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segunda-feira, 3 de março de 2025

Divagações 203

 

O facto de termos conhecido pessoas da vida real, permite-nos avaliar a autenticidade próxima da reprodução pictórica, feita por desenhadores ou pintores, dessas figuras públicas.
Ao escolher, para encimar o poste anterior sobre Eugénio de Andrade (1923-2005), um desenho do murciano José Antonio Molina Sánchez (1918-2009), fi-lo pela semelhança indiscutível com o Poeta.
Imensamente retratado, Eugénio tem reproduções que são autênticos mamarrachos, ainda que, muitas vezes, sejam de autoria de artistas consagrados. Nem todos os pintores, porém, são bons retratistas...
Da galeria dos retratos, como os melhores pela semelhança, eu distinguiria mais cinco nomes, por ordem alfabética: Angelo de Sousa, Armando Alves, Augusto Gomes, Carlos Carneiro e Dordio Gomes.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Pinacoteca Pessoal 208

 

Por vezes os genes artísticos propagam-se para as gerações seguintes. Ou, ao menos, o sentido estético sucede-se de forma familiar. O pintor amarantino António Carneiro (1872-1930), que teve dois filhos, parece ter transmitido a vocação artística a ambos. Ao mais velho, Cláudio (1895-1963), o lado musical; ao mais novo, Carlos Carneiro (1900-1971), parece tê-lo dotado de gosto e engenho para a pintura. Deste último, ainda lhe cheguei a ver algumas mostras vimaranenses, muito agradáveis.




As paisagens de António Carneiro, muitas delas marinhas, estão marcadas por uma serena suavidade transcendente que, de algum modo, definem um estilo expressionista (?) e parecem querer ganhar a alma de quem as vê.


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Um poema, desta vez completo, de Eugénio de Andrade



Uma boa parte dos últimos poemas escritos por Eugénio de Andrade (1923-2005) aproximam-se da prosa - ele mesmo o refere: Chega ao fim o verão, resta-me agora/ a poesia a caminho da prosa.
Os versos compõem entretanto pequenos instantâneos que se agrupam com hábil mestria, criando conjuntos visuais a que o movimento dá força e  imagem e que, parecendo prosa, não deixa de ser poesia.
Cria-se assim uma atmosfera encantatória percutindo a memória, como aqui neste poema:

No fim do verão

No fim do verão as crianças voltam,
correm no molhe, correm no vento.
Tive medo que não voltassem.
Porque as crianças às vezes não
regressam. Não se sabe porquê
mas também elas
morrem.
Elas, frutos solares:
laranjas romãs
dióspiros. Sumarentas
no outono. A que vive dentro de mim
também voltou; continua a correr
nos meus dias. Sinto os seus olhos
rirem; os seus olhos
pequenos brilhar como pregos
cromados. Sinto os seus dedos
cantar com a chuva.
A criança voltou. Corre no vento.


Eugénio de Andrade, in O Sal da Língua (1995).

domingo, 18 de novembro de 2018

Pinacoteca Pessoal 141


Talvez pouco conhecido a nível nacional, e circunscrito mais a um âmbito regional, Abel Cardozo (1877-1964) foi, porém, um pintor vimaranense estimável e de mérito. Ainda o conheci de vista, pelas ruas de Guimarães, com o seu ar garboso, embora envelhecido pelos anos.
Quando em 1969, cinco anos após a sua morte, a Sociedade Martins Sarmento resolveu celebrar a sua obra e memória, os promotores da exposição comemorativa viram-se em dificuldades para reunir cerca de 60 dos seus quadros, que se encontravam, sobretudo, na posse de famílias de Guimarães. Mas também dispersas pelo Porto e Lisboa, sobretudo.
Na altura da inauguração da mostra, o também pintor Carlos Carneiro (1900-1971) traçou-lhe assim o perfil:
" Logo a sua figura me impressionou muito; um Homem enorme, forte, atlético, com uma barba moira, um olhar luminoso e um sorriso que nos entrava logo no coração. Recordo-o como se fosse hoje, - o seu chapéu negro de abas largas, a sua gravata romântica, à Lavalière, hábito que guardava dos seus tempos de Paris, e a sua pele rosada e fresca como a dos meninos... Uma boca carnuda, rósea, e uma simplicidade extrema, essa rudeza feita de pureza dos homens autênticos! "


Nascido em Guimarães, Abel Cardozo frequentou a Escola de Belas Artes do Porto e tendo acabado o curso, com cerca de 20 anos, rumou a Paris onde veio também a inscrever-se na Escola homónima parisiense. Aí tomou contacto directo com os impressionistas, que não o terão influenciado muito. Ainda esteve no Brasil, regressando depois à sua cidade natal, onde se fixou e exerceu a sua profissão de professor, primeiro na Escola Industrial e, depois, no Liceu. Mais tarde, e como professor, exerceu em Lisboa, também, durante cerca de 16 anos. Aposentado aos 70 anos, voltou a Guimarães, onde viria a falecer, com 87 anos de idade.
A sua obra, embora não seja a de um inovador, revela bons dotes de retratista, de que eu destacaria o retrato a carvão de Martins Sarmento, executado por volta de 1900. Mas também pintou excelentes paisagens como as Dunas, em 1923, fixando um cenário da região de Viana do Castelo.

Na Sociedade Martins Sarmento (Guimarães) poderá encontrar-se e ver-se uma parte significativa do acervo da obra do Pintor.

sábado, 12 de março de 2011

Raul Brandão: alguns livros e capas





Raul Brandão nasceu na Foz (Porto), a 12 de Março de 1867, e faleceu em 1930. É um escritor de minha particular estima, pese embora o tom pesado e lúgubre de algumas das suas páginas. Conhecida é a sua relação de amizade com Columbano que o pintou, pelo menos duas vezes. Numa delas, ainda jovem; outra, já no limiar da velhice, com a esposa, Maria Angelina. Mas as capas dos seus livros atestam o bom gosto estético e demonstram as boas relações que teria tido com outros pintores e desenhadores. Assim, cronologicamente, aqui vai a indicação gráfica dos autores, em relação às capas dos livros de Raul Brandão em imagem:
- "Os Pobres", 3ª edição, 1925, com desenho, na capa, de Stuart Carvalhais.
- "A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore", 1ª edição, 1926, ilustrado por Martinho da Fonseca.
- "A Farsa", 3ª edição, 1926, capa de Stuart Carvalhais.
- "Portugal Pequenino", em colaboração com Maria Angelina Brandão, 1ª edição, 1930, com capa de Alberto de Sousa e desenhos, no interior, de Carlos Carneiro.
- "O Pobre de Pedir" (livro póstumo), 1ª edição, 1931, desenho de capa de autor desconhecido.

domingo, 13 de junho de 2010

Nos 5 anos da morte de Eugénio de Andrade



Conheci Eugénio de Andrade tinha ele pouco mais de 40 anos. Mas mantivera uma generosidade quase juvenil. Era bem disposto, simples, gostava de se ouvir a ler os poemas de outros poetas, e os seus. A amargura viria depois. A partir de "Obscuro Domínio" onde o "chiaroscuro" já predominava. E alguma impaciência, para com a estupidez e cegueira dos outros, que a velhice, na sua usura do tempo, traz consigo. Prefiro acompanhá-lo, de memória, a descer umas ruelas tortuosas do Porto, depois da rua Duque de Palmela, 111, em direcção ao Majestic - que me deu a conhecer - para tomar um café, antes de eu voltar a Guimarães. Ou revê-lo no Café Canas, depois de ter visitado Joel Serrão e antes de seguir para a Travessa das Mónicas, em direcção à casa de Sophia. Conforta-me a certeza que será, sem dúvida, um dos cinco poetas portugueses do séc. XX, que sobreviverá à poeira do Tempo.
Não se deve esquecer, porém, que para lá da sua alta poesia, escrevia também numa prosa luminosa, mediterrânica e clássica. Não serão muitos os seus textos em prosa. E, talvez, alguns nem sequer tenham sido reeditados. Como este, sobre Carlos Carneiro, que aqui fica. O texto de Eugénio de Andrade é de 1967, a propósito de uma exposição que o Pintor fez em Lisboa, decorria Novembro.