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24.12.12

OCULTO



                                          Foto(C)J.Moedas Duarte


NATAL

Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

Fernando Pessoa


22.12.10

UMA HISTÓRIA ANTIGA

Matança dos Inocentes, Nôtre Dame, Paris


Estava no primeiro ano de Faculdade e precisei de um emprego para equilibrar o orçamento. Tornei-me angariador de colégios particulares para um fotógrafo que depois ia tirar fotos aos alunos e que eu, no fim de processo, visitava em casa, a mostrar as provas para encomenda.
Conheci gente interessante, entrei em muitas casas, apercebi-me das diferenças de classes e rendimentos.
Num colégio da Amadora fui recebido pelo Director. Mais do que ouvir-me, ele queria falar com alguém. Entreteve-me mais de uma hora. Conversa fascinante, de resto. Ele era inimigo feroz de Salazar e não se preocupou em pensar quem seria eu, podia até ser delator da PIDE...
Pela primeira vez eu estava a ouvir um verdadeiro oposicionista. Descreveu Salazar como um velho hipócrita, um sacrista sem escrúpulos na tacanhez política de um ditadura paternalista e impiedosa. E como estivéssemos em época natalícia, acabou a nossa conversa declamando a História Antiga, de Miguel Torga, e que eu, maravilhado, ouvi pela primeira vez.
- Sabe quem é este rei da Judeia? - perguntou-me ele.  - Não, não é o Herodes! É o velho de Santa Comba Dão! É o Salazar! O homem que não gosta de crianças!...

Recordo hoje esse célebre poema de Torga. Boas Festas, meus amigos!
E evoco esse velho anti-fascista do colégio Alexandre Herculano na Amadora, em 1969, que me escolheu para confidente da sua revolta.



HISTÓRIA ANTIGA

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação. 

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981

24.12.09



a fava

espero que me calhe aquela fava
que é costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhava

numa ordem das coisas cuja lei
de afectos e memória em nós se grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,

pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos...
e até por quem nos falta então se irisa

na mais pobre semente a intensa dança
de tempo adulto e tempo de criança.

(Vasco Graça Moura)


O meu abraço forte para os viajantes da net que por aqui vão passando, dia após dia, e que me ajudam a pensar que a AMIZADE existe, e me incentivam a partilhar palavras, músicas, pensamentos, imagens, ironias, humores diversos...

Alguns passam em silêncio, outros deixam recado, uns e outros ajudando a que esta não seja uma rua deserta.

Obrigado, Amigos meus! Que o vosso caminho continue paralelo ao meu! E que a BONDADE, essa forma superior de ser-se Humano, vos proteja da indiferença e da solidão.

17.12.08

RECORDAR O P. AMÉRICO


PRESÉPIO DE NATAL TODOS OS DIAS

«Comece-se a ler Páginas Escolhidas. Ao fim dos primeiros parágrafos, acontece aquilo que só é possível nos grandes escritores: estamos presos ao livro. Que há de assinalável nele? Trazer, transportado de meados do século XX, algo que interpela o que andamos a fazer hoje. A obra coloca-nos, sem aviso prévio, perante o mais fundo dos problemas das sociedades, o da desigualdade e o da indiferença perante a sua evidência.»
(Luís Fernandes in jornal PÚBLICO, 23 Out 2008)

O livro de que se fala é um conjunto de textos, agora reeditado,(Ed. Modo de Ler, Porto, Set. 2008) que traz para a actualidade a acção extraordinária da Padre Américo, o criador da Obra da Rua e das Casas do Gaiato. Textos escritos por ele, - Pai Américo e Procurador-geral dos pobres, como gostava que lhe chamassem, - que nos transportam ao cerne de uma vivência humana comovente.
Este homem, nascido em 1887 de família abastada de Penafiel, que foi empregado de comércio em Portugal e em Moçambique, torna-se frade franciscano aos 36 anos e aos 42 é ordenado Padre! Vocação tardia, mas muito a tempo de erguer uma Obra que permanece como um hino à solidariedade e ao bem-fazer. Profundamente imbuído do espírito evangélico incarnado por Francisco de Assis, P. Américo vê nas crianças abandonadas dos bairros miseráveis das grandes cidades os meninos do Presépio e transformou em Natal todos os dias do ano. Perante os ricos e os poderosos proclamou desassombradamente os direitos dos marginalizados, os pobres, os mendigos, os doentes sem recursos.
Sem dinheiro e praticamente sozinho, funda as Casas do Gaiato de Miranda do Corvo (1940), Paço de Sousa (1943), Santo Antão do Tojal (1948) e Paredes (1955), além das obras «Património dos Pobres» e «Calvário».
Confia no poder da Palavra. Com ela, vai percorrer o país, acordando consciências, despertando generosidades, suscitando seguidores. Morre, vítima de acidente de viação, em 1956.
Pobre, como escolhera viver. Pobre como as personagens do Presépio.





21.12.07

Aos meus amigos...



...um abraço do tamanho dos dias que não estarei aqui.
Até lá para começos de Janeiro...
E que nas vossas vidas não surjam pedras intransponíveis!




Quanto ao Natal... estamos conversados!
Uma saudação à escola que me emprestou este desenho!

18.12.07

Natal de Miguel Torga

Casa onde Miguel Torga passou a infância ( S. Martinho de Anta, Sabrosa, Distr. Vila Real)








NATAL (1952)

Natal fora da casa de meu Pai,
Longe da manjedoira onde nasci.
Neve branca também, mas que não cai
Na telha-vã da infância que perdi.

Filosofias sobre a eternidade;
Lareiras de salão, civilizadas;
E eu a tremer de frio e de saudade
Por memórias em mim quase apagadas…













A mesma casa, restaurada pelo poeta, onde normalmente passava o Natal.