato sujo ou descuidado - fato que não devemos usar em nenhuma circumstancia.
Exigir-se-ha que fallem muito delicadamente, respeitosamente mesmo, áquelles que tomarem o mister de os instruir. Reprimir-se-ha toda a velleidade de revolta contra a auctoridade do professor; excepto em casos excepcionaes, nunca se tomará parte por elles contra elle.
Os meninos acompanham até á porta o seu professor, que é seu superior, pela idade, primeiro, e pelo saber."
Beatriz Nazareth, in Manual de Civilidade e Etiqueta, Lisboa, 1898 (pg. 16).

Obsv.: convenhamos que era assim, há 113 anos, quase uma eternidade...