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terça-feira, 15 de junho de 2010

Quis distrair-me de ti e acabei por distrair-me de mim


























Nada me entretém. Quis distrair-me de ti e acabei por distrair-me de mim.
Telefonaste e não atendi. Partira. Para qualquer um outro lugar. Não perguntaste se voltava. Não interessa.
E eu estava mesmo ali. Mas apesar de tudo partira. O meu lado B, a minha cassete estragada, aquilo a que odiosamente chamavas o meu outro eu.
Ser capaz de partir é maior e mais forte do que ter vontade de voltar. Mas tu não entendes. Ainda não podes entender.
Quero-te bem. E por isso não te ralho. Seria incapaz de ralhar-te.
Não sei ainda se posso duvidar da certeza, se posso adormecer sóbrio e confiante nos lençóis da tua ausência. Não sei.
Ligo a televisão. Quero distrair-me com qualquer porcaria que me atirem para os olhos. Por momentos peço ao ecrã que me cegue, que me cegue para não mais poder ver o vazio, que me cegue para não mais saber dessa cama vazia, dessa poltrona desocupada, desse candeeiro desligado. Cega-me. Cega-me de uma vez para que a luz da tua ausência não volte a ferir-me os olhos.
E se puderes telefona. Quero perguntar-te se voltas.





Isa Mestre













domingo, 22 de novembro de 2009

mesmo que quisesse








[Para ti, que existes nos meus vazios. tantas e tantas vezes.]


Para escrever-te não preciso de quase nada.
Basta-me entender que és essencialmente o vazio.
Entender que, tal como as casas,
Também nós nos vamos construindo.


E os tijolos pesados, tantas vezes.


Os tijolos a ferir-nos as mãos,
Os tijolos a cair nos pés como grilhetas,
Os tijolos como palavras atiradas para o meio do caminho,


Os tijolos. Pesados.
Como as palavras.
Tantas vezes dispensáveis, tantas vezes inúteis.
Como quando apareceste.
As palavras a fugir-me por entre os dedos das mãos,
A deambular na inocência de um olhar que se perde, que se perde sempre.


E da vida, ficam apenas os vazios.
Os espaços onde nenhuma palavra consegue entrar.
Os espaço onde nenhuma palavra poderia entrar.


- Mesmo que quisesse?
- Mesmo que quisesse.


Isa Mestre