Quinta do Mocho, Bairro da Fonte, o Olival do Pancas, o diabo a sete... Levanto-me de manhã, ligo a TV e as notícias são sempre as mesmas: crimes, rusgas policiais, apreensão de armas, prisão de delinquentes. Que houve tiros de madrugada à porta de uma discoteca. Que um taxista foi baleado. Um turista levou um tiro. Uma velhinha foi morta em casa. Um banco foi assaltado.
As televisões alarmam, denunciam a falta de cobertura policial. Mas no dia seguinte as operações policiais são noticiadas como se a polícia atacasse gente indefesa que é entrevistada e diz que não tem armas. "A gente só tem a bíblia sagrada, semos gente pacífica... A polícia pisou os mês filhos que tavam a dormir..."
Ou então é um directo à porta do tribunal, de onde sai um gabiru a esconder a cabeça, ou uns madraços a rirem-se e a fazerem ameaças.
Há crime violento, sem dúvida. Mas dá-se excessiva saliência aos criminosos e ao que eles fazem. Numa sociedade em que o aparecer nas televisões é uma prova de importância, os criminosos aparecem como heróis que defrontam corajosamente as desigualdades sociais.
Dia após dia, o mundo do crime é elevado a assunto central.
Portugal é só isto? Ou é sobretudo isto?