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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Divagações 123



Li, há dias, em Le Monde, numa crónica (Terre brûlée) de Éric Chevillard, que, desde que o homem apareceu na Terra, não houve mais do que três dias seguidos de paz, no planeta. Fiquei surpreendido.
Se se consultar na internet, ou em qualquer livro dedicado ao tema, os desenvolvimentos de um batalha célebre (Trafalgar ou Borodino, por exemplo), na sua forma esquemática, ficar-se-á com uma ideia arrumada e geométrica da posição e progressão das armadas ou exércitos, gradual e ordenada nas movimentações - mas errada ou, pelo menos, não totalmente rigorosa.
Os posicionamentos e avanços (lentos, ao que parece) das tropas de Ney, em Waterloo (1815), ou a demora na ordem de ataque, retardada por D. Sebastião, em Alcácer Quibir (1578), a que se atribui uma das causas do desastre, não terão sido, por si só, razões fatais. Debaixo de fogo, as reacções humanas são, com frequência, desordenadas, irregulares e caóticas, mesmo que superiormente comandadas.




Stendhal é um bom exemplo, com A Cartuxa de Parma, da forma parcelar e dispersa dos acontecimentos da batalha de Waterloo. Como Tolstoi, em Guerra e Paz, na descrição das guerras napoleónicas, em solo russo. Um conflito bélico é feito, na sua realidade objectiva, de muitas sensações e reacções mistas: instinto de sobrevivência, coragem, mas também cobardia, numa desordem de sentimentos vários.
Por isso, a guerra é um erro em que todos perdem, embora alguns pareçam ganhar. Como a vida, aliás. Que Shakespeare definiu, magistralmente, no seu Macbeth, deste modo metafórico: It is tale/ told by an idiot, full of sound and fury,/ and signifying nothing.