Talvez pouco conhecido a nível nacional, e circunscrito mais a um âmbito regional, Abel Cardozo (1877-1964) foi, porém, um pintor vimaranense estimável e de mérito. Ainda o conheci de vista, pelas ruas de Guimarães, com o seu ar garboso, embora envelhecido pelos anos.
Quando em 1969, cinco anos após a sua morte, a Sociedade Martins Sarmento resolveu celebrar a sua obra e memória, os promotores da exposição comemorativa viram-se em dificuldades para reunir cerca de 60 dos seus quadros, que se encontravam, sobretudo, na posse de famílias de Guimarães. Mas também dispersas pelo Porto e Lisboa, sobretudo.
Na altura da inauguração da mostra, o também pintor Carlos Carneiro (1900-1971) traçou-lhe assim o perfil:
" Logo a sua figura me impressionou muito; um Homem enorme, forte, atlético, com uma barba moira, um olhar luminoso e um sorriso que nos entrava logo no coração. Recordo-o como se fosse hoje, - o seu chapéu negro de abas largas, a sua gravata romântica, à Lavalière, hábito que guardava dos seus tempos de Paris, e a sua pele rosada e fresca como a dos meninos... Uma boca carnuda, rósea, e uma simplicidade extrema, essa rudeza feita de pureza dos homens autênticos! "


Nascido em Guimarães, Abel Cardozo frequentou a Escola de Belas Artes do Porto e tendo acabado o curso, com cerca de 20 anos, rumou a Paris onde veio também a inscrever-se na Escola homónima parisiense. Aí tomou contacto directo com os impressionistas, que não o terão influenciado muito. Ainda esteve no Brasil, regressando depois à sua cidade natal, onde se fixou e exerceu a sua profissão de professor, primeiro na Escola Industrial e, depois, no Liceu. Mais tarde, e como professor, exerceu em Lisboa, também, durante cerca de 16 anos. Aposentado aos 70 anos, voltou a Guimarães, onde viria a falecer, com 87 anos de idade.
A sua obra, embora não seja a de um inovador, revela bons dotes de retratista, de que eu destacaria o retrato a carvão de Martins Sarmento, executado por volta de 1900. Mas também pintou excelentes paisagens como as
Dunas, em 1923, fixando um cenário da região de Viana do Castelo.
Na Sociedade Martins Sarmento (Guimarães) poderá encontrar-se e ver-se uma parte significativa do acervo da obra do Pintor.