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sábado, 14 de maio de 2022

Um quadro para um aniversário



Para Margarida Elias, no 14º aniversário do seu blogue Memórias e Imagens, este Columbano, do Museu do Chiado, em música de câmara, com muitos parabéns e os nossos melhores votos de longa vida!

domingo, 4 de agosto de 2019

A casa que foi de Malhoa, a Picoas


Uma filigrana, quase perdida entre algumas torres feias de betão, a casa, hoje, cuja planta foi encomendada pelo pintor José Malhoa (1855-1933) ao arquitecto Norte Júnior (1878-1962), teve o prémio Valmor em 1905. Foi adquirida em 1932, pelo oftalmologista Anastácio Gonçalves (1855-1965) que haveria de ter como seus pacientes da vista Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro, bem como Calouste Gulbenkian que também gostava de ver as preciosidades que o médico tinha em casa. Como o quadrinho de Delacroix que Anastácio Gonçalves tinha pousado sobre a sua secretária, representando um cavalo.


Por testamento a casa, já na posse do Estado português, veio a abrir ao público em 1980. Em anos recentes, foi objecto de remodelação que finalizou este ano de 2019, pelo mês de Abril. E eu, que de há muito a queria ver, fui a meio da semana visitar a Casa-Museu Anastácio Gonçalves, finalmente. Interessava-me sobretudo ver pintura, que o pequeno museu possui ainda significativos acervos de porcelana chinesa, mobiliário e ourivesaria.
Como seria natural vi telas de Malhoa, mas a obra de Silva Porto pareceu-me mais representada. Lá está também o célebre "Convite à Valsa" de Columbano e uma delicada aguarela de D. Carlos,  "Praia de Cascais", que me deixou encantado.


Discreto e mal iluminado, no patamar intermédio das escadas que dão para o primeiro andar, há um grande quadro, "Narciso" que, atribuído timidamente a Courbet, não dão por garantido...
Nota dissonante e incompreensível, uma grande parte das telas, que talvez estejam um pouco mal arrumadas pelas paredes, não tinham qualquer identificação dos pintores, nem dos títulos.
Não sei como se terá havido um família chinesa que, paralelamente, me acompanhou na visita à Casa-Museu Anastácio Gonçalves. Nem se percebe que o IMC e o Ministério da Cultura não corrijam esta incongruência ou desleixo continuado.
Por isso, não lhe posso dar nota máxima...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Do que fui lendo por aí... 23


O que faz de Oliveira Martins (1845-1894) um caso e pessoa singular da geração de 70, é o facto de ter exercido, ao longo da sua vida, algumas funções de direcção e gestão em empresas privadas, apesar de ser um autodidacta. Assim a sua ancoragem na realidade e a sua experiência foi sendo feita de situações concretas e de problemas práticos a resolver, no dia a dia. Isso não prejudicou, antes enriqueceu, a sua obra de intelectual.
Mas, por outro lado, talvez tenha deixado a marca e o rasto, da economia e dos números, em alguns dos livros que foi publicando.
Ando a ler A Inglaterra de Hoje (1893). E, em abono do que disse acima, vou transcrever, desta sua obra, dois pequenos excertos amplamente comprovativos desse facto referido atrás. 
Seguem:

" Ouvia o palpitar gigantesco, o trovão surdo do movimento n'essas vinte mil ruas que tem Londres, e medem tres mil milhas, e dão acesso a novecentas mil casas, e correm por ellas rios de gente em mais de dez mil cabs, fóra um milhar de tramways, fóra dois milhares de omnibus, fóra as estradas ferreas de accesso, e o underground que vae a toda a parte debaixo das ruas. Só cocheiros e conductores, ha um exercito de trinta mil homens. Só na City, amendoa d'este immenso fructo chamado Londres, creada com a substancia do mundo inteiro: só na City, entram por dia, todos os dias, salvo os domingos, noventa mil vehiculos e mais de um milhão de pessoas. E n'um raio de seis ou sete milhas, a partir de Charing Cross, ha dentro do perimetro de Londres mais de quatrocentos kilometros de vias férreas em movimento."
...
" Esta grande  colmêa (Londres) de gente voraz engurgita por anno dois milhões de quarters de trigo; oitocentos mil bois; quatro milhões de carneiros, vitellas e porcos; nove milhões de aves; cento e cincoenta mil toneladas de peixe; duzentos milhões de quarters de cerveja, trinta de vinho, vinte de aguardente, que é o lume com que internamente se aquecem, queimando doze milhões de toneladas de carvão para se aquecerem contra o frio do ar, para se servirem, para se agitarem, transformando o lume em vapor, no seio de um ambiente hostil."


terça-feira, 6 de novembro de 2018

A biblioteca de Raul Brandão


Uma biblioteca define, de algum modo, os gostos e, porventura, a maneira de ser do seu proprietário.
Foi por isso que, com alguma curiosidade, folheei o inventário da biblioteca de Raul Brandão (1867-1930), inserto na Revista de Guimarães (Volume LXXXIX, Jan--Dez. de 1979), biblioteca que, por disposição testamentária do Escritor, teria ficado à guarda da Sociedade Martins Sarmento. Só a partir de 1979,  isso aconteceu, por demora dos herdeiros em cumprirem a sua vontade, atempadamente. Uma vez que a viúva, Maria Angelina Brandão, teria falecido por volta de 1964.
O acervo é de média dimensão e, para lá dos livros portugueses, há bastantes volumes em língua francesa. Mesmo os volumes das obras de William Shakespeare (10), Dickens (8), Stevenson (6) e de Joseph Conrad (4), autores de língua inglesa, são versões em francês. Bem como as obras de Tolstoi (10), e Dostoievsky (7). Dos escritores gauleses representados, o maior número pertence a Balzac, com 25 livros, seguido de Anatole France (11), Michelet, Alexandre Dumas e Moliére, com 9 volumes, cada. Stendhal, com 8 livros e Paul Bourget, com 7.
Mas a minha grande surpresa, deu-se com os escritores portugueses. Do poeta, hoje esquecido, António Correia de Oliveira, havia 17 livros, na biblioteca de Raul Brandão - provavelmente eram amigos. Seguido por 12 livros de João Grave e 7 obras de Camilo. Junqueiro e António Sérgio (5), Pascoaes, Fialho de Almeida e Garrett, representados por 4 livros, cada. Seguia-se Aquilino Ribeiro, com apenas 3 obras. E não faltava, também, o polémico e escandaloso na altura, O Marquez de Bacalhoa, de António de Albuquerque, publicado em 1904.
Em síntese, eram estas  as leituras de Raul Brandão, na sua Casa do Alto, em Nespereira (Guimarães).

domingo, 25 de março de 2018

Uma louvável iniciativa (54)


Não é muito extensa a bibliografia de Raul Brandão (1867-1930). Pouco passará de vinte, o rol de livros publicados, muitos dos quais, hoje, se encontram esgotados. As suas primícias literárias ocorreram em 1890, com o livro de contos Impressões e Paizagens, editado no Porto. Creio que esta obra nunca terá sido reeditada. O primeiro dos contos (A Pimpinella) é dedicado a Eça de Queiroz.



Era das poucas obras brandonianas que eu não tinha, nem nunca tinha lido. Em boa hora, o jornal Público decidiu, recentemente, publicar alguns dos livros de Raul Brandão, em edição fac-similada. Assim adquiri o voluminho (saído a 3/3/18), com gosto e proveito, por preço módico (5,95 euros).
Ainda sem a maturidade maior que viria a consagrar o Escritor, o livrinho juvenil tem ritmo picaresco, pinceladas anti-clericais, como era de tom na época, e lê-se lindamente.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Só para marcar o ponto...


É evidente que Vasco Fernandes (1475-1542) domina a cena, com o seu monumental S. Pedro, em Viseu. E tenho que destacar uma magnífica marinha de mar bravo, pintada por António Carneiro (1872-1930). Mas o acervo de Columbano (1857-1929) não é de desprezar, no Museu Grão Vasco. Do atelier (em imagem) aos estudos para as pinturas do Parlamento, mais o excelente retrato de Ramalho Ortigão. E ainda umas 4 tabuínhas, com paisagens de Bruges (?), que me ficaram na retina...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pinacoteca Pessoal 108


Não tendo a magnitude estética, nem a seriedade clássica de "O Grupo do Leão" (1885), pintado por Columbano, nem sequer se aproximando dos murais de "A Brasileira", esta obra de Rainer Ehrt (1960), muito menos ambiciosa, que fez capa do penúltimo TLS (nº 5885), surpreendeu-me agradavelmente. Do pintor e gráfico, apenas sei que é alemão e que também pratica o cartunismo. O seu traço não terá a graça satírica de David Levine, mas a similitude dos retratados parece-me excelente.
Poderemos, facilmente, identificar os irmãos Mann, Bertolt Brecht, Joseph Roth, Anna Seghers, Walter Benjamin. E, prováveis, o pintor japonês Foujita, Stefan Zweig e Alfred Döblin. Não descortinei os restantes... Rainer Ehrt reuniu-os numa improvável e inexacta sincronia temporal (com data imaginária: 1933). Todos eles expatriados, alguns judeus, que passaram por França, entre os anos 20 e 50 do século XX. Muitos deles fugindo ao nazismo, e alguns que se fixaram em Paris, para sempre.
O título da obra é bilingue, apropriadamente: Café des Exilés ou Der Engel der Geschichte. Seja, em português, Café dos Exilados, de um francês pragmático, ou O Anjo da História, num alemão mais simbólico.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Leilão em Março


Mais um importante leilão de livros (e manuscritos, postais, moedas...) a realizar entre 13 e 18 de Março, no Palácio da Independência, promovido por José Manuel Rodrigues (Livraria Antiquária do Calhariz). De destacar um boa queiroziana e uma camiliana extensa, bem como a obra de Miguel Torga, em primeiras edições. O lote 1048 corresponde à 1ª edição de (Paris, 1892), de António Nobre, com uma estimativa de venda entre 3.000 e 5.000 euros. Não menos interessante, a edição original de O Livro de Cesário Verde (1887), no seu exemplar nº 5 (de 200), que foi pertença de Columbano Bordalo Pinheiro. E com valor de venda previsto (lote 1586) de 2.000/ 4.000 euros.
Muito mais haveria a referir, mas fiquemo-nos por aqui, hoje.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A estética e a galeria Presidencial


Há opções que só dignificam quem escolhe e que evidenciam o bom gosto. Quando Mário Soares escolheu Júlio Pomar para lhe pintar o retrato, demonstrou não só uma vontade de ruptura com o passado, mas também que tinha um apurado sentido estético de modernidade. Jorge Sampaio não era tão ousado - uma espécie de Paulo VI, depois do revolucionário João XXIII - e, por isso, optou por Paula  Rego. Confere. Porque, às vezes, os militares têm gostos insólitos: quem é Francisco Lapa que, além de amigo, pintou o retrato de Spínola, exposto em Belém?
Teófilo Braga e Teixeira Gomes escolheram o melhor: Columbano. Justificando exigência, bom gosto estético e cultura. Confere, também, e da melhor forma.
O actual PR deve andar em bolandas metafísicas, porque já é tempo de escolher quem o retrate. O problema é que Eduardo Malta, que pintou o Gen. Craveiro Lopes, já morreu. Henrique Medina, também. Pode ser que haja, por aí, algum pintor-de-domingo que não se importe de o modelo ser paupérrimo... Em último caso, há sempre um manequim de madeira, da Rua dos Fanqueiros, para simular a post-modernidade. E que, exposto com jeito, causará algum espanto, aos visitantes do Palácio de Belém, no futuro.

domingo, 27 de maio de 2012

De Tunes, para Columbano


Da cidade africana, em 11/12/1926, escrevia Manuel Teixeira Gomes (1862-1941), dizendo:
"...Pela vida fora pouco me tem atormentado a saudade, sentimento que, afinal, não é exclusivo de portugueses mas ao qual o português, mais choramingas que os outros povos, se pega como se fosse a guitarra. O presente sempre me trouxe entretido e enlevado e, se dele desviava o pensamento, era para prever e fantasiar o que seriam os encantos do futuro. Sinto-me morrendo lentamente com esta constante evocação do passado; demasiado me comprazo em olhar para trás: é a impotência de quem nada tem já a criar. No dia em que se me acabar a curiosidade do futuro, (que mais não seja do dia seguinte) e eu não tiver olhos, nem pensamento, senão para o passado, estará consumada a minha verdadeira morte, e não serei mais do que um cadáver ambulante...Como vê não estou hoje nos meus dias cor-de-rosa! ..."

Nota: Manuel Teixeira Gomes nasceu em 27 de Maio de 1862. Exactamente, há 150 anos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Citações XCI : Teixeira de Pascoaes


"O Poeta alcança os píncaros da Vida; e vem depois contar, aos outros homens, a paisagem contemplada."

Teixeira de Pascoaes (1877-1952), in Verbo Escuro.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Singularidades


Penso que é um dos grandes retratos da iconografia portuguesa. Um nativo de Carneiro pintado por um Escorpião. Porque traz a alma ao translúcido do corpo, melhor dizendo, inscreve o visionário no real de um homem, mas projecta também o fantasmático pressentimento da palidez da morte. Passemos ao concreto: conta-se que, um dia, bateu à porta de Columbano um homem de aspecto cansado e exausto, com sapatos grosseiros, agarrado a uma bengala. Calçava meias grossas de lã - parecia um cavador. E disse ao Pintor: "- Falaram-me que gostava de fazer o meu retrato; aqui estou!"
Era Antero de Quental. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Divagações 15 (com algum cinismo e aduares)


Vai voltar a melancolia à portuguesa, essa "apagada e vil tristeza" de que falava Camões. E que vem sempre de cima: ou da ausência do sol, ou de quem nos governa. Hoje, ainda a luz é intensa, embora o azul vá desmaiando, pouco a pouco.
De uma forma visual e epidérmica, o sol da tarde ainda inebria e nos ajuda num optimismo fátuo, infundado, superficial que quase nos faz esquecer o futuro, e tudo aquilo que aí vem. Os escuros cerrados de Columbano, a negrura intensa de Raul Brandão, a loucura controlada de Herberto Helder. A cegante claridade de Teixeira Gomes apenas vem para comprovar a regra, por excepção.
Os "indignados" portugueses terão hoje a sua última oportunidade de serem notícia e aparecerem na Tv. Poderão ainda montar as suas tendas frágeis, o seu aduar, na praça mediática, e dizer uma última palavra, antes de voltar a chover. A maioria, creio, até Março, voltará à comodidade e conforto da casa paterna (ou materna), aos jogos de computador e ao "facebook", hibernando até o sol reaparecer. Irão crescendo, é certo, e talvez descubram objectivos mais concretos, solidários e pragmáticos. As revoluções, normalmente, fazem-se pela Primavera, ou até ao princípio do Outono. O Inverno não é estação propícia.

sábado, 12 de março de 2011

Raul Brandão: alguns livros e capas





Raul Brandão nasceu na Foz (Porto), a 12 de Março de 1867, e faleceu em 1930. É um escritor de minha particular estima, pese embora o tom pesado e lúgubre de algumas das suas páginas. Conhecida é a sua relação de amizade com Columbano que o pintou, pelo menos duas vezes. Numa delas, ainda jovem; outra, já no limiar da velhice, com a esposa, Maria Angelina. Mas as capas dos seus livros atestam o bom gosto estético e demonstram as boas relações que teria tido com outros pintores e desenhadores. Assim, cronologicamente, aqui vai a indicação gráfica dos autores, em relação às capas dos livros de Raul Brandão em imagem:
- "Os Pobres", 3ª edição, 1925, com desenho, na capa, de Stuart Carvalhais.
- "A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore", 1ª edição, 1926, ilustrado por Martinho da Fonseca.
- "A Farsa", 3ª edição, 1926, capa de Stuart Carvalhais.
- "Portugal Pequenino", em colaboração com Maria Angelina Brandão, 1ª edição, 1930, com capa de Alberto de Sousa e desenhos, no interior, de Carlos Carneiro.
- "O Pobre de Pedir" (livro póstumo), 1ª edição, 1931, desenho de capa de autor desconhecido.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Raul Brandão, Guimarães e S. Nicolau



"...Uma nuvem desce da serra: arrastam-se os rolos pelas encostas pedregosas; depois as baforadas espessas juntam-se e abafam de todo a villa. E noite, cerração compacta, nevoa e granito, formam um todo homogeneo: unem-se para construirem um immenso e esfarrapado burgo de pedra e sonho. Pastas sobre pastas de nuvens algidas, que a noite transforma em crepes, amontôam-se na escuridão. O granito revê água. E sob a chuva ininterrupta, sobre as cordas incessantes, a villa, envôlta na treva glacial, parece toda lavada em lagrimas...
(...)
A vida da provincia é assim - suffoca: pesa sobre uma alma como um pedregulho: abafa e esmaga. Para se resistir é necessario viver-se peito a peito com um sonho disforme. A banalidade desgasta, a uniformidade secca. Os outros mandam mais em nós mesmos, do que nós proprios mandamos. Afeiçôam-nos. As arestas alheias desbastam-nos. As palavras são quasi as mesmas, os sêres identicos. E depois ha a necessidade de fingir. Todos espreitam com rancor á espera d'um acontecimento. A provincia ama o escandalo.
(...)
A turba avança, a praça transborda: ha milhares de boccas que gritam, e os tambores tomam-se de furia n'uma ensurdecedora descarga. Aquelle mar humano oscilla, amontôa-se, cresce, clama e dispersa-se. Quando os archotes se apagam, fica só a noite e o ruido; aviva-se o lume e voltam a entrever-se as faces, as boccarras abertas, os risos estupidos, rasgados d'orelha a orelha.
- S. Nicolau! S. Nicolau! ..."
Raul Brandão, in A Farça (1903), pgs.5, 14-15 e 50.

Os excertos, acima, de Raul Brandão, que faleceu há, precisamente, 80 anos, têm, com certeza, como cenário a cidade de Guimarães, embora lhe dê o nome de "villa". Aliás, aquando da escrita de A Farça (Outubro 1902-Maio 1903), Guimarães estava a fazer 50 anos da sua elevação a cidade, por D. Maria II, em 1853.
Raul Brandão foi para Guimarães, para o Regimento de Infantaria 20 (na altura sedeado no Paço dos Duques de Bragança), em 1896. Em 1897 casou com a vimaranense Maria Angelina e, pouco depois, vai habitar a Casa do Alto, em Nespereira, muito próximo de Guimarães. Reforma-se da vida militar, em 1912, e a partir daí é que reinicia, mais intensamente, a sua obra literária, até vir a morrer, a 5 de Dezembro de 1930.
Este granito e chuva, o cinzento e o negro, esta serra (que é, de certeza, a Penha), o ambiente fechado e de coscuvilhice da "villa" e até as Festas Nicolinas traçam um esboço bem nítido da cidade que o acolheu, e onde deverá ter assistido, muitas vezes, às celebrações que os estudantes vimaranenses faziam pelo S. Nicolau, com os seus bombos, tambores e caixas troando no ar molhado de Dezembro.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mercearias Finas 8 : em louvor do vinho verde




Alberto Sampaio (1841-1908) foi um vimaranense ilustre. Para lá da sua obra maior, "As Vilas do Norte de Portugal e as Póvoas Marítimas", foi o principal dinamizador da importante Exposição Industrial de Guimarães de 1884. Estudou em Coimbra, onde se formou em Direito, e foi amigo de Antero de Quental (1842-1891). Foi deputado, mas por pouco tempo. Fervoroso agricultor, sobretudo muito dedicado à vitivinicultura, produzia, na sua Quinta de Boamense (próximo de Famalicão), um vinho verde, ao que dizem, de grande qualidade e sabor. Em abono disto, reproduzimos excertos de 3 cartas de Antero de Quental para Alberto Sampaio, que referem o vinho verde de Boamense.

"Do teu vinho, que já tenho libado, dir-te-ei maravilhas. É em tudo digno da reputação que no ano passado alcançara e que fica agora inabalável. Este teu produto prova uma coisa, e é, que se os lavradores do Minho, em vez de estragarem a uva fazendo uma zurrapa de bárbaros, fizessem daquilo, podiam criar um tipo de vinho para ser muito nomeado e dar-lhes bastante interesse." (carta sem data)
"Já libei os teus néctares minhotos. Como originalmente, ponho o clarete acima de tudo: criaste nele um tipo. Ao seco, acho-o seco de mais, e no género fino, prefiro-lhe o bastardo. O outro, que não traz nome, também me agrada. Em conclusão: como tipo, ponho o clarete em 1º lugar, e ponho em último o seco - que ainda assim se bebe com gosto. De tudo vou libando e degustando, mas não segundo o teu programa, que parecia feito para a mesa dum epicurista! Ora a minha é monacal." (carta de 1 de Abril de 1880)
"O teu vinho vem a ponto, pois aqui não há coisa bebível. Foste grande como Noé, o pai da vinha: 10 dúzias de garrafas! Fico esperando por elas, talvez ainda hoje, pois dizias na tua: esta semana." (carta sem data).
P. S. : para MR, e para JAD por diferentes motivos, mas uma mesma razão - Amizade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Memória 26 : Teixeira Gomes



Passam hoje 150 anos sobre o nascimento de Manuel Teixeira Gomes (1860-1941). Comerciante, diplomata, político, é como escritor que é mais conhecido. Foi embaixador em Londres, no início da República, e num período particularmente difícil das relações entre os dois países. Presidente da República de 1923 a 1925, demitiu-se do cargo ("A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório."), tendo, pouco tempo depois, partido para um exílio voluntário em Bougie (Argélia) onde permaneceu até à morte. Escritor fragmentário e disperso, a sua escrita é portadora de uma extrema elegância e de uma clara luminosidade que denuncia as suas origens marcadamente mediterrânicas.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Raul Brandão






Raul Brandão (1867-1930) nasceu a 12 de Março, na Foz do Douro, mas está intimamente ligado a Guimarães: casou com uma vimaranense da Rua Val de Donas e, a partir de cerca de 1897, mandou construir em Nespereira (próximo da cidade-berço) a denominada Casa do Alto onde passaram a viver. Maria Angelina Brandão - que ainda tive o gosto de conhecer em 1962 - transcreve, num livro de memórias, "Um Coração e uma Vontade" editado em 1959, o retrato do Escritor, enquanto jovem. Fá-lo, através da carta de um amigo (Duarte do Amaral Pinto de Freitas), pelas seguintes palavras: "...um belo moço, muito alto, louro, de olhos azúis, falas mansas, bastante nervoso, um tanto tímido e pouco comunicativo."

Vimaranense por adopção e afecto, Raul Brandão reflecte, quase sempre, nos seus livros de ficção, e em pano de fundo, esses invernos minhotos rigorosos, lúgubres e sombrios onde o cinzento nublado se cruza com o granito lavado pela chuva monótona e insistente. "Húmus" é disso exemplo, até à saciedade. Faz precisamente o contraponto com o homem do Sul que foi Teixeira Gomes, seu contemporâneo, em cujas obras (e títulos: "Inventário de Junho", "Agosto Azul") a claridade é dominante.

Relembro, aqui, Raul Brandão neste dia que era dos seus anos pelo gosto que me deu ler "Os Pescadores", "As Ilhas desconhecidas" ou essa obra notável, de amor ao seu país, intitulada "Portugal Pequenino" que escreveu em conjunto com sua mulher, Maria Angelina Brandão.