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quinta-feira, 21 de abril de 2022

inaceitável

imagem retirada da internet

Começam a ser insuportáveis as opiniões sobre a guerra na Ucrânia. Se é aceitável que a generalidade da população portuguesa assuma, como boa, a narrativa dominante, conquanto fosse expetável alguma atitude crítica, é triste e desolador, mas tudo bem. Assume-se o que é dito nas televisões e nas rádios como bom, percebo e compreendo. Fico, contudo, à espera para ver os atos de contrição quando perceberem que afinal não era bem assim.

Que cidadãos, bem formados e informados, não levantem a sua voz e questionem alguns dos factos que caraterizam a atual situação é inaceitável. Não se trata de condenar ou não condenar, condene-se o que tiver de ser condenado, mas aceitar a censura e ater-se apenas à informação que uma das partes produz é ser cúmplice na construção de uma imagem parcial da realidade. Para estes não há espaço para atos de contrição.

Quanto à generalidade dos jornalistas da nossa praça (regional e nacional) lamento o seu comportamento, quando no conforto das redações, ou mesmo a partir do sofá, debitam acriticamente as notas de imprensa que lhes chegam dos gabinetes de propaganda sem fazer o que seria elementar, comprovar a veracidade da notícia. Ou ainda, quando nas redes sociais regurgitam opiniões, em alguns casos, de ódio xenófobo e político em vassalagem à narrativa unilateral dos “donos disto tudo”.

É lamentável e triste que as colunas vertebrais sejam tão maleáveis e que as suas opções políticas lhes toldem o olhar. Ou será apenas a incapacidade de interpretar a história e o mundo!!??

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 21 de abril de 2022 


domingo, 10 de abril de 2022

"não há atribuições coletivas de culpa."

imagem retirada da internet

Não nutro nenhum tipo de simpatia por Augusto Santos Silva, bem pelo contrário abomino-o. A sua prestação enquanto quadro do PS e ministro levam-me a fazer uma avaliação profundamente negativa do seu desempenho. Mas, como não há bela sem senão, por estes dias, enquanto Presidente da Assembleia da República, esteve bem, e só me resta reconhecê-lo publicamente. O Presidente da Assembleia da República interrompeu um deputado que, como é habitual, regurgitava um discurso de ódio. A intervenção de Augusto Santos Siva foi certeira e oportuna ao lembrar que em Portugal “não há atribuições coletivas de culpa.” Todos sabemos qual era o assunto, quais eram os visados e qual o propósito do dito cujo deputado e, assim sendo dispenso-me de tecer quaisquer considerações sobre este triste episódio.

Quando ouvi o Presidente da Assembleia da República lembrar que não “há atribuições coletivas de culpa”, e para não estar com teorizações sobre estereótipo, preconceito e discriminação lembrei-me de uma figura de linguagem simples e que explica o princípio: “não tomar o todo pela parte”. Este é um princípio que se aplica, ou deve aplicar, a todos os grupos culturais humanos e com o qual estaremos todos de acordo, menos os xenófobos e racistas. 

imagem retirada da internet
É inevitável não estabelecer o paralelismo com a atual e crescente russofobia, em particular no espaço europeu. Escuso-me a relatar vários incidentes que vão dos insultos às tentativas de agressão perpetrados por cidadãos europeus a cidadãos russos. Tenho consciência que não é difícil construir uma imagem negativa dos russos e da Rússia. Mas fazê-lo interessa a quem e é feito em nome do quê!? Da Paz não é certamente.

Não podemos considerar que os cidadãos russos são todos uns déspotas e assassinos pela invasão da Ucrânia, assim como não podemos apelidar todos os ucranianos de neonazis pelo facto de na Ucrânia existirem e terem preponderância, nos círculos do poder, os grupos neonazis. A ser assim tratar-se-ia de uma “atribuição de culpa coletiva”, o que não seria humanamente correto, para além de não ter cobertura pelo direito internacional.

imagem retirada da internet

Esta crescente onda de russofobia deve-se em grande parte à forma como a chamada “comunidade internacional e, em particular, a União Europeia, ou melhor as suas lideranças elaboraram as respostas sancionatórias à invasão russa da Ucrânia.

As sanções económicas e o apoio militar têm os efeitos conhecidos junto do alvo e na origem. 

As sanções culturais e desportivas não são aceitáveis, para além de configurarem a revisão e o branqueamento da história, contrariam o princípio da “não atribuição coletiva de culpa” enunciado por Augusto Santos Silva quando interrompeu o deputado.

Tchaikovsky - imagem retirada da internet



As sanções culturais, científicas e desportivas a cidadãos russos (mortos ou vivos) enquadram-se no que se designa “por atribuição coletiva de culpa”. 


As sanções culturais, científicas e desportivas não são aceitáveis e deveriam merecer um veemente repúdio.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 10 de abril de 2022


quarta-feira, 6 de abril de 2022

certezas e dúvidas fundadas

imagem retirada da internet
Nos últimos dias a CS de referência e as redes sociais inundaram o espaço público com as imagens daquilo a que chamam, “o massacre de Busha”. Imagens terríficas e que não deixam ninguém indiferente. Não tenho uma opinião consolidada sobre a divulgação de imagens violentas, tenho, no entanto, consciência que as imagens que atentam contra a dignidade humana, sejam elas em ambiente de guerra ou não, devem ser divulgadas, desde que, devidamente contextualizadas e sem juízos prévios de quem as difunde, a não ser que tenham sido verificadas e investigadas. O que não foi o caso relativamente ao “massacre de Busha”. A exigência de uma investigação independente é um imperativo para se apurar responsabilidades e punir os autores. As convenções internacionais criminalizam os crimes de guerra e, assim deve ser.

Ainda a propósito da propagação de imagens violentas. Existem, com origem diversa para satisfazer todas as opiniões, e são divulgadas profusamente nas redes sociais, já estive tentado a divulgar algumas, não o tenho feito por me recusar a contribuir para o clima de radicalização de posições sobre uma guerra que nos afeta a todos e cujos efeitos se vão agudizar e prolongar no tempo.

imagem retirada da internet

Sobre a saída das tropas russas, por opção estratégica ou outra, da região de Kiev, nada direi, pois, a ciência militar é para mim matéria desconhecida, todavia a forma como o exército russo saiu deixou a população civil ucraniana desprotegida e isso é, para mim, incompreensível, pois, os cidadãos que não se identificam e não apoiam a posição oficial ucraniana são, como se sabe, vítimas dos mais diversos abusos, também não faltam relatos e imagens que o podem comprovar. Nem todos os ucranianos patrocinam o poder instituído na Ucrânia, as suas vozes não são ouvidas no ocidente devido à censura imposta pela União Europeia a tudo o que não valide a sua própria narrativa. E não me refiro apenas aos ucranianos das zonas Leste e Sul que já estão sobre o controle do exército russo, por toda a Ucrânia há quem se oponha ao governo ucraniano, mas estes estão remetidos ao silêncio por razões que se compreendem.

Em relação aos acontecimentos de Busha, onde alguns veem certezas eu tenho dúvidas fundadas, desde logo: na cronologia dos acontecimentos, pelo facto de o exército convencional russo ser bem treinado e disciplinado, mas também por ter alguma dificuldade em aceitar que o exército russo cometesse tamanho erro.

imagem retirada da internet
A cronologia dos acontecimentos é conhecida, apenas direi que as imagens foram registadas 4 dias após a saída das tropas russas e que, nesse intervalo de tempo, existem imagens da limpeza das estradas pelas forças policiais e militares da Ucrânia e não são visíveis cadáveres, as imagens de satélite apresentadas pelo NYT, valem o que valem, ou seja, nada, por serem dos primeiros dias de abril e não, como foi anunciado. do dia 19 de março, por outro lado a confiabilidade das imagens de satélite, deixa muito a desejar desde que foram utilizadas para comprovar uma coisa que não existia (armas de destruição massiva) para justificar a invasão do Iraque. Existem outros dados, mas, para já, abstenho-me de os referir.

A divulgação das imagens de Busha veio acompanhada com alguns juízos e avaliações que, face à gravidade do que é observado, deviam ter sido mais prudentes. Não se pode, em situação alguma, atribuir a responsabilidade, julgar e condenar sem que decorra uma investigação e se ouça o acusado. A investigação foi solicitada pelo acusado, mas essa sua pretensão foi-lhe negada.

A condenação foi de imediato acompanhada da penalização sob a forma de mais sanções à Rússia e de apoio em equipamento militar à Ucrânia. As sanções penalizam o povo russo, é certo, mas são igualmente penalizadoras para os povos europeus que estão a caminho da penúria, a corrida armamentista e o reforço dos meios militares ucranianos abrem a senda da guerra e barram as soluções de Paz.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 6 de abril de 2022


quinta-feira, 31 de março de 2022

o ataque às cores e aos símbolos

cores do arco íris
As cores, é sabido, induzem emoções e sentimentos. As cores quentes transmitem energia, atividade e entusiasmo, e, as cores frias racionalidade, tranquilidade e profissionalismo.

A escolha das cores, pelo marketing, não é fruto do acaso. A opção por uma ou outra cor depende do que se pretende induzir no público consumidor de um produto, de um serviço ou de uma ideia. E os símbolos, tal como as cores, são também elementos essenciais nos processos de comunicação. 

A utilização das cores e dos símbolos também dependem dos contextos e a indução de emoções, quando assim é, pode sair do padrão aceite. A guerra na Ucrânia trouxe para o nosso quotidiano algumas cores e símbolos que induzem sentimentos diversos, ou muito simplesmente de apoio ou repúdio a uma das partes diretamente interveniente no conflito.

bandeira da Eslovénia

Há poucos dias, ao circular numa das artérias de Ponta Delgada, olhei para um dos painéis publicitários que circundam uma rotunda e estranhei as cores – azul, vermelho e branco. Pensei para comigo: não pode ser são as cores da bandeira russa. Depressa concluí que, afinal era, apenas, o “outdoor” da Iniciativa Liberal (IL) e cujas cores são as mesmas da bandeira russa. Penso que face à fobia russófona que se vive talvez fosse aconselhável que a IL retirasse os seus “outdoors” não vá acontecer o mesmo que à embaixada da Eslovénia na Ucrânia a quem foi pedido pelas autoridades ucranianas para arriarem a sua bandeira pois confundia-se com a bandeira russa. Enfim!

Mas se as cores da bandeira russa estão a ser objeto de atenção e crítica a quem as ostenta, já as cores ucranianas (amarelo e azul) estão a ser profusamente utilizadas como estratégia de marketing para promover produtos, serviços e ideias, tudo em nome da solidariedade e do apoio humanitário. Pois está bom de ver.

Eu continuo a gostar de vermelho, azul, amarelo e branco. Já gostava, nada de novo.

Depois dos artistas e atletas russos, mortos e vivos, terem sido apagados dos mais diversos eventos, agora são as cores. Tenho estado à espera que a tabela periódica seja retirada aos estudantes e escolas, pois, bem vistas as coisas, o seu criador foi o russo Dmitri Mendeleev. E se é para apagar que se apague tudo. 

imagem retirada da internet
Os símbolos também estão a ser alvo de atenção e o seu uso pode ser criminalizado. Na Alemanha, a Baviera e a Baixa Saxónia, vão processar qualquer pessoa que use a letra "Z" em público, por considerarem que é um símbolo de apoio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Espero que possamos continuar a utilizar a letra Z, sob pena de alguns nomes de cidades, países e até de pessoas serem impronunciáveis.

Não tenho conhecimento de que a letra V tenha sido alvo de alguma discriminação pois, os cidadãos mais atentos já terão reparado que alguns veículos militares russos ostentam a letra V, ou ainda o que será do losango que, mais recentemente, começou a aparecer nos veículos militares russos usados na guerra da Ucrânia.



Aníbal C. Pires, 31 de março de 2022

Censura e sanções

imagem retirada da internet

O bloqueio ou as sanções, como preferirem e melhor se adeque ao ponto de vista de cada um, não estão a cumprir os objetivos de quem sancionou, mas estão a acelerar a criação de um mundo multipolar e profundas alterações na economia e no sistema financeiro internacional, ou seja, a Rússia ao contrário do pretendido não está isolada e a sua moeda (rublo) valorizou-se face ao dólar.

O cerco económico, financeiro e mediático à Rússia está a custar caro, muito caro, aos cidadãos da União Europeia. O aumento generalizado dos preços dos produtos e serviços é uma evidência, não é propaganda russa.

Salvo melhor opinião a União Europeia continua a dar “tiros nos pés” ao seguir a cartilha estado-unidense, mas isso não são contas do meu rosário, não obstante esteja já a pagar por essas opções.

As afirmações anteriores são factuais, não se trata de qualquer fuga ao cerco mediático que a União Europeia e os Estados Unidos impuseram aos seus cidadãos.

A histeria reinante na censura a tudo o que possa parecer apoio à Rússia não tem limites e é diretamente proporcional ao acriticismo no apoio ao regime da Ucrânia, não ao seu povo, mas ao seu governo e tudo aquilo que, infelizmente, representa.

imagem retirada da internet
O cerco mediático aos cidadãos do chamado mundo ocidental tem sido eficaz, mas cada vez mais os cidadãos se interrogam sobre algumas questões que agora, por força das circunstâncias, têm vindo a ser objeto de interesse como seja a questão do Donbass, os acordos de Minsk, o poder dos neonazis no aparelho político e militar ucraniano, os massacres de Odessa em 2014, o “euromaidan”, os laboratórios biológicos patrocinados pelos Estados Unidos e os interesses comerciais diretos da família Biden, por via de Robert Hunter Biden filho do presidente dos EUA, na Ucrânia. Mas não só, alguma comunicação social já refere e publica imagens, não filtradas, sobre a atuação das forças nacionalistas e neonazis ucranianas e as interrogações dos cidadãos aumentam.

A censura a fontes de informação que não adotem a narrativa do chamado mundo ocidental ainda domina, contudo há quem rompa o cerco e permita aos cidadãos ter alguma informação e opinião sobre o que verdadeiramente se está a passar, não só na Ucrânia e na Rússia, mas sobretudo no Mundo.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 31 de março de 2022


domingo, 27 de março de 2022

lamento

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Em 2017, a propósito da guerra de informação e contrainformação na guerra da Síria, desiludi-me com o ator George Clooney, não pelas suas qualidades na arte da representação, mas por ter dado cobertura às produções de propaganda dos “Capacetes Brancos” (White Helmets). George Clooney é um cidadão bem informado e, como tal, o seu ato foi indesculpável.

A guerra na Ucrânia fez cair, na minha consideração, um outro ator estado-unidense. Não enquanto ator, mas como cidadão, igualmente, bem informado, pelo menos assim o considero.

Sean Penn resolveu, não sei bem a troco de quê, assumir a defesa cega do presidente ucraniano, o que não significa bem a mesma coisa de assumir a defesa do povo ucraniano que, ao contrário do que nos querem fazer crer, não está todo ao lado de Volodomyr Zelensky, mas essa história será contada depois.

A minha desilusão com Sean Penn, vale o que vale, está ancorada em três factos devidamente comprovados e do domínio público, só não tem conhecimento quem não quer, a saber:

1 - “Máscaras da Revolução” documentário de uma TV francesa que podem ver no Canal de Documentários do Youtube; o documentário “A Ucrânia em Chamas” do realizador Igor Lopatnok (ucraniano a viver na Califórnia, produzido por Oliver Stone (estado-unidense); ou ainda “Donbass”, um documentário da jornalista francesa Anne-Laure Bonnel; Estes documentários falam de uma questão que Sean Penn sempre ignorou. Não por desconhecimento, mas com o propósito de manter distante dos olhos e ouvidos dos cidadãos ocidentais a guerra civil ucraniana que, como todos sabemos, deflagrou em 2014 e provocou, até ao dia 24 de fevereiro de 2022, milhares de mortos e mais de 1 milhão de refugiados.

2 – Sean Penn, não sei das suas razões, esteve (ou está) na Ucrânia a fazer um documentário sobre a atual situação que se vive naquele país onde a guerra, depois da invasão russa, se alastrou a outros territórios ucranianos. Sean Penn atua como se tudo se tivesse iniciado a 24 de fevereiro pp, o que, para quem está informado como ele, é falacioso e parcial.

3 – Sean Penn fez uma birra para chantagear a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Holywood) a aceitar que Volodomyr Zelensky pudesse falar durante a entrega dos óscares. Ao que parece a Academia não se vergou à chantagem de Sean Penn e Zelensky não vai ter a “deixa” para participar no espetáculo. A verificar-se que a Academia não cede à birra do ator aguardo para assistir à quebra, por Sean Penn, das duas estatuetas que lhe foram atribuídas, pela Academia, durante a sua carreira. Essa foi a ameaça do ator, espero que cumpra esta sua intimação.

A atitude de Sean Penn é, para mim, lamentável e incompreensível, pois, para além das suas qualidades como ator e realizador, que admiro, sempre considerei que ele era um ativista social e político que colocava rigor nas suas intervenções. Ao tomar esta atitude Sean Penn está a ser parcial e a demonstrar que está do lado da narrativa unilateral dos “bons e dos maus”, o que não serve o bem maior que é a PAZ, lamento profundamente que Sean Penn, como foi fazendo ao longo da vida, não tenha mantido distanciamento em relação à situação criada pela invasão russa e se empenhe em dar palco ao presidente ucraniano, como se sobre ele não recaíssem muitas dúvidas quanto ao seu papel neste conflito.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de março de 2022


quinta-feira, 24 de março de 2022

efeitos das sanções

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A "comunidade internacional", tal como é referida pelos protagonistas políticos e pelos jornalistas da nossa praça, representa menos de metade da população mundial. E ao analisar, ainda de que forma grosseira, o mapa-múndi verificamos, com facilidade, como alguns conceitos nos iludem e distorcem a realidade. Dir-me-ão que nós fazemos parte. Sim, no mapa estamos lá. Como povo não será bem assim. Nem somos tão brancos como alguns de nós gostam de pensar, mas somos periféricos e pobres. 
Não temos dimensão territorial, populacional, política e económica que nos valha para alguma coisa. Para não dizer, apenas, que neste contexto pouca valia temos, refiro a Base das Lajes, na Terceira e a sua importância geoestratégica da qual, como sabemos, Portugal não sabe, nem nunca soube retirar daí algum proveito, por outro lado sendo Portugal membro da NATO aquela importante infraestrutura no corredor atlântico está, por força dessa condição, ao dispor dos Estados Unidos.

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A "comunidade internacional" sancionou a Rússia pela invasão da Ucrânia. Julgo que as sanções contra um país, seja qual for, não atingem os objetivos que os anúncios políticos procuram justificar. Os povos sim! Os que são alvo das sanções e os povos cujos governos aderem às sanções. Os bloqueios económicos e financeiros atingem duramente os povos, aliás em Portugal que, também, sanciona a Rússia estamos já assistir a uma escalada dos preços, ainda que, considere que estes aumentos, ainda, não se relacionam diretamente com a invasão da Rússia à Ucrânia, nem tampouco, com a sanções que foram decretadas pela “comunidade internacional” à Federação Russa. 

Não aceito sanções económicas a nenhum povo, considero isso criminoso. Por outro lado, como medida política, as sanções, como a história comprova, são de eficácia reduzida, para não dizer nula. Vejam-se os inúmeros países que são alvo de sanções e os efeitos que têm produzido. Falta de bens de primeira necessidade, medicamentos, carestia de vida, etc., etc.. Ou seja, as sanções penalizam os povos e unem-nos contra os “inimigos externos”. No caso das sanções à Rússia e pelo que me é dado saber, aliás é do domínio público, pode muito bem acontecer que as economias dos países que subscreveram as sanções venham a ser mais prejudicados que a economia e o sistema financeiro do país alvo.

A invasão da Ucrânia vai penalizar fortemente a economia russa, não tenho dúvidas, não tanto pelas sanções da “comunidade internacional, mas sobretudo pelos custos associados ao esforço de guerra, já despendidos, e pelo que virá a ser aduzido enquanto não for assinado um cessar fogo, ou um tratado de paz. 

Pelo que já é do domínio público começa a configurar-se que as economias europeias, os Estados Unidos também, mas por via de alterações, já anunciadas, ao sistema monetário internacional, vão ser fortemente penalizadas. 

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As economias europeias por insistirem em afetar recursos públicos no apoio em material de guerra para a Ucrânia, que em grande parte é de imediato destruído ou apreendido pelos russos e entregue à defesa das Repúblicas de Donestk e Lugansk, pela dependência energética da Rússia, mas também pela desdolarização da economia mundial que já teve o seu início há algum tempo e que agora tende a acentuar-se, com a Rússia a exigir que o pagamento do fornecimento energético à Europa seja feito em rublos russos, a Índia a comprar petróleo à Rússia e fazer o pagamento em rupias, a Arábia Saudita a mostrar disponibilidade para vender petróleo à China, em yuans.

A União Europeia continua a assobiar para o lado e parece que ainda não percebeu que, tal como a Ucrânia, não passa de um peão de brega nesta guerra que, não é difícil de perceber, vai muito para além do conflito armado. Ao manter este posicionamento, a União Europeia poderá estar a trilhar o caminho da autodestruição enquanto comunidade de estados.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de março de 2022


quarta-feira, 23 de março de 2022

a ineficácia da censura corporativa

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O bloqueio mediático imposto pela União Europeia aos seus cidadãos está a romper-se. A comunicação social portuguesa já não consegue seguir o guião. Não por vontade própria, mas porque há por aí alguns jornalistas que conseguem furar o bloqueio e as redes sociais têm dado uma ajuda preciosa a quem procura outras narrativas sobre a guerra na Ucrânia. Embora não me esteja a referir ao jornalista Pedro Mourinho, não posso deixar de registar a forma como repôs a verdade sobre um ataque russo a Kiev.

Por outro lado a ilegalização dos partidos ucranianos, com exceção dos que apoiam o presidente Zelensky, e a televisão única no espaço ucraniano não contribuiu para o estado de graça do governo ucraniano.  

Os relatos e as imagens circulam há muito por aí. Vou continuar, por decência, a não as reproduzir nas minhas redes sociais. E não o faço por ter algum receio de ser insultado, não o faço por uma questão de princípio e, porque, mais tarde ou mais cedo acabarão por passar nas televisões nacionais.

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Sei que vou “esperar sentado” pelos pedidos de desculpa, pelas correções dos jornalistas que de forma acrítica e unilateral noticiam a guerra na Ucrânia e, pela forma como trataram alguns comentadores convidados. Dos comentadores residentes e analistas não espero nada, pois nada esperava deles a não ser a cassete a que nos têm habituado. Basta lembrar as justificações para a invasão do Iraque, qualquer cidadão informado sabia que a existência de armas de destruição massiva era uma falácia, mas os serventuários do mundo unilateral contaram, como agora, com a falta de informação e, sobretudo, conhecimento da generalidade da população para impor o seu discurso de ódio e promover a escalada da guerra e a corrida armamentista dos países europeus, a mando da NATO. 

Começa a perceber-se que não se podia, nem devia, olhar para o conflito como um evento que teve o seu início a 24 de fevereiro e isso nota-se com o gradual arriar das bandeiras azuis e amarelas dos perfis nas redes sociais. Tudo é mais complexo do que a visão redutora e simplista dos “bons e dos maus”.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de março de 2022



domingo, 20 de março de 2022

autocracia e democracia

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Não há inocentes nesta guerra, nem se trata de um conflito entre “bons” ou “maus”, contudo a comunicação social “ocidental” e a maioria dos cidadãos que a consomem já escolheu os “bons” e os “maus”, simplificando uma questão que é complexa e que não se iniciou, apenas, nos últimos dias de fevereiro do pp.

Eu, como tenho vindo a referir, também tenho um lado, o lado da PAZ e da cooperação entre os povos. É ao lado da PAZ e da cooperação que me posiciono. 

Nenhuma guerra tem justificação, sem dúvida, mas existem causas que as provocam e, quando se fecham as portas às soluções pacíficas escancaram-se para as soluções violentas.

Temos assistido à diabolização de uns e ao endeusamento de outros, mas como disse, nesta como nas outras guerras que estão a decorrer, as responsabilidades são partilhadas e, os inocentes são apenas os povos que desejam, mais do que tudo, que lhes seja garantido o “direito a viver em PAZ"(1). 

Qualquer dos principais protagonistas (Joe Biden, Volodymyr Zelensky, Vladimir Putin e Ursula von der Leyen) têm responsabilidades, não só anteriores aos novos contornos da guerra na Ucrânia, como no seu atual desenvolvimento. Mas nem todos eles têm legitimidade democrática. Se Biden, Zelensky e Putin foram eleitos pelos seus povos, cada um com as peculiaridades do seu próprio sistema eleitoral, e todas as dúvidas que se podem colocar sobre os processos eleitorais, a verdade é que a senhora Presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, não tem a legitimidade do voto popular, foi nomeada e não eleita. 

Não nutro quqlquer tipo de simpatia por nenhum destes “líderes”, mas os eleitos, quer se goste ou não, são representantes dos seus povos e, como tal, devem ser tratados, até que os povos os destituam. Tenho argumentos, ancorados em factos, para denegrir a imagem de qualquer deles, não o tenho feito (nem farei) por considerar que a gravidade do que está a acontecer está muito para além das personalidades, e focar a atenção nos perfis é redutor e simplista.

A esta altura do texto já estarei a ser acusado de putinista por estar a comparar os Estados Unidos, com a Ucrânia e, sobretudo, com a Rússia. Quem quiser ir um pouco mais longe do que a adjetivação da minha pessoa, pode comprovar facilmente o que estou a dizer, basta que se disponha a procurar informação. 

imagem retirada da internet (2)

Quanto a uns serem mais autocráticos que outros (os que foram eleitos), tenho para mim que diferenças, certamente, existem, mas quer Biden, quer Zelensky, quer Putin, cada um à sua maneira não deixam de o ser, por outro lado o termo autocracia não significa, de todo, ausência de democracia. Falta de democracia só mesmo na Comissão da União Europeia. Todos os comissários são nomeados, ou seja, o “governo” da União Europeia não tem a legitimidade democrática que só o voto popular confere, desde logo, e, como já referi a sua Presidente, Ursula von der Leyen.


A maioria dos cidadãos, não todos, pois há quem não queira lançar mais “gasolina” na fogueira, apoiam a narrativa oficial dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido, do Canadá, bem assim como na Austrália e Japão. Mas o mesmo não se passa no resto do Mundo. Os periféricos, os pobres, "os nadas"(3)  e os seus governos não estão, todos, alinhados com a posição ocidental. Mas esses não contam, nunca contaram. São os excluídos. Nem da “comunidade internacional” fazem parte, segundo o superior conceito do mundo ocidental.

 (1) Vitor Jara

 (2) as redes sociais são um bom exemplo onde as práticas autocráticas convivem com a democracia liberal

(3) Eduardo Galeano

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 19 de março de 2022


sábado, 19 de março de 2022

o país que temos

imagem retirada da internet
Não há pachorra!

Um juiz que dispensa um criminoso das medidas de coação ancorando a sua decisão na “missão humanitária” que este vai, de armas e bagagem, cumprir na Ucrânia, um professor de uma prestigiada instituição de ensino superior considera que as relações de trabalho se poderão alterar em Portugal com a oportunidade criada, pelo drama, dos refugiados ucranianos e, por fim, a saga dos erros nos oráculos televisivos que se está a tornar a norma e, como tal inaceitável.

Quem tem isolado a guerra na Ucrânia num evento que teve o seu início a 24 de fevereiro pp e assume a narrativa da Marvel e de alguma produção hollywoodesca (o super-herói e o vilão) como a única abordagem à invasão da Ucrânia pela Rússia, ou seja, de um lado os bons e do outro os maus. Talvez, comece a perceber que há mais lados, pois, quero crer, que não estão ao lado da “missão humanitária” de um português com o perfil, cadastro e alinhamento ideológico deste conhecido neonazi.

imagem retirada da internet


Mas também o artigo de um professor do ensino superior sobre a oportunidade, para o mercado de trabalho português, criada pela vinda de refugiados ucranianos e a forma como ele circunscreve essa oportunidade deve, no mínimo, preocupar quem quer a PAZ e quem, genuinamente quer ajudar a Ucrânia. Lembro que esta personalidade é um dos fundadores da ONG “We Help Ukraine” e disse o seguinte: “não têm forma de exigir muito, mas trabalharão muito”. 



imagem retirada da internet



Pois é! Depois de decisões judiciais, como a que referi e opiniões como a do cofundador da “We Help Ukraine”, já nada me espanta e, por isso, não me surpreendi que um porta aviões chinês tenha sobrevoado Taiwan, como pode ser lido num oráculo da CNN Portugal.


Quando a poeira assentar, as emoções passarem e a racionalidade regressar, quero ver como é que alguns cidadãos vão olhar para tudo o que disseram, para o que publicaram e republicaram nas redes sociais, bem assim como os insultos dirigidos a quem ousa discordar da narrativa oficial e censória que domina a comunicação social de “referência” e desconstrói a hipocrisia política da União Europeia.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de março de 2022


domingo, 6 de março de 2022

a primeira baixa da ronda de negociações

imagem retirada daqui

As negociações bilaterais entre a Ucrânia e a Rússia não registam avanços dignos de monta, mas já provocaram a morte de Denys Kireev, um dos negociadores que integrava a delegação ucraniana. A comunicação social ocidental diz que: “(…) foi morto em circunstâncias nebulosas. Há notícias de que seria um espião de Moscovo.” (…). Bem! Se era espião de Moscovo não terá sido o “patrão” que o mandou assassinar. Direi eu, que não sou espião nem sou entendido no mundo nebuloso da espionagem internacional.

O cessar fogo, de 5 horas, anunciado e acordado não durou mais de 30mn. O cessar fogo destinava-se assegurar corredores humanitários, para permitir a saída da população civil que assim o desejasse e para permitir a entrada de produtos e bens para as populações civis afetadas pela guerra.

A responsabilidade pelo não cumprimento do cessar fogo acordado terá sido, como acontece sempre, de responsabilidade partilhada, porém subsistem algumas dúvidas sobre esta questão.

Em termos estritamente militares, julgo ser aceite por todos, o poderio bélico da Rússia é muito superior ao da Ucrânia. Aceite esta premissa pergunta-se então qual é o motivo para que a progressão das forças russas esteja a ser tão lenta. A resposta emocional alimentada pela comunicação social ocidental é, naturalmente, a forte e heroica resistência, não só do exército ucraniano, mas sobretudo, da ação armada, civil ou não, que se opõe à máquina de guerra russa. 

imagem retirada da internet
Não vou colocar em causa nem o heroísmo dos soldados ucranianos e, muito menos, a resistência dos civis, armados ou não. Mas existem outros fatores, de ordem militar e política, que justificam alguma lentidão na progressão das forças russas e que, sem necessitar de me socorrer de outras fontes que não sejam os órgãos de comunicação social de “referência” ocidentais explicam essa lentidão, ou seja, a presença de população civil, forçada, ou não, a permanecer, dentro dos centros urbanos, bem assim como a instalação de artilharia pesada dentro das cidades pelo governo ucraniano, numa clara violação da Convenção de Genebra, esta última parte não é referenciada na comunicação social, mas o Major General Raul Cunha, na RTP 3, afirmou-o claramente. 

A tomada da cidade de Mariupol é um dos principais objetivos desta guerra da Rússia à Ucrânia, as razões são conhecidas. Objetivo ainda não conseguido não pela ineficiência do exército russo, mas por duas outras razões a concentração do Batalhão Azov nesta região e a proibição de abandono da cidade e da região da população civil, por este grupo militar neonazi. Ao contrário do que a comunicação social nos vem dizendo, não são os russos que não deixam sair a população com os seus bombardeamentos contínuos, são os nacionalistas e neonazis (que não representam nem os ucranianos, nem a Ucrânia) que não deixam sair a população, nem deixam entrar a tão necessária ajuda humanitária. 

Desde que iniciei este escrito foi anunciado um novo cessar fogo na região de Mariupol, faço votos para que seja cumprido.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 06 de março de 2022


sábado, 5 de março de 2022

militância cidadã e sanções

As sanções da União Europeia e dos Estados Unidos à Rússia foram anunciadas e entraram em vigor. Os cidadãos, não querendo deixar os seus créditos por mãos alheias, seguiram as orientações oficiais deixando voluntariamente de consumir produtos e bens de origem russa. Ao que parece o vodca já passou de moda, embora o vodca ucraniano seja de tão boa, ou superior, qualidade como o vodca russo. O melhor é verificar pois, mesmo inadvertidamente, podemos ao invés de sancionar a Rússia com a abstinência de vodca estar a prejudicar as exportações ucranianas. Cá em casa ainda tenho uma reserva de vodca que me foi ofertado por uns amigos ucranianos com a garantia que é de superior qualidade. Vou consumir moderadamente esperando que o vodca ucraniano esteja disponível nas prateleiras dos espaços comerciais. Não estou a ironizar a não ser no que diz respeito ao consumo, mas que tenho em casa vodca ucraniano, lá isso tenho.

Mas na sanha de dar corpo às sanções, os portugueses não deixam os seus créditos por mãos alheias, soube-se por estes dias que um restaurante lisboeta que tem na sua ementa pratos da gastronomia russa, deixou de ser frequentado, isto é, e para que não subsistam dúvidas tem estado, como se oi dizer, “às moscas”. Percebo a atitude dos habituais e potenciais clientes: é russo não vamos, eles precisam perceber que não podem passar impunes. Percebo a intenção, mas neste como em outros casos, o desconhecimento da realidade nem sempre ajuda. Os postos de trabalho são ocupados por cidadãos de origem portuguesa e ucraniana. Não trabalha lá um russo sequer. O boicote, a manter-se, terá como efeito a extinção dos postos de trabalho. Quem vai para o desemprego serão ucranianos e portugueses.

Podem conferir a notícia aqui.


Quanto ao efeito das sanções nos grandes grupos financeiros, sejam eles de que nacionalidade forem, será incipiente. Os negócios decorrem com normalidade, sem mediatismo como convém, e a circulação e acumulação de capital continua garantida pois, como os especialistas sabem, não há SWIFT que os impeça. O mesmo não se poderá dizer dos cidadãos e das pequenas empresas deste e do outro lado do Mundo, como sempre as grandes vítimas.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de março de 2022


quarta-feira, 2 de março de 2022

Equívocos

Não tenho nada contra, bem pelo contrário estou disponível para participar em todas as manifestações pela paz, no Mundo, não apenas pela paz na Palestina, na Ucrânia, no Iémen, na Síria, na Somália ou em qualquer outro rincão do planeta. Por mais distante que possa parecer a guerra afeta-nos, a mim perturba-me muito. Sou, por natureza um pacifista. Mas não sou ingénuo.

As manifestações pela paz devem ser dirigidas contra os poderes (político, económico e financeiro que dominam o Mundo), se assim for serão sempre a favor dos povos. Quando tomo posição contra a ocupação da Palestina por Israel, manifesto-me contra as opções políticas de Israel e nunca contra o povo israelita. Se condeno a invasão da Ucrânia é pelo povo ucraniano e pelo povo russo, não pelas opções dos seus governos.

As legítimas expressões de apoio e manifestações a favor da paz na Ucrânia onde, alguns, cidadãos expressam, genuína e generosamente, a sua preocupação sobre o sofrimento das populações afetadas, têm sido aproveitadas, de forma consciente e objetiva, por uma perigosa corrente política que serve interesses que não os da paz. Corrente política que oblitera alguns conflitos, desresponsabiliza os seus principais promotores (a oligarquia financeira que não tem, como se sabe, nacionalidade), e apoia medidas que se escudam na condenação, com a qual estamos todos de acordo, para continuar a promover a guerra.   

O formato das manifestações tem provocado dois efeitos:  a promoção da guerra e da russofobia; qualquer deles lamentável e estou certo que a maioria dos manifestantes não é isso que pretende, mas há quem o faça de forma deliberada e para daí retirar dividendos políticos.

O clima de crispação que decorre da forma como a guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) tem provocado nas redes sociais e nas ruas o aumento da russofobia. Existem já algumas situações em que cidadãos russos residentes em Portugal, apenas pelo facto de serem russos, têm sido alvo de insultos e outros comportamentos discriminatórios. Lamentável que os cidadãos de boa vontade não percebam que a forma como se posicionam em relação à guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) prejudica os cidadãos russos que vivem e trabalham em Portugal.

Incompreensível é que alguns desses cidadãos que, consciente ou inconscientemente, promovem a russofobia sejam eles também vítimas de preconceito e discriminação, por diferentes motivos,  e não tivessem parado, por uns instantes, para perceber que estão a incentivar comportamentos discriminatórios. 

Fica um abraço de solidariedade a todos os meus amigos ucranianos e russos de boa vontade.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de março, de 2022

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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Pela paz! Sempre.

Ontem cometi a imprudência de fazer uma publicação no Facebook com a seguinte frase: “Assim não vamos lá. Ontem Zelensky queria o diálogo, hoje não, já não quer.”

Foi, diria, um descuido, pois, tenho consciência de que ao contrário de outras publicações, mais extensas que publico no meu blogue, uma pequena frase é lida muito mais vezes e, logo, objeto de mais reações. Por outro lado, as questões complexas, também o sei, não se resumem ao número de carateres de um tweet, e nem tudo é preto ou branco.

A frase foi motivo para um conjunto de comentários que motivou ao bloqueio de alguns dos seus autores. As razões para a minha atitude não foram pela discordância de opinião, mas sim pelo vazio das argumentações se é que a isto se pode chamar alegações “(…) se não estão bem que vão para a Russia. (…), ou “(…) Custa-me compreender como alguem da nossa sociedade tenta desculpar Putin. (…), ou ainda “(…) segue a linha do comité central? (…). A falta de acentuação é da responsabilidade dos autores dos comentários.

A frase não é ofensiva e não demonstra apoio a coisa nenhuma. Na sexta-feira, dia 26 tinha ficado satisfeito com a eventual abertura de um processo negocial, ontem fui surpreendido pela falência desse anúncio, e resolvi publicar isso mesmo, mas ao que pude constatar é que existe um grande número de cidadãos que consideram que não há diálogo possível. Preferem a guerra. Pois bem. Eu acho que só o caminho do diálogo pode levar à PAZ.

Ao que foi tornado público as negociações não se realizaram devido ao desentendimento sobre o local (país) onde deveriam decorrer. A Rússia propôs a Bielorússia e a Ucrânia a Turquia, a Hungria ou a Áustria, percebo que quer para a Rússia, quer para a Ucrânia, nenhum destes países é totalmente neutral neste conflito e, como tal, o caminho deveria ser encontrar outra solução para o local das negociações. O que para os cidadãos que dizem querer a PAZ e rezam para que isso se concretize não devem ter ficado satisfeitos. Eu não fiquei e partilhei a minha estupefação.

Sei que as redes sociais não representam tudo e muito do que se comenta e publica não passa de lixo, porém tenho verificado que alguns cidadãos que acompanho e leio têm vindo não só a alinhar-se, acriticamente, com a narrativa criada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela NATO e, ao invés da PAZ começam a exigir uma intervenção militar em larga escala para libertar a Ucrânia. Fico sem saber o que querem, mas aconselho-os a ler o ancião Henry Kissinger, que, seguramente, não se identifica com a Rússia e muito menos com o seu presidente. Podem, se assim quiserem aceder à opinião (The Washington Post, 5 de março de 2014) do guru ocidental das Relações Internacionais.

Quanto à guerra na Ucrânia e às manifestações pela PAZ gostaria de dizer que são bem-vindos, mas chegaram com 8 anos de atraso. A guerra na Ucrânia teve o seu início em 2014, não falta por aí informação sobre o assunto e para além deste conflito decorrem outros, como por exemplo a ocupação da Palestina, o Iémen, a Síria e a Somália, todas elas, tal como a Ucrânia com a “mãozinha” dos Estados Unidos e dos seus aliados, na NATO e fora dela. Isto para não referir os milhões de refugiados que estas e outras guerras têm produzido.

Para mim a vida e a dignidade humana têm o mesmo valor independentemente dos locais que habitamos, das religiões que confessamos e da matriz cultural que adotamos para a nossa vida.

A guerra na Ucrânia teve início em 2014. Morreram até à intervenção militar russa cerca de 15 mil pessoas. Não vi, infelizmente, nenhuma condenação a esta guerra. E isto não é, de todo, despiciente.

Bem, mas como eu desejo ardentemente a PAZ fiquei satisfeito por saber, durante o tempo em que escrevi este texto, que afinal sempre vão acontecer negociações entre a Ucrânia e a Rússia. A delegação russa já está a aguardar a delegação ucraniana e ao que parece o encontro vai mesmo realizar-se na região fronteiriça da Bielorússia. Espero que se concretize e, sobretudo, que abra caminho para uma solução pacífica da qual os primeiros beneficiários serão os povos da Ucrânia e da Rússia.

Como tenho vindo a afirmar estou do lado da PAZ, mas estou contra um lado, a NATO. Esta organização, criada como sendo defensiva, é responsável pelos maiores conflitos bélicos das últimas dezenas de anos. Apesar dos revisionismos e apagões históricos não falta informação sobre o assunto, assim queiram manter-se atentos e críticos face às narrativas que promovem os conflitos. 

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de fevereiro de 2022


sábado, 26 de fevereiro de 2022

símbolos

É aflitivo verificar alguns comentários nas redes sociais sobre o conflito russo/ucraniano, que como sabemos extravasa fronteiras e serve os interesses dos senhores da guerra. Isto torna-se mais grave quando acontece nas televisões e outros órgãos de comunicação social, onde já teve início a habitual divulgação de fake news, como seja o caso das imagens de um vídeo jogo que foram transmitidas como se tratassem e imagens do cenário de guerra. Assumiram o erro, mas as imagens ficaram na retina dos telespectadores. Enfim!

A diabolização de um lado e o branqueamento do outro não ajudam ao que, supostamente, todos desejamos, a PAZ.
A utilização de uma linguagem do tempo da guerra fria e as tentativas de fazer crer à opinião pública que a Rússia continua a ser um país socialista, acicatam os ânimos e não contribuem para o fim do conflito, pois, dão força a um dos lados, que não está diretamente envolvido no conflito e reforçam a sua estratégia.

O sistema político russo é, como julgo saberem, um regime capitalista. Digamos uma democracia liberal, como são os sistemas políticos dos Estados Unidos, da maioria dos países da União Europeia e da própria Ucrânia, cada um com as suas próprias idiossincrasias, mas não deixam de o ser. O que me espanta é que as democracias liberais não mereçam reparos quando se trata dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ucrânia, mas na Rússia seja um problema. Vá-se lá entender.

Quando as redes sociais são invadidas pela bandeira (seja ela ucraniana, russa, da União Europeia ou dos Estados Unidos) toma-se um lado. E esse lado, quer queiram, quer não, fomenta o conflito e compactua com a guerra que afirmam não desejar.

Como disse na publicação anterior eu também tenho um lado, o lado da PAZ.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 26 de fevereiro de 2022

 

do lado da paz

A Rússia decidiu fazer o que os Estados Unidos e A União Europeia tanto desejavam. Não sei se estavam esgotadas, ou não, todas as possibilidades de resolver a questão por via diplomática. Quando a diplomacia falha o desfecho da conflitualidade de interesses adornada pela propaganda só podia ser este. Não sei quem fechou as portas à solução diplomática, mas houve mais que tempo e instrumentos, como o acordo de Minsk setembro de 2014, para que tivessem sido postos em prática pelos signatários e garantidos pela OSCE, pois o acordo foi desenhado sob os seus auspícios.

Quando as portas se fecham à solução pacífica, abrem-se para a violência. A intervenção militar da Rússia pretende resolver, por via da guerra, algumas questões que deviam ter sido resolvidas por via diplomática. E não há inocentes neste processo que se arrasta no tempo.

Há demasiada NATO á volta da Rússia (como muito bem disse um treinador de futebol português), os Estados Unidos querem aumentar a sua área de influência, mas também as exportações de gás liquefeito, mas querem sobretudo fragilizar a economia russa, nada melhor que uma guerra para o conseguir. Por outro lado, a União Europeia tem o papel que costuma ter, neste como em outros conflitos, ajusta-se às posições dos Estados Unidos e, quase sempre sai prejudicada por isso. A certificação do Nord Stream II que reduzia os custos do gás que a Rússia fornece a 13 países europeus foi suspensa unilateralmente pela Alemanha, no âmbito das sanções à Rússia. O prejuízo será dos cidadãos que beneficiariam do gás mais barato.

A situação que se vive hoje na Ucrânia é indissociável dos acontecimentos de 2013 e 2014 (o chamadao Euromaidan) e tudo o que se seguiu ao longo dos últimos 8 anos. Não vou tecer considerações sobre as barbaridades cometidas contra cidadãos ucranianos pelos movimentos nacionalistas e neonazis, como seja, o assassinato de 42 cidadãos em Odessa, mas não posso deixar de referir o incumprimento, pelo governo ucraniano, do acordo de Minsk (setembro de 2014) e os seus efeitos sobre as populações ucranianas da região do Donbass. A guerra na Ucrânia teve o seu início há oito anos, mas só agora alguns se deram conta.

Não deixa de ser algo hipócrita que os cidadãos que hoje se manifestam horrorizados e apelam à paz, tenham ignorado as vítimas do golpe de estado de 2014, na Ucrânia, apoiado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, e a guerra civil que dura há 8 anos na região do Donbass. Mas não só, não vejo os mesmos cidadãos que agora rasgam as vestes e hasteiam bandeiras nos seus murais das redes sociais condenarem outras guerras, do passado recente e do presente. A intervenção na Yoguslávia, na Líbia, no Iraque, na Síria, ou a invasão de Israel ao território palestiniano, a guerra no Yemen e as intervenções na Somália. A estes poderiam somar-se muitos outros conflitos que foram acontecendo e aos quais a resposta cidadã foi de passividade e, em alguns casos, até de apoio. Validando assim a política bélica que é promovida pelos Estados Unidos e pela NATO, com a cumplicidade e apoio político da União Europeia.

Antes de continuar tenho de fazer, assim como, uma declaração de intenções: a minha simpatia pelo presidente da Rússia é igual à que nutro pelo Presidente dos Estados Unidos ou à simpatia que tenho pela presidente da Comissão Europeia, nenhuma. Isto é numa escala de 0 a 10, a minha simpatia em relação a estas três personalidades é 0 (zero). Trata-se de capitalismo puro e duro e, como sabem, capitalismo eu combato.

A intervenção militar despoletou de imediato o reforço das sanções, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, à Federação Russa. Como em situações similares serão os povos, desde logo, do país destinatário, mas também dos países que as promovem, as grandes vítimas destas medidas. Se os conflitos bélicos são condenáveis, também as guerras que os antecedem devem merecer a nossa condenação. O povo russo e o povo ucraniano serão as principais vítimas de interesses que não atendem à condição humana, consideram apenas a satisfação do lucro a qualquer preço.

Após escassas horas começa a vislumbrar-se a vontade dos principais intervenientes chegarem a entendimento. O presidente ucraniano manifestou abertura para dialogar e garantir a neutralidade do seu país, por outro lado o presidente russo já respondeu dizendo que está disponível para dialogar, ao mais alto nível, com o governo ucraniano.

Um bom sinal para todos os amantes da paz, mas sobretudo para o povo russo e ucraniano, resta saber como vão reagir os Estados Unidos e a União Europeia que, em relação a este conflito, têm sido tudo menos neutrais. O presidente Zelensky já percebeu que a Ucrânia, para os Estados Unidos e para a União Europeia, não passa de um peão descartável neste tabuleiro de xadrez jogado entre os Estados Unidos e a Federação Russa, jogo em que a União Europeia toma parte ao lado dos Estados Unidos. É o capital a deixar cair a máscara e a mostrar a sua face inumana.

A minha condenação estende-se a todos os intervenientes neste processo. Mas eu estou, como sempre estive, de um lado. O lado da PAZ.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 25 de fevereiro de 2022


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Ucrânia é pretexto para apertar o cerco à Rússia*

 

imagem retirada da internet
Entrevista ao DI – 01 de fevereiro de 2022


1 - Há alta tensão na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, havendo várias interpretações sobre as causas da situação e os objetivos das partes. Qual a sua visão?

Existem razões históricas e políticas (mais ou menos recentes e, sem dúvida importantes) em que alguns analistas se fundamentam para explicar a presente tensão entre a Ucrânia e Rússia, considero, porém, que a atual situação de “iminente” invasão da Ucrânia pela Rússia, tem raízes bem mais prosaicas, não deixando, contudo, de ser muito preocupantes.

A principal razão é, como sempre, de domínio e hegemonia económica da qual os Estados Unidos não abdicam, ou seja, a questão não se fundamenta nos diferendos entre a Ucrânia e a Rússia, mas nos interesses económicos que os Estados Unidos pretendem obter ao apertar o cerco à Rússia através do seu braço armado, ou seja, a NATO. A expansão da NATO, contrariando a sua própria natureza, tem vindo a aproximar-se perigosamente das fronteiras russas e, se até agora o processo não tem merecido uma posição musculada por parte da Rússia, no caso da tentativa de integrar a Ucrânia na NATO é diferente porque ultrapassa uma linha vermelha inaceitável para a Rússia e que passo a explicar: a resposta a um eventual ataque nuclear, da NATO, à Rússia a partir de território ucraniano, não permite o tempo suficiente (7 mn) para uma resposta, não à Ucrânia, mas aos seus aliados europeus, ou seja, a Rússia perde capacidade de dissuasão nuclear o que colocaria este país numa situação de grande fragilidade perante os seus concorrente económicos e, por conseguinte, os Estados Unidos ficariam com o caminho aberto para atingir um outro objetivo, quiçá o principal, que é como já devem ter concluído, a China. Todos os analistas conhecem este cenário, mas os comentadores do mainstream, vá-se lá saber por quê, não o referem. 

Se a NATO (Estados Unidos) dotasse a Ucrânia com armas nucleares seria o equivalente a que a Rússia instalasse no México uma base militar com capacidade nuclear. Não é, nem num caso nem no outro, de todo, conveniente e o Mundo não ficaria mais seguro.

imagem retirada da internet

2 - Acredita que a situação pode evoluir para guerra aberta? Porquê?

As tensões entre a Ucrânia e a Rússia foram, e continuam a ser, introduzidas externamente sempre na tentativa de que a Ucrânia passe para a esfera de influência da União Europeia, isto é, para a posição de subserviência aos interesses dos estado-unidenses e aos seu tiques imperiais, mas a Ucrânia, apesar das tensões e dos conflitos latentes, mantém com a Rússia relações comerciais que não são despicientes e que já levaram o presidente ucraniano a vir a público dizer para que os Estados Unidos e a NATO baixem o tom e deixem de alimentar a ideia da “invasão iminente”. Veja-se o seguinte: o gás russo que chega à Europa é canalizado através de um gasoduto que atravessa o território ucraniano. A Rússia paga, naturalmente, à Ucrânia a utilização do seu território pelo gasoduto. O valor de 2mil milhões de dólares pagos anualmente à Ucrânia, só por si, são motivo para que a Ucrânia não se deixe enredar em estratégias externas das quais seria a principal vítima nesta guerra económica, mas também num eventual conflito bélico. Por outro lado, o “bombardeio” psicológico está a criar um clima de medo entre os ucranianos, mas não é só, também ao nível económico e financeiro a Ucrânia e a Rússia estão já a sentir os efeitos deste clima de “invasão iminente” como por exemplo na desvalorização das suas moedas e na diminuição das exportações de gás russo para a União Europeia. O défice energético da União Europeia tem sido suprido por importação de gás liquefeito, vindo por transporte marítimo, dos Estados Unidos. Não é por acaso que o preço da energia tem subido nos países da União Europeia que mais necessitam de fornecimento de gás, pois, os estado-unidenses como se sabe são, nos negócios, pouco solidários.

Tenho algumas dúvidas que a evolução desta situação se desenvolva para um cenário de guerra, ou pelo menos a uma guerra que envolva mais do que a Ucrânia e a Rússia, até por que alguns dos membros da NATO não estão dispostos a seguir a estratégia estado-unidense.

3 - Não poucos analistas defendem que a Guerra Fria foi mal resolvida, designadamente no que diz respeito a fronteiras - situações que já tinham sido mal resolvidas no fim da II Guerra Mundial - e ao reconhecimento de zonas de influência. Qual a sua opinião?

 Eu que a chamada “guerra fria” nunca terá acabado. Após alguma latência recrudesceu, mas agora com outra designação, e com um âmbito mais alargado, num outro conceito de guerra, ou seja, a guerra híbrida.

4 - Da última vez que Portugal se aliou a sanções à Rússia, as exportações portuguesas ressentiram-se de forma dramática em alguns setores... Estamos de novo à disposição para novas sanções. Que papel é este que Portugal quer desempenhar?

Infelizmente a diplomacia portuguesa não é autónoma e isso tem custos elevados para o país e para a generalidade dos portugueses. As relações internacionais portuguesas são marcadas pelo seguidismo e pela subserviência a interesses que não são, de todo, coincidentes com o interesse nacional. Veja-se, por exemplo, o caso da utilização da Base das Lajes pelas forças armadas dos Estados Unidos e a triste figura (de cócoras) de sucessivos ministros dos Negócios Estrangeiros face às devidas compensações pelo uso e, reparos pelos danos causados na ilha Terceira.

Ponta Delgada, 31 de janeiro de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 1 de fevereiro de 2022

* título da responsabilidade do Diário Insular