Mostrar mensagens com a etiqueta comfort food. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta comfort food. Mostrar todas as mensagens

sábado, 13 de dezembro de 2014

Chilli com carne para combater dias cinzentos

Dias cinzentos convidam a refeições quentes. Daquelas que aquecem não só o corpo mas também o coração e a alma. Tudo isto estaria certo se chilli não fosse por excelência um prato mexicano de clima quente. Não me lembro nunca de ter comido chilli em dias de verão e de calor. Nem mesmo no México. Uma das vezes estava frio. Fazia Londres e o chilli foi comido num pub depois de uma manhã de inverno rigoroso. Quem sabe por isso, chilli é calor e aconchego, o antídoto perfeito para o cinzento do lado de lá da porta. 

Chilli com carne

Ingredientes
(serve 4/5)
1 cebola média
1 pimento pequeno
1 lata de feijão vermelho escorrido
500 g de carne de vaca picada
5 tomates chucha bem maduros
2 dentes de alho grandes
1 1/2 colher de chá de cominhos moídos
1 1/2 colher de chá de paprika
1 colher de chá de malagueta picada
1 colher de chá de açúcar
2 colheres de sopa de pasta de tomate
300 ml de água
1 cubo de carne
Sal e pimenta preta

Confecção
Cortar o pimento em tiras. Tirar a pele e as sementes ao tomate e cortar em pedacinhos muito pequenos. Picar o alho. Picar a cebola.
Aquecer uma frigideira, deitar um fio de azeite e juntar a cebola picada. Quando a cebola estiver translúcida, Deixar cozinhar cinco minutos e deitar o alho e o pimento. Adicionar a paprika, os cominhos e a malagueta e deixar cozinhar mais uns cinco minutos, mexendo de vez em quando. Juntar a carne, temperar com sal e pimenta preta e aumentar o lume de forma a que a carne frite e não guise. Com um utensílio separar a carne para que frite por igual. Juntar depois o tomate em pedacinhos e mexer. Quando começar a fervilhar adicionar a pasta de tomate e o açúcar e 300 ml de caldo de carne. Cozinhar 20 minutos em lume muito brando. Juntar então o feijão escorrido. Deitar um pouco de água se necessário. Rectificar o tempero e ferver mais 15 minutos. Servir com arroz branco e crème fraiche.


sábado, 15 de novembro de 2014

Beef bourguignon à la Ramsay

Gordon Ramsay é um dos chefs preferidos cá de casa, já o terei dito algures num post deste blogue.  Apesar de prever que me pegaria com ele caso me falasse como habitualmente fala com os concorrentes, acho-lhe piada e gosto da imagem, sabemos que é imagem criada, de homem dinâmico, elegante e talentoso. O que me faz gostar mesmo dele, contudo, é o talento e as receitas. São de confecção relativamente fácil como pormenores que fazem toda a diferença. De todas as receitas que experimentei não houve uma única que não fosse deliciosa. Nesta quinzena o convidado do Quinze dias com é o Gordon Ramsay. Lançado o desafio ontem à noite e com cogumelos a findar o prazo no frigorífico só precisava de procurar. Não foi preciso muito. Com o outono instalado nada como um delicioso guisado. Apresento-vos Beef Bourguignon.

Beef bourguignon

Ingredientes (serve 4)
500 g de chambão
150 g de barriga de porco fumada
200 g de cogumelos marron
100 g de cebolinhas
1 colher de sopa de pasta de tomate
2 dentes de alho cortados
1 bouquet garni
Margarina com alho (1 noz)
7 dl de vinho tinto
Sal
Pimenta preta acabada de moer

Confecção
Temperar a carne com um pouco de sal e pimenta preta acabada de moer. Numa frigideira larga, deitar a margarina, e fritar a carne entre 3 a 5 minutos. Retirar e deixar escorrer num passador. Na mesma frigideira, deitar a barriga de porco cortada em pedaços pequenos, as cebolinhas, o alho e os cogumelos. Depois de frigir um pouco, adicionar a pasta de tomate, envolver tudo, e cozinhar durante uns minutos. Juntar a carne e os sucos e envolver. Adicionar o vinho tinto e deixar levantar fervura. Transferir para um recipiente refractário, juntar o bouquet garni, cobrir com uma folha de alumínio e levar ao forno pré-aquecido cerca de 3 horas.


Não fiz grandes alterações em relação à receita original. Servi com esmagada de batata doce com raspa de laranja. Recomendo vivamente esta receita para estes dias de Outono, 'comfort food' no seu melhor: deliciosa, reconfortante, cheia de sabor. Gordon Ramsay não brinca em serviço.


E com esta receita deliciosa estreio-me no Quinze dias com... Gordon Ramsay. 

sábado, 29 de março de 2014

Pudim de brioche com compota de laranja e whisky no aconchego de uma casa inglesa

Os portugueses têm uma mania que muito me irrita: acham que vivem num país tropical. Eu suporto o frio, mas só o suporto na rua e no Inverno. Aceito-o como uma inevitabilidade. Visto-me a preceito e posso até ir rua fora, aconteceu-me bastante numa semana a norte de Inglaterra, recolho-me num chá quente e aceito a condição. O que não suporto mesmo é frio em casa. Odeio. Se me querem ver absolutamente intratável é dar-me uma casa fria, onde as pessoas andam encolhidas com frio. Excluo aqui a condição presente de depauperados em que teremos de decidir que contas pagar e estabelecer prioridades. Infelizmente. Mesmo antes desta miséria a todos os níveis que nos impuseram esta particularidade prevalecia. Não é uma prioridade estar quente em casa, ao que parece o português gosta da sensação cortante de andar de mantas em casa para ultrapassar o frio. A construção das casas não ajuda e a dimensão de palácio de muitas outras também não. Outra vez é uma questão de prioridades. 
Uma das coisas que gosto no norte da Europa é a tendência para as casas serem mais pequenas e muito bem aquecidas. O conforto que se sente quando se entra numa casa inglesa, e obviamente haverá excepções, não tem igual. E depois é o acolhimento, pormenores de flores nas janelas, bibelots que provocariam o vómito aos amantes de Mies van der Grohe, um bocejo aquele despojamento de formas e austeridade de linhas, um universo interior em contraste com a uniformidade da arquitectura exterior. E disso também gosto: viver dentro em vez de mostrar para fora.
Numa destas minhas estadias em Inglaterra apanhei naturalmente alguns dias de invernia. Estava muito frio nesse dia. Ia voando com o vento, os olhos lacrimejaram e a chuva estava gélida. Meti a chave à porta e o contraste não podia ser maior. Tudo me pareceu perfeito naquele momento. Tão perfeito que dei por mim a pensar que a felicidade é um momento assim e uma casa daquelas. Nesse dia à noite houve bread and butter pudding com um twist. Em vez de pão a dona da casa utilizou pannetone, juntou-lhe umas pepitas de chocolate e tâmaras em pedacinhos. Que forma tão boa de complementar o conforto e esquecer a invernia do dia. Disso sabem os ingleses. 

Pudim de brioche com compota de laranja e whisky 

Ingredientes 
1 brioche cortado em fatias (não usei todo)
Whisky aromatizado com baunilha e especiarias (usei William Lawson’s Super Spiced)
Compota de laranja
Açúcar para polvilhar

Para o ‘custard’
400 ml de leite
200 ml de natas espessas
3 colheres de sopa de açúcar
5 ovos
Preparação
Pré-aquecer o forno a a 200º. Cortar as côdeas do brioche e partir as fatias ao meio. Untar com margarina uma forma rectangular refractária. Barrar as fatias com a compota de laranja e colocar na travessa de forma sobreposta. Regar com o whisky a gosto e fazer outra camada.
Com uma vara de arames bater os ovos com o açúcar, juntar as natas e o leite. Verter sobre o pão e deixar repousar 15 minutos. 
Polvilhar com açúcar e levar ao forno pré-aquecido cerca de 40 minutos. Retirar do forno e servir morno.

Nota:
  • Originalmente o bread and butter pudding é, como o nome indica, pudim de pão com manteiga e uma instituição das mais simples e despretensiosas sobremesas britânicas. Optei pelo brioche por influência do que comi.
  • Uma vez que o brioche já tem manteiga optei por não barrar com mais manteiga.
  • Servi com uma bola de gelado de baunilha para apaziguar a intensidade de sabores.
  • Mais uma vez uma sobremesa para quem gosta de sabores fortes. O whisky aromatizado casa muito bem com a compota de laranja. Para uma versão menos intensa, omitir o whisky e substituir a compota de laranja por manteiga. 


sábado, 15 de março de 2014

Da utilidade dos livros numas pernas de pato assadas com legumes

Tenho a mania dos livros e tenho a mania de os levar comigo para a cama. Não é a primeira vez que adormeço com um em cima dela e a minha mesa de cabeceira é uma zona alargada que se estende ao tapete do meu lado da cama. Ocasionalmente faço uma arrumação e devolvo os livros às estantes, contudo em momento algum tenho apenas um livro e leio apenas um livro. Esta mania que me acompanha desde sempre estende-se aos livros de cozinha neste momento. Se os livros forem novos ficarão algum tempo ao pé de mim até que decida que já me situo e que encontrarei facilmente o que procuro ou o que me chamou à atenção.
Quando nos resolvemos aventurar no peito de pato e depois de várias voltas chegámos à conclusão de que mais valia comprar um pato inteiro e tirar-lhe os peitos do que comprar os peitos do pato, de preço proibitivo. O que se faria com as restantes partes não seria problema. Arroz de pato seria o mais óbvio e imediato. Já o fiz dezenas de vezes, corre sempre bem mas lembrei-me de que exactamente as pernas de pato eram um dos prato que tinha no Irish Family Food da Rachel Allen. De alguma coisa há-de valer a pilha de livros no meu quarto e esta mania de não viver sem eles e lhes meter o nariz. Nunca li livro que me fizesse mal. A descoberta desta receita, tão simples afinal, está aí para o comprovar. A vida sem livros seria muito triste. Sem comida saborosa idem. 


Ingredientes
2 pernas de pato inteiras com a pele
2 asas
Batatas cortadas em cubos médios (4 ou 6 dependendo do tamanho)
Cebolas (2 grandes) cortadas em quartos
Cenouras cortadas em pedaços grandes
Alecrim (2 ramos)
Flor de sal 
Pimenta preta acabada de moer

Preparação
Pré-aquecer o forno a 200º.
Massajar o pato com um pouco de flor de sal. Descascar e cortar os legumes. Reservar. 
Colocar as asas e as pernas do pato com a pele virada para baixo numa caçarola larga. Como também tinha o pescoço, foi igualmente para a caçarola. Deixar que a gordura derreta. Virar do outro lado. Voltar a virar do lado da pele e aumentar o lume para a pele começar a tostar. Retirar o pato da caçarola e envolver os legumes na gordura do pato. Temperar com flor de sal e pimenta preta acabada de moer. Colocar os ramos de alecrim e o pato por cima. Salpicar com alecrim. Levar ao forno tapado com uma folha de alumínio cerca de uma hora. Findo esse tempo, retirar a folha de alumínio e deixar tostar. Servir bem quente, bem regado e em excelente companhia. 


Nota: a qualidade dos legumes é fundamental para o sucesso deste assado. Usei todos biológicos, comprados directamente ao produtor. Privilégios de morar na aldeia.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Peito de pato com pimenta preta e redução de vinho tinto e o prazer do Inverno

Vesti saia. Saia justa, sapatos altos abotinados, barriga para dentro e peito para fora e abalancei-me sexta-feira fora, decidida a matar a semana e a afugentar esta invernia que nos tem assolado. É tempo dela, dir-me-ão. É, é tempo dela, mas eu não sou deste tempo. Quando os alunos me afagaram o ego perante a vestimenta aprumada, desabafei, ‘Já não posso, meninos, é para afugentar o Inverno. Não gosto de Inverno. Estou cansada da roupa de Inverno. Sou animal de Verão’. Riram-se muito. ‘Animal de Verão, setora? Isso é muito selvagem’. A juba que tenho de certeza que ajudou a tão certeira conclusão.
Ser animal de Verão é um facto. Nasci em tempo de calor. Devia estar sol, a minha mãe diz-me que estava calor, e eu terei guardado na memória que o dia que me embalou num colo quente e ensolarado numa tarde de Junho. Terei porventura assumido que assim seria a vida: um duradouro e imenso Verão feliz de noites quentes e dias longos. Há dias desabafei também que a única coisa boa no Inverno era a lareira e estar em casa. Esqueci-me do outro vértice do triângulo: cozinhar. Foi hoje. Diz que havia muito mau tempo na rua. Viriam vagas desmedidas. O fim do mundo mascarado de Inverno. Aqui não se sentiu nada. Conversas e descontracção entre quatro paredes, um copo de vinho partilhado, o aconchego, o conforto, e a partilha de um prato especial, cozinhar para quem se ama. O Inverno também pode ser bom e apaziguar-nos com a vida. Hoje assim foi. Tanto que quase me reconciliei. A vida não pára de nos surpreender felizmente também pela positiva.

Peito de pato com pimenta preta e redução de vinho tinto

Ingredientes
2 peitos de pato com a pele
Flor de sal
Pimenta preta acabada de moer (uma quantidade generosa)
Tomilho fresco (a gosto)

Para a redução
Vinho tinto (proporção 2/3)
Vinho do Porto (proporção 1/3)
2 dentes de alho esmagados
Tomilho fresco
Sal

Preparação
Cortar a pele dos peitos do pato na diagonal com cortes superficiais, formando losangos. Fazer uma mistura com a flor do sal, a pimenta preta e o tomilho. Massajar os peitos do pato com esta mistura e reservar.
Numa frigideira fria e em lume brando colocar os peitos de pato com a pele virada para baixo uns quinze minutos deixando que a gordura se derreta. Virar e deixar cozinhar cerca de cinco minutos. Virar outra vez, ficando com a pele virada para baixo, e aumentar o lume até a pele ficar crocante. Retirar do lume e levar ao forno pré-aquecido cerca de dez minutos. Os tempos de confecção vão depender do tamanho dos peitos de pato. Caso sejam pequenos estes tempos devem ser reduzidos para o pato não ficar demasiado seco.
Para a redução, levar ao lume os vinhos com o alho e o tomilho até reduzir. Rectificar o tempero. Adicionar um pouco de sal se for necessário ou em alternativa uma quantidade mínima de caldo de carne.

Retirar os peitos de pato do forno, cortar na diagonal, regar com a redução e servir bem quente. Acompanhei com batatas salteadas na gordura do pato e espinafres salteados também com alho e vinagre para finalizar. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Comfort food à portuguesa num arroz de morcela com alho francês

Abençoado seja quem inventou a comfort food.
Abro a portada do quarto. Tarde. Preciso de mais sono outra vez. Sono que me recupere. Lá fora a manhã vai alta e há um manto húmido e cinzento que cobre o horizonte. Da janela da cozinha que me acompanha sempre enquanto cozinho avisto uma cortina cinzenta translúcida de onde sobressai apenas o verde da relva. Foi-se a tarja de mar e adivinha-se um dia em que nada mais se deseja se não casa. Casa que nos acolha, que nos ame, casa em torno da mesa, uma refeição quente e reconfortante das que aquecem a alma. Bendito seja quem inventou a comfort food e quem a terá inventado terá passado longos, cinzentos e frios Domingos. Bendito seja.

Arroz de morcela e alho francês

Ingredientes
Arroz (usei Basmati)
Uma morcela de Arganil
Uma lata pequena de feijão branco cozido escorrido
Alho francês (um grande)
Coentros frescos
Azeite
Sal
Pimenta preta

Preparação

Pré-aquecer o forno a 200º. Cortar o alho francês em rodelas finas. Cortar a morcela em pedaços. Retirei todos os bocados de gordura que fui encontrando. Aquecer um recipiente largo, colocar um fio de azeite e o alho francês em rodelas. Deixar murchar e adicionar a morcela em pedaços. Frigir sem mexer muito até que  a morcela fique mais firme. Juntar o arroz e mexer até ficar translúcido. Deitar o dobro da medida do arroz em água quente e envolver. Quando a água tiver sumido um pouco, adicionar o feijão branco escorrido. Temperar com sal e pimenta preta acabada de moer. Quando o arroz estiver meio cozinhado, rectificar os temperos e levar ao forno. Colocar uma folha de alumínio até estar pronto. Retirar a folha e deixar secar o arroz. Retirar do forno, polvilhar com os coentros frescos picados e servir bem quente.

Esta receita foi adaptada de uma revista de uma grande superfície comercial. É óptima para dias de Inverno e péssima para uma alimentação saudável, mas, tal como no resto da vida, o equilíbrio e a variedade são fundamentais. Nem sempre nem nunca.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Várias maneiras de escrever um post num Hotpot de vinho tinto e cogumelos

Há sempre muitas maneiras de escrever um post, não só aqui nesta espécie de diário espaçado das minhas aventuras na cozinha mas em qualquer tipo de blogues. Desta feita não me conseguindo decidir por uma única, há sempre várias perspectivas sobre um mesmo acontecimento ou facto, conto-vos todas as que me levaram a experimentar esta receita:
  •  Recebi de presente de Natal dois livros de culinária e queria muito dar-lhes uso, fazendo uma receita de algum deles e homenagear quem mos ofereceu.
  • Apetecia-me muito experimentar uma receita diferente.
  •  Louvo quem inventou a Comfort food e o conceito de Comfort food.
  • Numa segunda-feira de Verão irlandês em que chovia e fazia frio e vento, depois de uma manhã de trabalho intelectual intenso e a caminho da estação para irmos a Cobh, entrámos num pub e comi o Irish Stew que não sendo o mais saboroso que já provei foi de certeza a confirmação do que é a Comfort food.
  • O Natal foi muito generoso comigo, quem me ama foi muito generoso mesmo. Depois de ter andado a namorar uns pratos, foram-me oferecidos e estava doida para os usar pela primeira vez e a primeira vez teria de ser também com uma receita feita pela primeira vez. Manias. Muitas.
  • Era Domingo e Domingo é dia de degustação aqui por casa, dia de calma e comunhão, de provar, petiscar, amar.
  • Precisava de mais razões?

E depois de tanto palavreado, apresento-vos a minha versão do Hot Pot, assim uma espécie de guisado, que retirei do livro Irish Family Food da Rachel Allen. Não há maneira de deixar de gostar da Irlanda e dos irlandeses. Experimentem enquanto dura o Inverno. 

Hot pot de vinho tinto e cogumelos

Ingredientes
500 g de carne de vaca para guisar cortada em cubos (usei carne dos Açores)
200g de cogumelos brancos, inteiros em metades ou em quartos dependendo do tamanho
1 cebola média
2 dentes de alho
Batatas cortadas em rodelas médias
2 dl de vinho tinto (usei um tinto de Borba encorpado)
Whisky (apenas o suficiente para regar)
Molho Worcestershire (1 colher de sopa)
Azeite
Tomilho fresco a gosto
Flor de sal
Sal e pimenta

Preparação
Pré-aquecer o forno a 150º. 
Deitar um fio de azeite numa frigideira e saltear os cogumelos até ficarem levemente dourados. Temperar com sal e pimenta preta. Retirar para um outro recipiente e reservar.
Na mesma frigideira, juntar a cebola às rodelas finas e o alho. Se não houver azeite suficiente deitar mais um pouco. Quando começarem a caramelizar, adicionar a carne, temperar com sal e pimenta e selá-la levemente. Juntar o vinho tinto, o tomilho, e deixar levantar fervura. Transferir para um recipiente refractário, deitar o molho Worcestershire e levar ao forno tapado cerca de hora e meia.
Findo esse tempo, adicionar os cogumelos, rectificar o tempero e regar com um pouco de whisky. Aumentar a temperatura para 220 graus e levar ao forno mais um quarto de hora. Retirar do forno e adicionar as batatas cortadas em rodelas em camadas. Temperar cada camada com flor de sal e tomilho. Levar ao forno sem tampa cerca de 30 minutos até as batatas estarem cozidas e começarem a dourar. Não tem bom aspecto?




domingo, 16 de dezembro de 2012

Recordações da Ilha Esmeralda num Beef and Guinness Stew

Diz Bill Bryson num dos seus livros a propósito da sua primeira vinda à Europa que nunca tinha visto um pão inteiro, uma passadeira ou alguém a usar uma boina e esperar que o levassem a sério. Escreve igualmente sobre a vista do avião, e esse texto não consigo encontrar, quando sobrevoou o velho continente. Essa mesma passagem regressou-me ao ouvido ao ver a Irlanda pela segunda vez lá em baixo. Era Julho tardio, ainda trazia comigo o sono das duas horas e meia de avião, uma noite mal dormida e um voo madrugador quando comecei a avistar o imenso prado verde, intensamente verde que se estendia como um enorme tapete de musgo lá longe, lá em baixo, recortado em retalhos de intensidade diferente.  Chegar a Portugal não é assim. Sobrevoar Lisboa é uma das experiências mais avassaladoras que conheço, mas a camada de musgo infindável e a aparente arrumação da paisagem aos nossos pés faz-nos sentir que aquela é uma outra Europa ou que será a mesma e talvez por isso este território seja tão curioso nas diferenças que nos unem ou separam.


Quando a porta do avião se abriu havia um aroma característico: puro, fresco, um misto de relva acabada de cortar, terra húmida e a animais, como se tivesse entrado afinal numa enorme quinta ou aterrado no meio dela. Nada faria sentir que o meu destino era afinal uma cidade, a segunda maior da Irlanda, a terceira mais populosa, situada em pleno rebel county. Cork seria então. Cork seria a minha casa nas semanas seguintes e ficaria comigo mais do que o tempo permite, de resto, como toda a Irlanda.

Cork.

English Market, Cork.
A cidade é pequena, o centro fica quase delimitado pelas margens do rio Lee e não tem monumentos dos que qualquer turista almeja para se fixar em fotografias. São dias de calmaria como muita gente nas ruas, muitos pubs, e um ambiente tão característico que dificilmente se deixará explicar nestas linhas breves. Há que senti-lo. Acredito cada vez mais que há que dar tempo às cidades, tal como damos às pessoas. Para que se revelem, se deixem mostrar compassadamente, sem pressas. São as voltas que se dão St. Patrick´s street, Panna para os Corkonians, acima e abaixo, as incursões no Huguenot Quarter, são os passeios ao English Market, um regalo para foodies e curiosos, e a aproximação que não se consegue ter em dois dias de correria a que a nossa condição de turista nos condena, é o rio Lee que nos cumprimenta, o Loch lá no alto que mais parece que estamos no campo, os inúmeros pubs, acolhedores como só eles, um espelho fiel da alma irlandesa, e os Corkonians, gente de fibra que se revoltou contra a supremacia inglesa sempre de alma guerreira, nostálgica e sofrida pelas partidas que o destino lhes tem pregado. Mas a Irlanda é mais Cork e mais que Dublin, a capital da qual não falarei aqui. É um imenso património cultural, rico e intenso, de gente lutadora que nunca se deixou derrotar apesar de a História lhe ter sido muitas vezes madrasta. É campo e cidade, é tristeza e alegria, é frio e chuva, é tudo menos sensaborona e indiferente, uma identidade forte e uma alma com quem partilhamos uma certa nostalgia e a revolta dos pequenos e humilhados nos tempos presentes. E depois é provar, comer, degustar: sea food chowder, salmão bem fresco, ostras tão grandes como nunca as tinha visto, um bolo de cenoura que ainda hoje me salta aos olhos e o imprescindível guisado, Irish ou Beef and Guinness Stew, acompanhado de uma Rebel ou Smithwicks, o prato que terei comido num almoço de sexta-feira quando o inexplicável frio de Agosto me fazia lembrar os Invernos lusos.  As saudades que tenho da Irlanda.
Waterstones, Cork.

Dingle
Dingle Peninsula






Beef and Guinness Stew

Ingredientes
500 g de carne de vaca cortada em cubos
2 dl de Guinness
4 dl de caldo de carne
Batatas
Cenouras
Cebolas
Sal
Pimenta preta
Farinha
Tomilho
1 folha de louro
Óleo (usei azeite)

Preparação
Pré-aquecer o forno. Temperar a carne levemente com sal e pimenta preta acabada de moer.  Passar por farinha. Levar uma frigideira ao lume com um fio de azeite e deixar fritar a carne cerca de cinco minutos. Retirar para um tacho e reservar. Na mesma frigideira, fritar as cebolas cortadas em rodelas sem as deixar murchar completamente. Deitar no tacho por cima da carne. Juntar a Guinness, o caldo de carne, o tomilho e a folha de louro. Levar ao forno cerca de hora e meia. Rectificar o tempero e juntar as batatas e as cenouras e levar outra vez ao forno até os legumes estarem cozidos.



Aqui fica a minha participação na iniciativa "Convidei para jantar" da Anasbageri. Nesta 9ª edição a Marmita foi anfitriã e convidou-nos a convidar cidades e/ou países. A Irlanda é um dos meus países preferidos, um povo por quem tenho o maior respeito bem como pela sua história e cultura.. Espero ter-lhe feito jus. 

sábado, 17 de março de 2012

St.Paddy's Day ou um guisado luso-irlandês


Acalento a ideia de um dia ir a Dublin passar um Bloomsday. Meros dias depois do meu aniversário, lá para Junho, celebra-se a literatura. Pode haver coisa melhor para comemorar um aniversário? Comemora-se o dia em que se desenrola Ulisses, a obra-prima de James Joyce, diz que há gente pela rua a ler excertos da obra e que é uma verdadeira festa. Acalento assim a ideia de começar o dia a pôr o dente num rim frito que, como se sabe, sou rapariga temente e respeitadora no que à literatura diz respeito e o que me falta em religiosidade sobra-me em respeito venerando a entes vários desta arte que me colore os dias. O Bloomsday é a festa da literatura por excelência. O que eu gostava de lá estar um dia. 
Daria também um dia uma saltada a Edimburgo para celebrar a Burns’ Night bem no fim de Janeiro e acabar a noite a meter o dente num haggis, um guisado de miúdos de cabrito, aconchegado como enchido e servido de formas várias. Uma delícia, não se deixem desmoralizar pelos miúdos e o bucho. Ainda hoje me sabem bem os que degustei em terras de kilts e gaitas de foles. Robert Burns amarrou-o a este poema e acompanhado com uma ale num pub ruidoso nessa tal Burns Night é ideia que me parece bem. E uns passeios a pé, castelo acima e abaixo, bater perna nas ruelas íngremes ao entardecer quando o sol ilumina o castelo com o vento cortante a romper a barreira de cachecóis e luvas. E uns pubs. Nada a fazer. A mulher do povo que há em mim odeia sítios presunçosos de gente igualmente presunçosa atada de pés e mãos numa moralidade de pacotilha, agarrada a pratos de fome gourmet e gosta de pubs. Muito. E de degustar. E de bebericar. Acalento também a ideia de um dia ir passar o dia de St. Patrick a Dublin.
Explicada que está esta ideia peregrina do Bloomsday e da Burns Night, resta-me a explicação para o St. Patrick’s Day. Acontece que não, não comemoro dia de festividade religiosa nenhuma, estou cada vez menos católica de há décadas a esta parte, comecei a celebrar o Natal com a festa da família, e na Páscoa revejo “A Vida de Brian” como filme de época, um épico cá em casa, mas acho muita piada a esta festa de rua com paradas e copos que celebra o santo católico que alegadamente terá livrado a Irlanda das cobras. Diz que havia cobras na Irlanda. E leprechauns e potes de ouro no fim do arco-íris. E chega de conversa fiada. Fica por saber se o que gosto é de celebrar a literatura ou se de pôr pé daqui para fora, exactamente agora que me rapinaram parte do ordenado e subsídios. Inclinar-me-ia pela segunda hipótese. É sabido que os irlandeses não são exímios no que respeita a artes culinárias, foi lá que bebi o pior café da minha vida, experiência tão traumática que passado um quarto de século ainda me sabe mal e que a comida, ao contrário da cerveja e do bom humor e simpatia dos irlandeses, pode ser maçadora e sensaborona. Hoje é dia de St. Patrick e, por coincidência ou não, cá em casa o jantar é Irish Stew. Começou a viagem. Estão convidados.


Irish Stew

Ingredientes
1kg de carne de vaca para guisar
1 chávena de caldo de carne
1 chávena de Guinness
1 chávena de vinho tinto
1 colher de sobremesa de molho inglês (Worcestershire)
1 cebola
Batatas
Cenouras
Azeite
Margarina com alho
Alho picado
Tomilho
Sal
Pimenta preta acabada de moer

Preparação
Pré-aquecer o forno a 200º. Numa frigideira aquecer um fio de azeite e uma noz de margarina com alho. Juntar a carne e selar. Salpicar com pimenta preta acaba de moer e alho picado. Passar para um tacho de barro que possa ir ao forno. Usei um tacho de barro saloio que comprei aqui na aldeia. Cortar a cebola em rodelas finas e levar à frigideira onde se fritou a carne. Quando a cebola amolecer um pouco, juntá-la à carne. Acrescentar a chávena de Guinness, a de vinho tinto e de caldo de carne. Temperar com sal, pimenta e acrescentar o tomilho. Levar ao forno cerca de uma hora a hora e meia com o tacho tapado. Verificar a cozedura da carne e rectificar o tempero.
Após cerca de hora e meia de cozedura acrescentar as batatas e as cenouras cortadas em pedaços. Usei batatas pequenas para assar e corre sempre bem. Aguardar até que cozam, cerca de uma hora, e servir. O molho fica líquido mas apurado. Dizem os especialistas que assim deve ser. 

Este prato é um verdadeiro conforto, inadequado para gente apressada, moroso, como convém em dias de calma e de recolhimento, e aconselhado para dias de invernia ou de alma fria. Nada a que os irlandeses não estejam habituados e que nós não saibamos o que é. Agora vou ali à procura do pote de ouro.


fotografias minhas de Dublin (James Joyce) e do Writers' Museum em Edimburgo.