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sábado, 4 de janeiro de 2025

Rosa de Jericó - poesia para a Palestina

imagem retirada da internet
rosa de Jericó

no pomar das laranjeiras
as tuas lágrimas
molham o chão sagrado

no horto das oliveiras
o teu pranto
ecoa no tempo

as lágrimas
inundam corações
despertam consciências

o pranto
retumba como apelo
de humanidade

as lágrimas
fertilizam
o teu chão sagrado

o pranto
é o grito surdo
que brada por liberdade

choro e luto por ti
Palestina
viverás livre do rio até ao mar

das tuas cinzas
vão florir rosas de Jericó

as-salamu alaikum 
aalaikum as-salaam

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 4 de janeiro de 2025

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

ciclos

desenho de João Pires
jardins do tempo

chego com a luz
da Primavera 
e os rosmaninhos em flor

regresso no Verão
ao mar
do meu contentamento

no Outono 
passeio pelas tardes
coloridas de nostalgia

contemplo as árvores desnudas
memórias nas folhas caídas 
aconchego-me nos livros de Inverno


Ponta Delgada, 4 de dezembro de 2024

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

poesia da Palestina (4)

imagem retirada da internet
Eu todo povo


Naquela noite
Sem lua
Sequestrado
Amarrado
Vendado os olhos
Espancado
Torturado
Jogado nu ao frio
De uma cela
Solitária.

Ao ouvir os sons da noite
Sorri…
Nunca estou só
Em mim
Todo meu povo.

Yasser Jamil Fayad

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

poesia da Palestina (3)

As tonalidades da ira

Deixem-me falar na minha língua árabe
antes que também ocupem minha língua.
Deixem-me falar na minha língua materna
antes que também colonizem sua memória.
Sou uma mulher árabe de cor
e viemos em todas as tonalidades da ira.
Tudo o que meu avô sempre quis fazer
foi levantar-se ao alvorecer e observar
a avó prostrar-se a rezar
numa aldeia escondida entre Jafa e Haifa.

Minha mãe nasceu sob uma oliveira
num chão que, dizem, já não é meu;
mas vou cruzar as barreiras, o checkpoint,
os muros loucos do apartheid e voltarei para casa.

Sou uma mulher árabe de cor
e viemos em todas as tonalidades da ira.
Ouviram ontem os gritos da minha irmã,
quando dava à luz num checkpoint
com soldados israelitas olhando entre as suas pernas a próxima ameaça demográfica?
à filha nascida chamou-lhe, Jenin.
E ouviram alguém gritar
«estamos de voltando à Palestina!»
atrás das grades da prisão,
enquanto disparavam gás lacrimogéneo para a cela?
Eu sou uma mulher árabe de cor
e viemos em todas as tonalidades da ira.

Mas dizes-me que esta mulher que há dentro de mim
só te trará o teu próximo terrorista:
barbudo, armado, lenço na cabeça, negro.
dizes-me que mando os meus filhos para morrer?
mas esses são os teus helicópteros,
os teus F-16 no nosso céu.

E falemos um pouco sobre esta questão do terrorismo...
Não foi a CIA que matou Allende e Lumumba?
E quem primeiro treinou Osama?
Meus avós não corriam em círculo, como palhaços,
com capas e capuzes brancos na cabeça
linchando negros.

Eu sou uma mulher árabe de cor
e viemos em todas as tonalidades da ira.
«Quem é essa mulher morena gritando na
manifestação?»
Desculpe. Não deveria gritar?
Esqueci de ser todos os teus sonhos orientais?
O génio da garrafa,
bailarina da dança do ventre,
mulher do harém,
voz suave,
mulher árabe,
Sim, senhor.
Não, senhor.
Obrigado pelas sandwiches de amendoim
que nos atiras dos teus f-16, gosto.

Sim, os meus libertadores estão aqui para matar os meus filhos
chamando-lhe «dano colateral.»

Eu sou uma mulher árabe de cor
e viemos em todas as tonalidades da ira.
Assim, deixa-me dizer-te, que esta mulher que há dentro de mim
só te trará teu próximo rebelde.
Terá uma pedra numa mão e uma bandeira palestina na outra,
Sou uma mulher árabe de cor...
Tem cuidado, tem cuidado,
com a minha ira.

Rafeef Ziadah



sábado, 16 de novembro de 2024

poesia da Palestina (2)

imagem retirada da internet

O DILÚVIO E A ÁRVORE

Quando a tempestade satânica chegou e se espalhou
No dia do dilúvio negro lançado
Sobre a boa terra verdejante
“Eles” contemplaram.
Os céus ocidentais ressoaram com explicações de regozijo:
“A Árvore caiu!
O grande tronco está esmagado! O dilúvio deixou a Árvore sem vida!”

Caiu realmente a Árvore?
Nunca! Nem com os nossos rios vermelhos correndo para sempre,
Nem enquanto o vinho dos nossos membros despedaçados
Saciar nossas raízes sequiosas
Raízes árabes vivas
Penetrando profundamente na terra.

Quando a Árvore se erguer, os ramos
Vão florir verdes e viçosos ao sol
O riso da Árvore desfolhará
Debaixo do sol
E os pássaros voltarão
Sim, os pássaros voltarão com certeza
Voltarão.

FADWA TUQAN

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

poesia da Palestina (1)

 

Oh crianças malcriadas de Gaza





Oh crianças malcriadas de Gaza.
Vocês que me perturbavam o tempo todo
com seus gritos debaixo da minha janela.
Vocês que enchiam de caos e correria
todas as minhas manhãs.
Vocês que quebraram meu vaso
e roubaram a flor solitária em minha varanda.
Voltem,
e gritem o quanto quiserem
e quebrem todos os vasos.
Roubem todas as flores.
Voltem.
Apenas voltem.

Khaled Juma



sexta-feira, 8 de novembro de 2024

da poesia


A propósito do VII Encontro Internacional de Poesia da Macaronésia. 


a poesia é o lugar das palavras que mudam o mundo

Aníbal C. Pires


Ponta Delgada, 08 de novembro de 2024




sábado, 1 de junho de 2024

mulheres da Palestina - a abrir junho

Mulher palestina: coragem, luta, resistência, mãe, poesia. 

E é com a poesia de Mahmoud Darwish que o “momentos” abre junho.







À MINHA MÃE

Tenho saudades do pão da minha mãe,

Do café da minha mãe,

Do carinho da minha mãe...

Estou a crescer,

De dia para dia,

E amo a vida, porque

Se morresse,

Teria vergonha das lágrimas da minha mãe!

Se um dia voltar, faz de mim

Uma sombrinha para as tuas pálpebras.

Cobre os meus ossos com a erva

Baptizada sob os teus pés inocentes.

Ata-me

Com uma mecha dos teus cabelos,

Um fio caído da orla do teu vestido...

E serei, talvez, um deus,

Talvez um deus,

Se tocar o teu coração!

Se voltar, esconde-me,

Lenha, na tua lareira.

E pendura-me,

Corda da roupa, no terraço da tua casa.

Falta-me o ânimo

Sem a tua oração diária.

Envelheci. Faz renascer as estrelas da infância

E partilharei com os filhos das aves,

O caminho do regresso...

Ao ninho onde me esperas!


Mahmoud Darwish


terça-feira, 16 de abril de 2024

a ocidente da ultraperiferia

Uma feliz coincidência que resulta de um convite da Área Sindical das Flores (SPRA), ao qual as Câmaras Municipais das Flores se associaram, vai acontecer a primeira apresentação pública do livro “Destroços à Deriva”. 

Apresentar o meu último livro de poemas na ilha das Flores tem, para mim, um profundo significado. Numa Região como os Açores onde, por força das circunstâncias geográficas, mas também pela vontade dos homens, existe uma tendência para a centralização. Promover a apresentação de um livro de poemas numa das ilhas periféricas da ultraperiferia é, só por si, um acontecimento que não posso deixar de realçar.




Hoje (16 de abril), pelas 20h30mn, no Museu das Lajes das Flores, vou dinamizar uma conversa/tertúlia sobre os “50 anos do 25 de Abril”. Seguindo-se a primeira apresentação pública, por Gabriela Silva (escritora), do livro “Destroços à Deriva”.


Amanhã (dia 17 de abril) durante a manhã e a tarde estarei com os alunos do 3.º CEB e Secundário da EBS das Flores para conversar sobre “Educação e o 25 de Abril”, mas também sobre livros e leitura. 




À noite (dia 17 de abril), pelas 20h30mn, no Centro Cultural de Santa Cruz, terá lugar uma conversa/tertúlia sobre os “50 Anos do 25 de Abril” e a apresentação pública, por Lília Silva (professora), do livro “Destroços à Deriva”.

Agradeço à Área Sindical das Flores (SPRA), à Câmara Municipal das Lajes das Flores e à Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores.

Bem hajam!

Aníbal C. Pires, Santa Cruz das Flores (Hotel Servi Flor), 16 de abril de 2024


quarta-feira, 10 de abril de 2024

a caminho das livrarias

É chegada a hora de desvendar alguns pormenores do livro de poemas “Destroços à Deriva”.

Um novo projeto com a habitual parceria de Ana Rita Afonso, autora da capa e das ilustrações concebidas para os poemas.

Fica a capa e um pequeno excerto do texto introdutório.

(…) A Ana Rita Afonso, companheira de viagem nas minhas incursões literárias, junta-se, de novo, a este projeto editorial. A fusão das palavras com as artes plásticas valoriza, diversifica e atrai novos públicos. As palavras chegam mais longe em virtude da arte pictórica e, esta, por sua vez chega a outros públicos, ainda que as ilustrações, por si só tenham um valor intrínseco e possam constituir-se como uma expressão artística autónoma, ou mesmo independente dos poemas, o mesmo se poderá dizer das palavras. (…)


sexta-feira, 1 de março de 2024

Amira Al-Assouli - a abrir março

Amira Al-Assouli - imagem retirada da internet

Amira Al-Assouli, médica no Hospital Nasser em Gaza, arriscou a vida para socorrer pessoas em Khan Younis com a sua equipa, debaixo do fogo israelita. Perdeu familiares, amigos e a casa, mas continua o seu trabalho em Gaza, Palestina.

Lindas são as mulheres que lutam.

Os olhos do civilizado mundo “ocidental” fecham-se agora, como se fecharam em 1948, perante as atrocidades dos sionistas que ocupam a Palestina.

Até quando vamos continuar a permitir este genocídio!? Só não ouve e não vê quem não quer.

 



"Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar"

 

(...)

"Nada pode apagar

O concerto dos gritos

O nosso tempo é

Pecado organizado."

 

Excertos do poema Cantata da Paz de Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 20 de janeiro de 2024

Amílcar Cabral, pelos 51 anos da sua morte

foto retirada da internet
Passam hoje 51 anos sobre a morte de Amílcar Cabral. O "momentos" assinala esta data prestando assim tributo ao líder que conduziu a luta armada, para a qual foi empurrado, pela independência da Guiné e Cabo Verde (quem fecha as portas à revolução pacífica abre as portas à revolução violenta).

Os caminhos do pós-independência foram diversos para estes dois países para os quais Amílcar sonhava paz, prosperidade, justiça social e económica. 

Os herdeiros políticos de Amílcar Cabral destruíram, quer em Cabo Verde, quer na Guiné-Bissau, o seu projeto político e defraudam a cada dia o sonho e a utopia que mobilizou aqueles povos para se libertarem do colonialismo português.

"Se alguém me há de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios."

Amílcar Cabral

foto de Madalena Pires (2016)

O insurgente Amílcar, como todos os revolucionários, era um humanista e uma personalidade sensível às artes e à libertação pela cultura.

A minha poesia sou eu

… Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo…
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.

Amílcar Cabral, em “revista Seara Nova”, 1946.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Manuel Gusmão - (1945-2023)

Manuel Gusmão - imagem retirada da internet
Excertos da nota do PCP sobre o falecimento de Manuel Gusmão: 

"(...) Manuel Gusmão foi um criador no campo da arte e da intervenção social e política. Teve, através desses dois caminhos nele convergentes, toda uma vida dedicada à cultura: à cultura dos que resistem e lutam, dos que sobrevivem e criam, dos explorados e dos humilhados. Homem, intelectual, militante do seu tempo, intervindo sempre, na poesia e na militância, para fazer um tempo novo. Intelectual de uma profunda cultura, construída e alicerçada no estudo e na estreita ligação com os trabalhadores e o povo português. (...)"

"(...) Manuel Gusmão fala-nos da alegria, “contra todas as evidências em contrário”. Sabendo que a procurava sempre, e sempre com os seus camaradas e com os trabalhadores, porque “Nós somos a esperança que não fica à espera (...)”

um poema de Manuel Gusmão

VARIAÇÕES DO BRANCO

Ergues o olhar: surpreendes por instantes essa hora
em que o mundo envelhece: ténues as variações do branco
parecem dissolvê-lo numa longínqua música, anterior à chuva

Ou será então a imagem submersa de um filme a preto e branco

Há próximo um branco vibrante: o da cal ainda recente
mas que a humidade salina já a espaços mordeu,
recortando as feridas cinza na varanda a que vens.

Não há ninguém aqui. Quem te chame, digo.

Há o branco baço na parede que em frente em vão separa
rua e praia. Tendo já transposto essa fronteira incerta
ou erguendo-se para lá dela há o branco pobre da areia:

As dunas plenárias sustentam os corpos deitados de mar e céu.
Aí é agora o grande branco: o clarão velado e difuso
que guarda e distribui a memória embaciada do azul
e do verde, do oiro e da prata — uma lembrança vã.

Tu escreves no visível do mundo essa névoa branca e desolada

que o motor da paisagem produz. As folhas do ar são como
se fossem as levíssimas pétalas, as vagas sílabas de uma neve –
e essa névoa engolfa, atrasa e apaga na travessia os simulacros

das coisas supostas e imaginadas que o mundo te envia
enquanto esperas por alguém que não virá

quarta-feira, 29 de março de 2023

Green God - um poema de Eugénio de Andrade

Hoje, pelas 18 horas, realizou-se na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPARPD), uma sessão da “Academia das Letras” dedicada a Eugénio de Andrade. Com moderação de Ângela Almeida e intervenções de Paula Sousa Lima e Henrique Levy. Foram lidos alguns poemas por Célia Cordeiro e Aníbal C. Pires.

O público escasseou, mas nem por isso os a sessão deixou de ser útil, interessante e animada para quem se dispôs a passar o fim de tarde numa das acolhedoras salas da BPARPD.

Podia, mas não o vou fazer, elaborar uma síntese das intervenções e da tertúlia que se lhe seguiu, vou apenas referir a (minha) descoberta de um poema de Eugénio Andrade que foi referido pela Professor Eduíno de Jesus e que deixo transcrito para os amantes da poesia de Eugénio de Andrade.


Green god

Trazia consigo a graça
das fontes, quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens, quando desce.

Andava como quem passa,
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia do ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
de uma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 21 de março de 2023

da poesia, da árvore e da floresta

foto de Madalena Pires

A poesia, sendo para comer como disse Natália Correia, é uma necessidade diária. 

Hoje o calendário das celebrações dedica-lhe o dia. A exaltação da poesia coincide com o dia em que a árvore e a floresta se festejam. Não sei se é uma feliz coincidência, não me interessa conhecer as razões que estão na origem deste acaso, se é que foi por mera casualidade, ou outras mais intencionais e historicamente sustentadas razões, não me incomoda e em nada diminui a importância simbólica, mas objetiva e sublime, da poesia como arte, ou a relevância da árvore e da floresta para a qualidade de vida no planeta.

Fica o poema e as imagens para celebrar este dia partilhado.





foto de Madalena Pires

QUAND
O VIER A PRIMAVERA 

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

ALBERTO CAEIRO


segunda-feira, 20 de março de 2023

dos equinócios

foto de Aníbal C. Pires



Hoje acontece o Equinócio da Primavera e inicia-se a estação do ano que dá o nome a este fenómeno astronómico.

Amanhã celebra-se a floresta e a poesia.

O “momentos” assinala a chegada da Primavera com  imagens e uma poesia primaveris.





Agora
foto de Madalena Pires

Abre-te, Primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.
Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.

Miguel Torga

quinta-feira, 16 de março de 2023

Pelo centenário de Natália Correia

imagem retirada da internet

Em setembro passam cem anos do nascimento de Natália Correia. Hoje regista-se a passagem dos trinta anos da sua morte.

Prefiro celebrar-lhe a irrequieta e excitante vida literária ao invés do fim do seu voo.

Esta entrada no “momentos”, no dia em que o calendário assinala a sua morte, celebra a vida e obra de uma mulher controversa, intempestiva, teatral e capaz dos maiores dislates.

Amada, odiada e ignorada. Não era possível ficar indiferente a esta mulher e à imagem que cultivava. Confesso que nunca fiz uma aproximação à sua obra, tenho-a evitado por alguns aspetos, para mim ainda não muito claros, da vida pública de Natália Correia. Eu, pecador me confesso, tenho-me, por preconceito, alheado da obra de Natália. 

O Colóquio comemorativo do centenário de Natália Correia promovido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, cuja curadoria científica foi da responsabilidade de Ângela Almeida, contribuiu para eliminar a minha resistência à obra da poeta, mesmo que as minhas dúvidas sobre alguns aspetos da vida pública e política de Natália Correia se tenham adensado. É chegado o momento, apesar de todas as reservas que mantenho em relação à cidadã, de conhecer um pouco mais da sua obra lírica e literária.

Ontem, à margem do Colóquio, numa pequena tertúlia com alguns dos oradores do evento li, a convite de Ângela Almeida, três poemas de Natália Correia e gostei.


Manhã cinzenta

Ai madrugada pálida e sombria
Em que deixei a casa dos meus pais...
E aquele adeus que a voz do mar trazia
Dum lenço branco, a acenar no cais... 

O meu veleiro – era de espuma fria –
Levava-o o furor dos vendavais.
À passagem gritavam-me: onde vais?
Mas só o meu veleiro respondia.

Cruzei o mar em direcções diferentes.
Por quantas terras fui, por quantas gentes,
Nesta longa viagem que não finda.

Só uma estrada resta – mais nenhuma:
Na ilha que o passado envolve em bruma,
Um lenço branco que me acena ainda...

Natália Correia

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

poesia da escarpa aprumada e da fajã de encantamentos. poesia do mundo.





Apresentação do livro

Vivências, Aníbal Raposo, Letras Lavadas, 2022“

Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, 3 de fevereiro de 2023, 18h Açores

 




Se escassa for a água o barco voa.

Aníbal Raposo, In Vivências, Letras Lavadas, 2022

Quando o Aníbal, a quem agradeço a confiança em mim depositada, me convidou para apresentar o seu livro “Vivências”, convite ao qual anuí sem reservas, fui invadido por sensações contraditórias. Por um lado, a inquietude que tamanha responsabilidade implica, por outro a surpresa do convite, afinal em comum partilhamos o primeiro nome e pouco mais. É certo que sempre acompanhei, à distância, o trabalho criativo do Aníbal, mas nunca com ele privei. Alguns encontros fugazes onde houve sempre lugar à troca de palavras que versavam sobre o lugar e o evento, mas pouco mais que isso. Sempre admirei e respeitei o cidadão e o artista, mas é a primeira vez que o digo publicamente. Da sua obra conhecia alguns poemas, algumas canções e, mais recentemente, alguns trabalhos pictóricos que tive oportunidade de apreciar numa exposição que teve lugar num espaço de animação noturna de Ponta Delgada, mas também de cultura, e onde aconteceu uma dessas breves conversas, nesse dia, naturalmente, sobre as incursões do poeta e músico nas artes de combinar as cores e as formas diluindo-as ao sabor dos seus amores e inquietações.

Ao receber o livro que hoje publicamente se apresenta regressou a minha inquietação. O que dizer, sobre o Aníbal e o livro, se está tudo dito. O excelente prefácio da Paula Sousa Lima diz-nos da estrutura do livro e da lírica dos seus versos, ou seja, apresenta-o. A badana informa o leitor do essencial sobre o autor. Que fazer!? Talvez ler alguns dos seus poemas. Também não. A Eleonora e o Sidónio têm essa tarefa a seu cargo e, o autor em parceria com o “Maninho” vão cantar algumas das poesias que foram musicados.

Ao mergulhar na leitura dos poemas do Aníbal Raposo foi regressando alguma tranquilidade ao meu espírito. A cada poema uma descoberta, a cada estrofe um homem novo, a cada verso a rebeldia do poeta.

E aqui estou, na vossa agradável companhia, para tentar acrescentar algumas palavras ao muito que outros e o próprio autor já disseram sobre “Vivências”. Palavras que não têm a pretensão de se constituir como uma recensão e, muito menos como uma análise de índole literária, são apenas palavras que resultam da minha opinião de leitor. Palavras cujo propósito é contribuir para divulgar o livro, mas também despertar um justo interesse pelo seu autor e a sua obra.

sobre o autor

imagem retirada da internet

Procuramos planícies de entendimento,

Encontramos muralhas de distância. (…) 

Aníbal Raposo, In Vivências, Letras Lavadas, 2022

 Aníbal Raposo é, antes de mais, um cidadão que não abdica da verticalidade que a coluna vertebral confere a alguns humanos. Não será por acaso que nos seus versos encontramos bastas vezes as palavras: prumo; aprumado; ereto. Como, por exemplo neste verso:

“(…) que se ergue aprumado, forte (…)

O seu modo de estar na vida, a sua verticalidade, não o impedem de olhar e ver o que brota do chão, o voo dos milhafres a riscar o céu, ou os horizontes utópicos que desenha para os lugares e as gentes que ama.

O autor é um espírito irrequieto, a sua precoce intervenção artística confirma esta apreciação. Na sua juventude integrou o orfeão da sua escola (Antero de Quental), bem assim como o coro da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, para o qual compôs alguns temas, ao tempo, inovadores. A sua vida académica está, também, marcada por uma intensa atividade artística ligada ao Teatro Universitário do Porto (TUP) e ao seu coro, do qual foi cofundador.

O desassossego do Aníbal Raposo não se quedou pela juventude e pela entrada na idade adulta. A sua atividade criativa na poesia e na música prolongou-se, para nosso contentamento, ao longo da sua vida que lhe desejo longa e profícua, seja na música, seja na poesia, seja noutros territórios de intervenção artística, de que a capa do livro “Vivências” é, apenas, um exemplo das suas obras pictóricas.

 “(…) sou um barco singular/amo a tempestade.”, diz o autor num dos seus poemas. E é desta singularidade e deste amor que tem nascido a sua vasta obra. Compositor, poeta, cantor, ou se preferirem cantautor, mas também artista plástico.

Aníbal Raposo é um criador cultural multifacetado, reconhecido pela generalidade do público e agraciado pelos órgãos de governo próprio da Região Autónoma dos Açores.

 

sobre a sua obra

(…)  Ai, quem me dera ser garça
E voar no canal (…) 

Aníbal Raposo, In Vivências, Letras Lavadas, 2022

A produção artística de Aníbal Raposo é vasta, como já referi, e merecida de maior divulgação. A edição deste livro vem, para além do seu valor intrínseco, contribuir para a difusão da vida e obra do autor e, por consequência, potenciar a conquista de outros públicos para a música e a poesia do obreiro de “Vivências”.

A minha geração conhece bem o papel que o Aníbal Raposo, sozinho, ou acompanhado, teve na recriação do cancioneiro popular açoriano. Quem não se lembra do “Tema para Margarida”, letra e música do Aníbal e popularizado, na voz de Piedade Rego Costa, na série “Mau Tempo no Canal” adaptado para televisão, por Zeca Medeiros, a partir do romance homónimo de Vitorino Nemésio. Mas este tema, de que gosto muito, mesmo muito, foi também utilizado na banda sonora do filme “A Antropóloga”, do realizador brasileiro de Santa Catarina, Zeca Pires. A voz foi, neste caso, de Helena Margarida Silva Lavouras. Este filme teve o apoio institucional da Casa dos Açores de Santa Catarina, possivelmente sustentado nos fundos da Direção Regional das Comunidades, ou seja do Governo Regional. “A Antropóloga” nunca passou nos Açores, embora toda a estória se desenrole num dos redutos açorianos, a Costa da Lagoa, Lagoa da Conceição, na ilha de Santa Catarina. O filme, para quem estiver interessado, está disponível no Youtube.

Este foi assim como um aparte. Pelo meu apego ao poema e à música, mas também para que se fique com uma ideia mais precisa e aprofundada da dimensão da obra do autor que hoje aqui partilha connosco o seu livro de poesia “Vivências”.

Mesmo considerando não haver necessidade pois, a sala está recheada de amigos e admiradores do Aníbal Raposo, e a badana do livro contém essa informação, ainda assim, deixo algumas referências à sua obra discográfica e poética.

O autor está representado em várias antologias de poesia contemporânea, e editou, em 2009, o livro de poemas “Voos da Minha Fajã.”

Colaborou em várias produções televisivas, tem participação em inúmeros trabalhos discográficos e regista seis discos editados.

Maré Cheia, 1999; A palavra e o canto, 2006; Rocha da Relva, 2013; Mar de Capelo, 2017; Falas & Afetos, 2021; e, Luz do Tempo, 2022.

A obra do autor não se esgotam nestes registos. O contributo do Aníbal Raposo para as artes em que se expressa conferem-lhe uma dimensão de referência na cultura açoriana.


o livro e os poemas

(…) O palco onde me revelo

O covil onde me encubro. 

Aníbal Raposo, In Vivências, Letras Lavadas, 2022

 Ler os poemas reunidos neste livro foi uma descoberta, hoje posso afirmar que conheço melhor o autor. Quem é, o que sente, o que ama, as suas inquietações e convicções, as suas insurgências, os lugares que habita, as suas utopias, os ritmos e a musicalidade poética do músico e compositor, e dei-me conta da tranquilidade que habita o espírito irrequieto que faz do Aníbal Raposo um cidadão que não deixa a vida passar-lhe ao largo.

Sei que pode parecer abusivo, mas ler os poemas reunidos em “Vivências”, foi como se lesse a autobiografia do Aníbal Raposo, sim porque as autobiografias também podem ter a forma de poemas e não são, necessariamente, uma mera narrativa de memórias datadas. A apreciação é minha e outros olhares são possíveis e legítimos.

A organização temática dos poemas está construída como de uma peça musical se tratasse, ou não fosse o autor um conceituado músico e compositor. Os 10 temas, ou andamentos deste livro, agrupam poemas construídos com a métrica e o formalismo lírico clássico, passa por alguns acordes populares, mas também por momentos de improvisação que libertam o poeta. E é então que o autor se espraia como um rio livre do aperto castrador das margens que, não poucas vezes, limitam o ato criador.

Outras leituras e interpretações são, naturalmente, possíveis, ou não fosse a leitura, em particular da poesia, um exercício e espaço de liberdade.

Tenho evitado, ao longo desta apresentação, o recurso à citação de poemas ou de pequenos excertos para ilustrar algumas das afirmações. É uma opção minha pois, não quero retirar aos leitores o prazer da descoberta e, muito menos tentar colonizar as vossas apreciações e leituras, contudo é chegado o momento de me socorrer de algumas estrofes e versos que à medida que fui lendo sublinhei e que me ajudaram a construir a opinião que estou a partilhar convosco.

O poeta, mesmo sem rima ou talvez por isso, é um sonhador:

“(…) Voa, sem medos e liberto,

pois é sempre do ar que se vislumbra

a toca do saber, que é presa esquiva,

e os ramos onde se ocultam na folhagem,

os frutos mais saborosos da loucura. “


O poeta é atento e capaz de se insurgir:

“As velas da esperança não chegam à costa

Cospem-nos em cima e a gente gosta.

Mil e uma peças, os mesmos atores,

Duas mil mentiras, três mil impostores.

 

Vamos enriçados em patranhas tantas…

Oh mar de capelo quando te levantas?”

 

A glória é efémera, diz-nos o poeta:

“Nasce do chão

aponta ao céu

e ao chão regressa…”

 

O Aníbal sabe o que quer:

“Apontada a norte

Por ser o meu rumo.”

 Não tenho dúvidas que poeta sabe que o Norte é o seu rumo, mas quando navega num corpo de mulher é no Sul que se encontra, sem se ter perdido.

“Batuques africanos no balouçar do teu corpo de gazela.”

Ou,

“Há como um tango argentino no desafio da tua cintura estreita.”

Ou ainda,

“E danças peruanas nas tuas ancas pela alba.

Há calor dos trópicos no aperto dos teus braços tão sinceros.”

 

O amor tem destas coisas, acontece quando e onde tem de acontecer.

E para terminar as citações deixo-vos estes versos que escolhi, não pela sua estética ou lirismo poético, mas para vos tentar abrir um sorriso, como convém no fim desta apresentação. E cito:

“Quem tem medo,

não cria:

- ou mia

ou compra

um cão.


Ao Aníbal Raposo e à Editora Letras Lavadas, enquanto cidadão e leitor, só posso estar grato pela publicação deste livro que, espero eu, não esgote a produção literária e poética do autor e a sua edição.

Obrigado pela Vossa atenção!

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 3 de fevereiro de 2023

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Eugénio de Andrade

imagem retirada da internet



Texto sobre o centenário do nascimento de Eugénio de Andrade escrito para a edição especial do “Barbilho” dedicada ao poeta.







“Eugénio de Andrade viveu dentro das palavras. Ou delas. Talvez as duas coisas.” (…)

Eduardo Bettencourt Pinto(1)  


Eugénio de Andrade: um compromisso com o povo e a terra

A 19 de janeiro de 2023 o calendário das memórias regista o centenário do nascimento de José Fontinhas Neto, conhecido, honrado e agraciado, no país e no mundo da poesia, como Eugénio de Andrade.

E porque a geografia dos afetos determina muito do que viremos a ser, importa não olvidar que o beirão Eugénio de Andrade nasceu a Sul da Serra da Gardunha, na Póvoa da Atalaia, concelho do Fundão, onde viveu a sua meninice e ali retornava amiúde, se é que alguma vez dali se ausentou.

“Estive sempre sentado nesta pedra

escutando, por assim dizer, o silêncio (…)

(..) Estou onde sempre estive: à beira de ser água.

 Envelhecendo no rumor da bica

por onde corre apenas o silêncio.” (…)

(In Os sulcos da Sede)

Eugénio de Andrade cantou as gentes e a terra que o viu nascer. O amor pela Beira Baixa e pelo seu povo transbordam dos seus poemas. “Mulheres de Preto” e “Fim de Outono em Manhattan” são apenas dois exemplos onde podemos colher alguns versos que nos transportam para o sentir do seu povo, para os recantos da sua aldeia, para os sons, as cores, para a suave orografia dos campos que se estendem até à raia de Espanha, para as vertentes graníticas da Gardunha, ou para o pequeno monte onde se ergue Castelo Branco e “a passo largo se caminha para o Alentejo”.

“Há muito que são velhas, vestidas

de preto até à alma.


Contra o muro

defendem-se do sol de pedra;

ao lume

furtam-se ao frio do mundo.” (…) 

(excerto do poema “Mulheres de Preto”)


“Começo este poema em Manhattan

mas é das oliveiras de Virgílio

e da Póvoa da Atalaia que vou falar.

É à sombra das suas folhas

que os meus dias

cantam ainda ao sol.” (…)

(excerto do poema “Fim de Outono em Manhattan”)

Eugénio de Andrade viveu a maior parte da sua vida longe da Póvoa da Atalaia, mas esta aldeia beirã, as suas gentes, os seus labores e a paisagem moldaram o seu modo de sentir e estar na vida. É o próprio Eugénio de Andrade que o afirma: “A minha relação com as terras baixas e interiores da Beira é materna, quero dizer: poética. A tão grande distância do tempo em que ali vivi os primeiros oito anos da minha vida, o rosto de minha mãe confunde-se com a cor doirada do restolho e daquela terra obscura onde emergem uns penedinhos com umas giestas á roda, e alguns sobreiros de passo largo a caminho do Alentejo. (…) (…) camponeses na sua quase totalidade; e quando o não eram, o seu ofício era ainda o de uma relação privilegiada com as coisas da terra: pedreiros, carpinteiros, ferreiros. Fora destes mesteres, o restante da população lavrava, semeava, sachava, colhia. Ou pastava o gado, e fabricava queijo, azeite, vinho, pão. Lembro-me do cheiro dos lagares, das queijeiras, do forno, da forja - eram cheiros que entravam pelas narinas como tantos outros, mas só esses se infiltraram no sangue e aí ficaram, depositados em sucessivas camadas, para sempre, como ficou o aroma das estevas e do feno.” (…) (excertos do texto de Eugénio de Andrade, In Um Olhar Português)

A obra poética de Eugénio Andrade não sendo panfletária é, contudo, comprometida. Com algumas exceções, como por exemplo João de Mancelos (2), a maioria dos estudiosos eugenianos olha para a obra poética deste ilustre beirão apenas na sua faceta lírica vocacionada para o amor, o erotismo e a natureza. Mas a obra poética (de palavra preocupada) e a vida, (anti-institucional), de Eugénio de Andrade, talvez por isso arredada dos holofotes que projetam os encontros sociais e as tertúlias culturais, foi sempre de compromisso e de participação cívica. Os poemas a Chico Mendes e Vasco Gonçalves são, também eles, apenas dois exemplos desta faceta de compromisso cívico e político de Eugénio de Andrade.

(1) Eduardo Bettencourt Pinto, poeta de origem açoriana, nasceu em Angola, vive em Vancouver, Canadá. A epígrafe é um pequeno excerto do prefácio (pp 31) do livro de poemas Cântico sobre uma gota de água.

(2) “Uma palavra preocupada”: A escrita como ofício de cidadania em Eugénio de Andrade, de João de Mancelos.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 20 de dezembro de 2022


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

pelos 95 anos de Eduíno de Jesus

imagem retirada da internet

O poeta, dramaturgo, contista e ensaísta Eduíno de Jesus completa hoje 95 anos.

Parabéns e um abraço amigo.

Para os visitantes do “momentos” fica um dos poemas do aniversariante.



O SOPRO

1

Como tenuíssima espuma de luz

eco perdido

da primeira vibração


algures

no imo do infinito

Nada


2

como um fogo

ainda não e 

jamais acendido


frémito de nenhuma 

coisa ou alma

digamos


3

súbito

explode no âmago da Palavra

irrompe indomável

em todos os sentidos do Sentido


e

o corpo do poema

ergue-

-se


E s p l ê n d i d o !


Eduíno de Jesus (1992)