Para Virginia Woolf
E se todas as comportas forem abertas,
E se essa ânsia estender-se ao máximo,
E se depois ele sair do seu esconderijo,
E se pegar os caminhos que guardo aqui,
E se me tomar onde estou partida em vãos,
E se me subir à cabeça que eu mais descer,
E se assim eu mais permitir de me perder,
E se não houver tempo de mais respirar,
E se explodir todo chão dentro de mim,
E se esse devaneio me conduzir adiante,
E se tudo que guardo for embora junto,
E se essa sede secar de tanto que avança,
E se for essa velocidade a levar o meu ar,
E se houver um motor dentro da carne,
E se vier tão rapidamente que eu não saiba,
E se meus bloqueios não tiverem força,
E se as barragens não forem resistentes,
E se tudo saindo levar minha alma longe,
Eu vou, vou, vou, vou, vou só comigo,
Cair de solidão inteira depois das horas...
E se não há ouvidos para meus apelos,
E se ele não aparece, eu invento tudo,
E se não existem dois nesse meu mundo,
Há somente noite, dedos e procura.
Ricardo Fabião (maio - 2010)