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quarta-feira, novembro 22, 2017

Ateus têm mente menos aberta que pessoas religiosas

Um estudo com 788 pessoas no Reino Unido, França e Espanha concluiu que ateus e agnósticos pensam em si próprios como tendo mente mais aberta que aqueles com fé, mas são de fato menos tolerantes a opiniões e ideias discordantes. Crentes religiosos “aparentam melhor perceber e integrar perspectivas divergentes”, de acordo com pesquisadores em psicologia da Universidade Católica privada de Louvain (UCL), a maior universidade Francofônica da Bélgica. Filip Uzarevic, coautor do artigo, disse que sua mensagem é a de que “mentalidade fechada não é necessariamente encontrada apenas entre os religiosos”. Ele afirmou ao Psypost: “Em nosso estudo, o relacionamento entre religião e mentalidade fechada dependeu do aspecto específico da mente fechada. De forma surpreendente, quando se tratou de inclinações medidas sutilmente para integrar visões que eram divergentes e contrárias às perspectivas da pessoa, eram os religiosos que mostravam maior abertura.”

O artigo do Dr. Uzarevic, intitulado “são os ateus adogmáticos?”, afirma que “irreligião se tornou a norma” em alguns países ocidentais. Ele inspecionou três aspectos de rigidez mental em 445 ateus e agnósticos, 255 cristãos, e um grupo de 37 budistas, muçulmanos e judeus. O estudo afirma que os resultados dos não crentes foram mais baixos que os de pessoas religiosas em “dogmatismo autoavaliado”, mas foram mais altos em “intolerância sutilmente medida”.  

O Dr. Uzarevic afirmou: “A ideia começou com a percepção de que, em discursos públicos, apesar de ambos os grupos religiosos/conservadores e liberais/seculares demonstrarem forte animosidade contra o grupo ideologicamente oposto, de alguma forma o primeiro grupo era mais comumente intitulado como ‘de mente fechada’. Adicionalmente, tal visão do secular sendo mais tolerante e aberto parecia ser dominante na literatura da psicologia.” 

As descobertas também afirmam que a força de uma crença das pessoas tanto em ateísmo quanto em religião é diretamente relacionada com quão intolerantes elas são.

(Independent, com tradução de Leonardo Serafim)

quinta-feira, maio 26, 2016

Saúde mental e religião

Belisário é psicólogo e filósofo
Psicólogo experiente explica o que é saúde mental e como a religião está relacionada com ela

Belisário Marques de Andrade é mineiro de São José do Salgado. Aos 16 anos foi para o então Colégio Adventista Brasileiro, atual Unasp, campus São Paulo – um marco em sua vida. Formou-se em Educação Física pela USP, em Filosofia pela PUC de Campinas e em Psicologia pela USP, nessa sequência. Lecionou no Unasp, na Umesp e na Unicamp. Fez o mestrado e o doutorado na Universidade de Maryland (EUA), sendo o primeiro psicólogo brasileiro adventista a receber o título de PhD na área. Contribuiu para a abertura dos cursos de Pedagogia e Psicologia do Unasp. Durante 20 anos foi colunista da extinta revista Mocidade, e há mais de uma década escreve para a Vida e Saúde. Nos últimos 15 anos, tem se dedicado exclusivamente à psicoterapia individual, de casal e familiar. É casado há quase 60 anos com sua namoradinha da adolescência, a professora e advogada Geny Daré Marques. Contemplar as montanhas verdejantes e altaneiras de Minas Gerais é o hobby preferido do casal.

As realizações do psicólogo mineiro Belisário Marques de Andrade podem ser contadas por décadas. São mais de oito de vida; quase seis de casamento e cinco de profissão. Nesta entrevista concedida ao jornalista Michelson Borges, o experiente psicólogo fala sobre o que é saúde mental, como a espiritualidade pode contribuir ou atrapalhar o equilíbrio emocional e quando é necessário que um cristão busque a ajuda de um psicólogo.

[Clique aqui para ler a entrevista originalmente publicada na Revista Adventista.]

terça-feira, junho 24, 2014

Livros e filmes afetam dinâmica do cérebro adolescente

Personagens da série Crepúsculo
Segundo os cientistas, a literatura afeta o cérebro dos jovens, mas eles ainda não sabem exatamente como. O que eles sabem é que, definitivamente, a mente dos adolescentes é mais suscetível a influências do que a dos adultos – tanto a partir de outras pessoas e experiências, como a partir de livros, filmes e músicas. Por exemplo, a nova febre entre os adolescentes, a saga Crepúsculo, exibida tanto em forma de livros como filmes, poderia estar afetando o funcionamento dinâmico do cérebro adolescente em formas que os cientistas ainda não entendem. Segundo eles, algumas novas descobertas identificaram manchas no cérebro que respondem à literatura e à arte. Educadores, cientistas e autores estão se reunindo na Inglaterra justamente para discutir de que forma esses livros e filmes estão afetando a mente dos adolescentes.

Ao longo da última década, os pesquisadores descobriram que o cérebro adolescente processa as informações diferentemente do cérebro mais maduro. Ele é mais propenso a responder a situações emocionalmente, e menos propenso a considerar as consequências por antecipação racional. Isso porque na adolescência o córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pelo raciocínio e avaliação de risco, passa por um surto de crescimento pouco antes da puberdade, seguido por um período de organização e de supressão das vias neurais.

Os pesquisadores também debateram o impacto das obras nos adolescentes, psicologicamente falando. A série Crepúsculo tem como protagonistas o casal Bella e Edward. A história é de uma adolescente que se apaixona por um vampiro “muito mais velho”. Alguns críticos alegam que a passividade de Bella, e a mensagem de abstinência até o casamento, são antifeministas [pelo menos tem isso de bom, a ideia da abstinência - MB].

A argumentação é de que a história propaga valores muito conservadores que de modo algum endossam o pensamento independente, o desenvolvimento pessoal ou a posição da mulher como uma criatura independente.

Os pesquisadores estão interessados em entender o apelo dessas obras obscuras na mente dos jovens, e porque eles são especialmente cativados por histórias com vampiros, zumbis e temas pós-apocalípticos. [E aqui está o problema, não no conservadorismo em si.]

Os críticos também alegam que os autores de livros destinados a adolescentes devem ter uma responsabilidade moral de incluir positividade e esperança em suas obras. Segundo eles, o mundo precisa estar ciente do quanto os jovens são influenciados por aquilo que leem ou assistem, e se eles leem livros onde não há esperança em nada, isso pode ser prejudicial. [E o que este mundo e a literatura secular podem oferecer de esperança? A verdade é que somente os livros que tratam da vida eterna e da Fonte dela é que podem oferecer a verdadeira esperança.]

quinta-feira, janeiro 30, 2014

“O consumismo da elite é desespero”

Boas relações = menos consumismo
Flávio Gikovate não tem um divã. Quando um paciente chega ao consultório dele, num dos endereços mais caros de São Paulo (a Rua Estados Unidos, nos Jardins), encontra primeiro uma fachada de cimento queimado com portas altas de correr. Depois, pode tomar café na recepção térrea, entre um jardim interno envidraçado e telas coloridas de Claudio Tozzi. Na hora da consulta, sobe por uma escada sem paredes laterais até a sala do psiquiatra e se senta: ou num sofá, ou numa poltrona bem confortável de couro preto. Mas divã, como no nome de seu programa semanal na rádio CBN (No Divã do Gikovate), não tem. “Sempre trabalhei assim, prefiro olho no olho”, diz. Talvez seja o olho no olho, talvez seja o método da “psicoterapia breve” e a promessa de alta em seis meses – que faz com que ele atenda 200 pacientes por ano. Fato é que Gikovate se tornou o confidente de alguns dos empresários e executivos mais bem-sucedidos do país. [Leia a seguir alguns trechos da entrevista.]

Dinheiro anda comprando mais felicidade ou infelicidade?

Esses dias uma moça me perguntou se era possível ser feliz sendo pobre. Estudos de Harvard mostram que se faltar dinheiro para o básico – saúde, comida – provavelmente o indivíduo não consegue ser feliz. Algum para o supérfluo também é importante. Agora, de um ponto para cima, ele pode atrapalhar bastante. O consumismo é muito mais fonte de infelicidade do que de felicidade. O prazer trazido é efêmero, uma bolha de sabão – e em seguida vem outro desejo. Ele gera vaidade, inveja, uma série de emoções que estão longe de qualquer tipo de felicidade. E tudo vira comparação. Outro estudo diz que um indivíduo que ganha US$ 40 mil numa comunidade em que a média é de US$ 30 mil é mais feliz do que se ganhar US$ 100 mil e a média for de US$ 120 mil.

A elite brasileira é consumista demais?

Comecei a trabalhar em 1967, vi a chegada da pílula [anticoncepcional] e a emancipação sexual dos anos 60. Na época, achava-se que essa liberdade iria “adoçar” as pessoas. “Faça amor, não faça guerra.” Mas sexo e amor são coisas diferentes. É triste ver que os ideólogos daquela revolução estavam totalmente errados, porque a emancipação sexual aumentou a rivalidade entre os homens e entre as mulheres, foi criado um clima de competição, atiçou tudo que tinha de ruim no ser humano. Foi um agravador terrível do consumismo. Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero.

Então o sexo é culpado pelo consumismo?

Desde o início, o erótico está acoplado ao consumismo. Nos anos 20, foi preciso introduzir novos produtos que não tinham a ver com necessidades, como o xampu. A ideia que tiveram foi acoplar um desejo natural a um desejo que se queria criar. Então botavam uma mulher gostosa para vender xampu. O consumismo sempre esteve relacionado ao erótico, não ao romântico. O romântico é o anticonsumismo. As boas relações amorosas levam as pessoas a uma tendência brutal ao menor consumismo. A verdadeira revolução, se vier, vai estar mais ligada ao amor do que ao sexo. [...]

Você às vezes se sente estressado?

Cansado. É diferente. Mas às vezes fico um pouco acelerado no pensamento, o que eu não gosto, porque empobrece a reflexão. Tenho a sensação de que o tempo ficou curto, de estar sempre devendo alguma coisa. Você se sente sempre em falta com um livro que não leu, um filme que não viu. Quando eu era moço, tinha cinco ou seis filmes importantes por ano para ver. Hoje, tem cinco filmes por mês. E bons! [...]

E quando as pessoas muito ricas são felizes, o que costuma levar a isso?  

Os executivos que se sentem realizados são aqueles que gostam do que fazem. Às vezes, ficam até viciados. Mas a maior felicidade das pessoas ainda é quando conseguem estabelecer vínculos amorosos de qualidade. Tanto faz ser executivo ou não. É o que tem de mais importante. Gostar do que se faz e ter uma boa parceria sentimental talvez sejam as duas principais fontes de felicidade nesse nosso mundo. 

terça-feira, novembro 12, 2013

A Programação Neurolinguística tira o foco de Deus

E atribui "poder" ao homem
A Programação Neurolinguística (PNL) traz em sua essência a ideia de que a pessoa tem dentro de si a força necessária para mudar sua trajetória e alcançar o sucesso. É bem verdade que temos características e atributos que se potencializados nos farão pessoas de sucesso, mas a PNL postula que tais características são inerentes ao ser humano e que só ele, em resposta ao sugestionamento de outros ou dele próprio, pode conquistar o que deseja. Particularmente, desaprovo quando a pessoa, em nome da “eficácia”, busca dar rumo a sua trajetória por si só com o propósito de atingir o sucesso e assim o faz alienada de uma força superior e acima dela (Deus). Portanto, ainda que a PNL traga em seu bojo alguns elementos interessantes, mas misturados com o erro no sentido de tirar o foco de Deus e colocá-lo no ser humano, torna essa prática ou abordagem destituída de valor para a minha pessoa como profissional com foco em desenvolvimento de pessoas.

No entanto, muitos consultores utilizam a PNL e muitas organizações absorvem seu conteúdo com o objetivo de conquistar a excelência e o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, principalmente em programas de coaching, mentoring, liderança e ações de treinamento e desenvolvimento.

Nesse caso, é preciso saber diferenciar a linha tênue entre quais os elementos coerentes com uma visão cristã e aqueles que contrariam nossa crença tirando o foco em um poder fora e acima de nós (Deus). Assim, a utilização de alguns elementos da PNL e a eliminação do que é deletério precisa passar pelo crivo de profissionais conscientes e críticos, com ética e responsabilidade e, sobretudo, alicerçados na palavra de Deus (Bíblia) e no Espírito de Profecia.

Discorro da temática não porque isso tem acontecido dentro da organização adventista, mas o faço a título de orientação pelo fato de participar sempre em congressos e eventos ligados à área de gestão de pessoas, e observar que ações de capacitação estão impregnadas com vãs filosofias, por isso é preciso cautela na adoção de algumas práticas e na contratação de quem ministrará treinamentos.

O inimigo procura dar uma nova roupagem àquilo que a orientação divina colocou como prejudicial, justamente com o objetivo de enganar e tirar o foco de Deus, por isso temos que ficar atentos.

(Alcides Ferri, palestrante e consultor em RH)

terça-feira, outubro 09, 2012

Um poder invisível da fé

A revista Veja desta semana (5/10/2012) traz a ótima entrevista “Um poder invisível da fé”, com o psiquiatra americano Harold Koenig. Ele afirma que as pesquisas são claras ao relacionar as diversas formas de religiosidade com a prevenção de doenças cardiovasculares e da hipertensão. Quem o entrevistou foi a repórter Fernanda Allegretti. Koenig é professor da Universidade Duke, na Carolina do Norte, e há 28 anos se dedica a estudos que relacionam religião com saúde. Tem 40 livros publicados e mais de 300 artigos sobre o tema. Sua tese é que a fé religiosa ajuda as pessoas em diversos aspectos da vida cotidiana, reduzindo o stress, fazendo-as adquirir hábitos saudáveis e dando-lhes conforto nos momentos difíceis, entre outros benefícios. Koenig, de 60 anos, nasceu em uma família católica, mas hoje, por influência da mulher, frequenta a igreja protestante. Ele esteve recentemente no Brasil para dar uma palestra em Porto Alegre e lançar a edição brasileira de seu livro Medicina, Religião e Saúde – O Encontro da Ciência e da Espiritualidade. Leia a entrevista abaixo, republicada no site da Legrand:

Como o senhor chegou à conclusão de que a religiosidade aumenta a sobrevida das pessoas em até 29%?

Há uma relação significativa entre frequência da prática religiosa e longevidade. Acredito que o impacto na sobrevida seja até maior, algo em tomo de 35%. Três fatores influenciam a saúde de quem pratica uma religião. O primeiro são as crenças e o significado que essas crenças atribuem à vida. Elas orientam as decisões diárias e até as facilitam, o que contribui para reduzir o stress. O segundo fator está relacionado ao apoio social. As pessoas devotadas convivem em comunidades com indivíduos que acreditam nas mesmas coisas e oferecem suporte emocional e, às vezes, até financeiro. O terceiro fator é o impacto que a religião tem na adoção de hábitos saudáveis. Tanto os mandamentos religiosos quanto a vida em comunidade estimulam a boa saúde. Os religiosos tendem a ingerir menos álcool, porque circulam em um meio onde ele é mais escasso e com pessoas que bebem menos. Eles também têm inclinação a não fumar. É menos provável que adotem um comportamento sexual de risco, tendo múltiplos parceiros ou parceiros fora do casamento. Tudo isso influencia a saúde e faz com que vivam mais e sejam mais saudáveis.

Também se beneficiam da fé os adeptos de religiões que proíbem cuidados médicos, como é o caso das testemunhas de Jeová com a transfusão de sangue?

A maioria dos estudos comprova que os benefícios de ser adepto de urna religião são maiores que os malefícios. No caso das testemunhas de Jeová, há pesquisas que mostram que a longevidade deles não é diferente da dos católicos ou dos protestantes. Outro ponto importante é que não há tantas testemunhas de Jeová no mundo. Os grupos religiosos que se opõem a cuidados médicos são muito pequenos em comparação à grande maioria que se beneficia de suas crenças religiosas.

Quem se toma religioso tardiamente também se beneficia?

Quem se toma religioso numa idade mais madura também se beneficia, especialmente dos aspectos psicológicos e sociais. A vida passa a ter mais sentido, a pessoa ganha apoio da comunidade, esperança e interlocutores afinados com o seu jeito de ver o mundo. A consequência é a melhora da qualidade de vida. A saúde física, no entanto, não será tão influenciada porque não dá para apagar os anos de maus hábitos e os estragos feitos pelo excesso de stress.

Ter fé não é o mesmo que seguir uma religião. Do ponto de vista dos benefícios, isso também faz diferença?

Não adianta só dizer que é espiritualizado e não fazer nada. É preciso ser comprometido com a religião para gozar seus benefícios. É preciso acordar cedo para ir aos cultos, fazer parte de uma comunidade, expressar sua fé em casa, por meio de orações ou do estudo das escrituras. As crenças religiosas precisam influenciar sua vida para que elas influenciem também sua saúde.

Como as diferentes religiões se comparam nesse efeito positivo sobre a saúde e a longevidade que o senhor detectou?

Não há estudos confiáveis comparando as religiões. Até porque as mesmas religiões se desenvolvem em ambientes completamente diferentes e são influenciadas por esses ambientes. Um credo cujos benefícios são óbvios no Brasil pode não ter o mesmo efeito positivo sobre as pessoas nos países árabes.

Algumas enfermidades respondem melhor à prática religiosa do que outras?

As doenças relacionadas ao stress, como as disfunções cardiovasculares e a hipertensão, parecem ser mais reativas a uma disposição mental de cunho religioso. O stress influencia as funções fisiológicas de maneira já muito conhecida e tem impacto em três sistemas ligados à defesa do organismo: o imunológico, o endócrino e o cardiovascular. Se esses sistemas não funcionam bem, ficamos doentes. A religiosidade põe o paciente em outro patamar de tratamento. Pacientes infartados que são religiosos, por exemplo, têm menos complicações após a cirurgia, ficam menos tempo internados e, claro, pagam contas hospitalares mais baixas.

O senhor diz que quem vê Deus como uma entidade distante e punitiva tem menos benefícios para a saúde do que quem o vê como um ser compreensivo e que perdoa. Por quê?

A religião pode virar uma fonte de stress se aumentar o sentimento de culpa ou gerar um mal-estar na pessoa por ela não conseguir cumprir com o que a doutrina considera que são suas obrigações religiosas. Não existem pesquisas que constatem isso, mas certamente um Deus punitivo, que vigia e condena seus erros, vai elevar esse stress. Por isso, acho que faz bastante diferença acreditar em um Deus amoroso e misericordioso.

Existem estudos que ligam a religiosidade profunda à ausência da depressão psicológica. O senhor também registrou esse efeito?

Os pacientes que lidam melhor com suas doenças, perdas e incapacidades ficam menos depressivos. Os religiosos suportam melhor suas limitações porque a religião dá significado a essas circunstâncias difíceis. O sofrimento adquire um propósito. O indivíduo não sofre sem razão nem se sente sozinho. As religiões têm inúmeros exemplos de sofrimento: Jesus torturado e crucificado; Jó, que perdeu bens, família, saúde; Maomé, que passou por momentos difíceis na infância. Todos sofreram, e a fé os fez seguir adiante. Um estudo recente da Universidade Colúmbia demonstrou que, quando são religiosos, filhos de pai ou mãe depressivos têm menor risco de desenvolver depressão. Provar que pessoas com fatores genéticos de risco podem ser protegidas pela religião é sensacional.

Muitos pacientes terminais desenvolvem a espiritualidade mesmo sem ter fé durante a vida. O que sua experiência revela sobre essas pessoas?

O que podemos afirmar com segurança é que pacientes religiosos toleram melhor o processo da morte. Eles acreditam que não é o fim e, por isso, não ficam tão ansiosos. Sabem que vão para um lugar melhor, no qual não sentirão mais dor ou mal-estar. Isso afeta a qualidade de vida da pessoa no período terminal e melhora a relação dela com a família.

Qual sua opinião sobre as chamadas cirurgias espirituais?

Os charlatões tendem a se aproveitar de pessoas doentes e desesperadas. Os pacientes que frequentam esses centros, em geral, não recebem benefício algum e se sentem desapontados. Alguns chegam a se revoltar contra a religião. O sofrimento acaba sendo maior porque, a partir do momento em que a pessoa perde a confiança na sua fé, perde também a habilidade de se adaptar à sua condição.

Um estudo da Santa Casa de Porto Alegre mostra que 70% dos pacientes gostariam que o médico falasse sobre religião com efes, mas apenas 15% dos médicos o fazem. Por que isso acontece?

Os médicos não recebem treinamento apropriado sobre como fazer a abordagem religiosa. Eles não sabem trazer o assunto à tona, nem como responder a perguntas do paciente sobre religião. Nos Estados Unidos e também no Brasil, ainda são poucas as faculdades de medicina que tratam do tema. A medicina é considerada uma ciência e, historicamente, há uma grande divisão entre religião e ciência. A religião é muito mais vaga e nebulosa do que a medicina e, por isso, continua não levando muito crédito. Médicos tendem a ser menos religiosos do que a população em geral, então eles não conhecem muito bem o potencial da religião.

Como o médico deve falar de religião com o paciente?

É mais simples do que parece. Só de perguntar ao paciente quanto a religião é importante na vida dele, o médico está abrindo caminho para atender às suas necessidades espirituais. O paciente deve sentir-se confortável falando sobre esse assunto com seu médico. O médico pode, naquele momento mais especial, tentar saber das decisões que um paciente terminal espera dele em situações-limite. Pode descobrir se o paciente terminal quer ser ressuscitado em caso de parada cardíaca, se deseja receber tratamento extenuante prolongado ou se prefere não estender o sofrimento. Ajuda muito o médico puxar assunto com o paciente sobre o que ele pensa da existência dos milagres ou se quer receber orações. O paciente tem de estar seguro de que o médico não vai ignorar ou fazer pouco-caso de suas carências espirituais.

Como deve ser a abordagem com um ateu?

Eu não incentivaria nenhum médico a tentar converter um ateu. Simplesmente porque essa abordagem não funciona. O médico deve apenas conversar com o paciente e tentar compreender as causas que o levaram a ser ateu. Médicos não são pastores ou padres. Nosso trabalho não é catequizar ninguém, é tentar entender o paciente e como sua crença religiosa ou a falta dela influencia sua recuperação e as decisões que vão ter consequências em seu tratamento.

O que o senhor pensa sobre os ateus e os agnósticos?

Acho que eles estão mais adiante no caminho religioso do que muita gente que nunca questionou sua religiosidade. Algumas pessoas são religiosas simplesmente porque os pais são e nunca pararam para pensar sobre isso. Para decidir ser ateu ou agnóstico, o indivíduo tem de questionar a si mesmo e a religião. Refletir sobre isso é um progresso. Mas sugiro a essas pessoas que mantenham sempre a mente aberta. Apenas uma fração do mundo pode ser explicada pela ciência. Há muitas coisas que não são claras na vida para afirmar categoricamente que Deus não existe. Noventa por cento da população mundial acredita em Deus e, se você faz parte dos 10% que não exercem ou não têm certeza, ao menos mantenha a mente aberta. [...]

Ouça: "Os benefícios da fé na sua saúde"

segunda-feira, maio 07, 2012

Para neurocientista, Jesus era esquizofrênico

O mais renomado cientista brasileiro da atualidade, Miguel Nicolelis, vive entre Brasil, Estados Unidos e Suíça. Às vezes, completa essa triangulação em uma semana e nem sabe em que fuso horário está. Mas isso não o incomoda. Com projetos nos três países, o neurocientista paulista, fanático pelo Palmeiras, tem a ambição de fazer um adolescente brasileiro tetraplégico dar o pontapé inicial na abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Para isso, usará uma veste robótica controlada pela força do pensamento. Desvendar a possível interação cérebro- máquina é um dos grandes desafios de Nicolelis, referência na pesquisa com próteses neurais, cujo trabalho integra a lista das “Dez Tecnologias que Vão Mudar o Mundo”, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Professor de neuroengenharia da Universidade Duke (EUA), tem projetos educacionais igualmente ambiciosos no Brasil. [...] Uma amostra das ideias de Nicolelis está no livro Muito Além do Nosso Eu [...] e nesta entrevista. [Leia alguns trechos abaixo, com meus comentários entre colchetes. - MB:]

[Esquizofrenia] é um processo químico?

Entre outras coisas. No frigir dos ovos, tudo se resume a uma mudança de balanço de neurotransmissor e de atividade elétrica do cérebro. A gente percebe que são pequenas variações que levam você a ouvir vozes, ter delírios. Nos dias de hoje, aliás, a humanidade curiosamente é dominada por três esquizofrênicos que ouviam vozes, olhavam para o céu e achavam que alguém estava falando com eles.

Quem são?

Jesus Cristo, Maomé e Abraão. Muito provavelmente os três precisavam de haldol (medicamento para esquizofrenia). É arbitrária qualquer classificação que defina as bordas da normalidade. Cada vez mais a intolerância e o preconceito esculpem essa borda com seus interesses próprios ideológicos e políticos. Quando você vê o cérebro por dentro e começa a entender o que acontece, percebe como é fácil ir de um lado para outro. [Dizer que era esquizofrênico o Homem que mais marcou a história e que deixou os ensinamentos mais profundos já conhecidos é, no mínimo, grande desconhecimento de causa. A autoridade de Nicolelis em sua área de atuação é indiscutível, mas ele comete um erro muito comum entre cientistas, o de se achar apto a opinar sobre qualquer tema.]

Você falou de três símbolos religiosos. Você é ateu?

Sim, mas acho que a religião faz parte do sistema nervoso. Como o cérebro é um simulador da realidade, ele cria um modelo e uma ilusão de realidade para cada um de nós. Ele precisa de uma história: De onde viemos? Como começou o Universo? [É a típica “explicação” evolucionista para a existência da religião, ou seja, se não pode vencê-la, “sequestre-a” e explique-a segundo sua filosofia. Como o ser humano é religioso desde sua origem e a religião parece longe de ser abandonada, os darwinistas tiveram que buscar uma “explicação” para esse fenômeno, e passaram a afirmar que a fé é, também, fruto de seleção natural. Alguns de nossos supostos ancestrais começaram a crer em algo (talvez numa bola Wilson) e isso lhes foi benéfico (será que já havia endorfinas nesse suposto tempo remoto?). Pronto. Característica vantajosa, acabou selecionada. E a fé está aí até hoje.]

Materialista ou religiosa?

Exatamente. Os pigmeus africanos acham que a gente saiu do céu, que havia uma corda e eles foram descendo. Toda cultura tem uma história [ou toda cultura tem um resquício histórico de crença em Deus no Céu]. O problema é que algumas são excludentes e prejudiciais ao bom convívio da espécie, na medida em que elegem os eleitos e os não eleitos [a religião, infelizmente, também pode ser perniciosa]. [...]

Há energia no cérebro?

Ele tem um campo elétrico e magnético, mas muito pequeno. Não tem como um sinal sair do cérebro, passar pelo crânio e ir da minha cabeça para a sua. É impossível! Mas você pode registrar esses sinais, transmiti-los artificialmente - como a gente já faz - e mandá-los para uma máquina ou, em teoria, para outro cérebro. É nisso que estamos trabalhando. [Curiosamente, uma mulher sem educação formal, em meados do século 19, escreveu sobre eletricidade no cérebro (cf. Conselhos Sobre Saúde, p. 182). Ninguém sabia disso, até então. Teria ela também ouvido vozes?] [...]

Máquina humanizada...

Isso é uma barbaridade científica. Não há nenhum computador que tenha a chance de reproduzir atributos humanos. Isso é pura balela, propaganda ideológica. É uma visão capitalista, de que você não vale nada e pode ser substituído por um robô. A máquina consegue executar movimentos repetitivos. Não consegue escrever poesia, pintar como Picasso, tomar decisões baseadas na natureza humana. Todas as características que fazem a gente ser como é resultam de processos extremamente complexos no cérebro e são fenômenos não computáveis. [Máquinas exigem tremendo design inteligente, muita informação e grandes investimentos. Nicolelis admite a quase infinita superioridade humana sobre as máquinas, mas não crê em Deus, sendo, portanto naturalista/darwinista. Vai entender...]

Isso define o limite da tecnologia?

Claro, ela é uma expressão da nossa capacidade criativa. Por isso são tão interessantes esses achados neurofisiológicos recentes, que mostram que todas as ferramentas que criamos são assimiladas pelo cérebro como uma extensão do nosso corpo: mouse, caneta, raquete de tênis, bola, carro, bicicleta. O cérebro cria a ilusão do que o nosso corpo é. E tudo o que a gente experimenta é uma ilusão; é um modelo do mundo.

Tudo é ilusão?

Sim. Se seu cérebro fosse diferente, você ia ver o mundo diferente. A sua história de vida foi diferente da minha; nós dois olhamos uma rosa vermelha e ela evoca memórias peculiares em cada um. Até recentemente a gente achava que a sua experiência e a minha, ao olhar uma coisa assim, era a mesma. Hoje a gente sabe que não é: o cérebro tem uma opinião. Esse ponto de vista foi construído ao longo da sua vida e da minha e ao longo da nossa espécie do ponto de vista evolutivo. Nosso cérebro vai ter um papel cada vez mais relevante na ampliação do nosso alcance como espécie. O nosso corpo vai perder relevância. [Se é assim, por que devo confiar nas conclusões a que meu cérebro chega? Ou nas conclusões a que qualquer cérebro chega? Por que devo aceitar a opinião subjetiva de um ateu em detrimento da de um teísta, se tudo é ilusório e resultado de nossa “história de vida”?] [...]

Como você cuida dos neurônios?

Pensando. Desafiando a mente a pensar em coisas a que não estou habituado. É como um exercício físico.

Não cansa?

Demais. Tem dias que o esforço é tanto que eu capoto e acordo no outro. Estou ligado o tempo inteiro. Para mim isso não é trabalho, é prazer. [...]

Isso prejudica o Brasil?

A ciência brasileira é muito provinciana. A academia de ciências também, e a maneira de financiar é cartorial. Nosso modelo é um dos mais perniciosos para um jovem cientista penetrar. Os sujeitos mais seniores dominam tudo e se você não tem um padrinho não consegue nada, porque é clube fechado. Nos Estados Unidos é o contrário: as possibilidades de financiamento para os jovens são garantidas de forma a assegurar uma renovação contínua de talentos. Aqui, o negócio é manter o status quo. [Mas os americanos não são considerados retrógrados por certos cientistas tupiniquins, justamente pelo fato de que grande parcela daquela população crê na Bíblia? A religião cristã não seria fator de atraso? Pelo jeito, não.]

[Com todo respeito à genialidade de Nicolelis, essa entrevista deixa mais uma vez evidente que uma coisa é o conhecimento técnico de uma pessoa, outra são suas subjetividades. A excelência numa área não autoriza todos os comentários dessa pessoa com respeito a outras áreas, especialmente no que diz respeito a temas religiosos/filosóficos. – MB]

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Resposta a um leitor: sobre depressão e cosmovisões

[A resposta a seguir foi dada a um leitor que comentou/criticou a postagem “Não há vantagem evolutiva na depressão”.] Prezado D., e-mails como o seu são como uma lufada de esperança de que é perfeitamente possível o bom e educado diálogo entre defensores de cosmovisões variantes. Você não imagina a quantidade de reações mal-educadas que costumo receber, carregadas de argumentos ad hominem. Por isso, dada a sua educação, como eu poderia deixar de lhe responder?

Quero começar dizendo que compreendo perfeitamente sua maneira de pensar (até porque já a esposei, de certa maneira) e a respeito.

Você diz que minha opinião é “influenciada” por minha crença religiosa. E como não seria? Você sabe muito bem que a visão de mundo que defendemos sempre será influenciada por nossos pressupostos filosóficos, por nossas idiossincrasias, preconceitos e formação familiar/acadêmica. O importante é termos consciência disso, especialmente quando vamos interagir (sempre em atitude de respeito) com pessoas que sustentam cosmovisões diferentes, como parece ser o nosso caso.

Agradeço a explicação do processo desencadeador da depressão. Muito elucidativa. Na verdade, pude constatar a veracidade de suas palavras na experiência de alguém muito próximo que experimentou essa triste realidade. O que quis com meus comentários ao texto do Dr. Richard Friedman foi destacar o fato de que nem tudo pode ser explicado do ponto de vista da “teoria-explica-tudo” (darwinismo). Os evolucionistas são especialistas em “sequestrar” pesquisas e descobertas e encaixá-las em sua visão naturalista. Note que o Dr. Richard procura evidenciar a nocividade das consequências extremas da depressão sobre o organismo – essas, sim, nem um pouco vantajosas para a sobrevivência do mais apto, pois podem até mesmo levar a pessoa à morte, na pior das hipóteses, ou desencadear problemas físicos desvantajosos, na “melhor” das hipóteses. Não fosse a intervenção médica/terapêutica, nesses casos, a depressão deixaria de ser “vantajosa”, ainda que seja encarada como consequência indireta.

“Transtornos” herdados. Na verdade, nem precisamos falar apenas de doenças. Podemos ficar com outros aspectos negativos próprios da humanidade: a morte, o envelhecimento, o egoísmo, etc. Tudo isso acaba vindo no “pacote”, quando nascemos. Claro que os naturalistas tentarão ver vantagem até nisso, mas quem disse que essa é a interpretação correta dos fatos? Aqui minha cosmovisão me faz interpretar as coisas de maneira diferente (e por que minha visão estaria necessariamente errada? Que evidências você poderia me apresentar para “provar” que o teísmo está errado? Na verdade, com todo respeito, considero temerária sua posição de não levar a sério a existência de Deus. Certamente, seu posicionamento filosófico não está baseado em fatos e nem o pode; portanto, pense na perda que pode advir disso, caso você esteja errado...).

Permita-me fazer uma citação: “Muitos cristãos caem no que J. I. Packer chama de Erro de Sinaleira de York. No pátio de manobras de trem na cidade de Nova York, há um centro de controle contendo um painel eletrônico que mostra, por meio de luzes, a posição de cada trem no pátio de manobras. Na torre de controle, alguém que vê o painel todo pode entender exatamente por que um trem específico foi colocado num determinado lugar ou por que outro trem ficou num desvio em outro lugar, ainda que, para alguém que fica no mesmo patamar dos trilhos, os movimentos dos trens podem parecer inexplicáveis. O cristão que quer saber por que Deus permite cada fracasso em sua vida tem pedido, diz Packer, para estar na caixa de sinal de Deus. Todavia, tanto em tempos bons como maus, não temos acesso a ela. Portanto, é inútil nos torturarmos tentando descobrir a razão pela qual Deus permitiu que este ou aquele desastre abatesse nossas vidas” (J. I. Packer, Knowing God, p. 110, 111, citado por William Lane Craig, Apologética Para Questões Difíceis da Vida, p. 75).

Esse erro não é apenas dos cristãos. Na verdade, com nossa mente finita, às vezes tentamos entender os motivos do Infinito (inciativa que não está de todo errada, mas deve ser levado em consideração o fato de que muitas atitudes de Deus nos serão incompreensíveis). Deus poderia ter criado um mundo sem dor e sofrimento? Sim, mas não um mundo em que houvesse liberdade de escolha – e a latente possibilidade de que o mal se manifestasse. E se há o mal é porque há o bem. E se ambos podem ser definidos e diferenciados, deve haver um referencial maior para servir de baliza. E se Deus entende que a dor e o sofrimento (não planejados por Ele) podem ajudar em Seu plano maior de resolver esse problema em definitivo, como os pais que levam um filho ao dentista visando ao seu bem? (Mais uma vez, a comparação é tremendamente limitada, mas de certa forma útil.)

Gostaria de lhe sugerir que lesse o livro Em Guarda, do doutor em filosofia e teologia William Lane Craig. Nele, o Dr. Craig trata demoradamente dessas e outras questões que estamos discutindo aqui. Acredite: existem bons argumentos para essas questões e eles deveriam ser considerados por você. Com respeito às ideias criacionistas, indico-lhe o meu livro A História da Vida, no qual agrupo e explico os principais argumentos do modelo.

Quando me referi a “comportamento nocivo ou condenável”, obviamente, não estava me referindo à depressão, mas, sim, a coisas como a violência e a injustiça. Levando a extremos o pensamento evolucionista, até mesmo o tratamento de coisas “vantajosas” como a depressão seria impróprio. Por que procurar a cura (ou amenizar os efeitos) de algo que foi selecionado por ser vantajoso? Aliás, por que cuidamos de doentes e portadores de deficiências? Deixemos a seleção agir para o bem da espécie... Claro que isso é absurdo, tendo em vista a compaixão que nos move (boa parte de nós, pelo menos). Mas quem disse que – levando-se em conta que nossos processos mentais são oriundos de um emaranhado de matéria, moléculas e átomos, resultado de milhões de anos de evolução – esses sentimentos são corretos e relevantes? Num contexto puramente naturalista, por que devo me pautar pelo amor, pela compaixão e por outros sentimentos tidos como nobres?

Você fala em “saber se respeitar”, “saber os seus limites”. Mas eu pergunto: Quem ou o que determina esses limites? Em nossa sociedade fortemente influenciada pelos valores judaico-cristãos, prega-se a solidariedade; em outras, as pessoas se devoram umas às outras, “numa boa”. Quem determina que Madre Tereza de Calcutá agiu corretamente e Hitler, não? Curiosamente, a “disposição humana” a que você se refere, quando agiu de modo diverso do pregado pelo cristianismo (mesmo quando cristãos fizeram isso), ocasionou problemas e sofrimento desnecessários.

Que evidências concretas você pode me apresentar de que a moral/ética não existe? O que deve caracterizar um comportamento como “valioso”? Valioso e relação a quê? Quem ou o que determina o que não tem valor, nesse caso?

Você diz: “Se prender a princípios que não apresentem correspondência com a realidade em questão é simplesmente se declarar perdedor, pois, apesar de esses sentimentos [como o amor, por exemplo] serem grandemente universais, nem sempre eles nos favorecem ou podem ser aplicáveis a certos contextos.” Você se dá conta da gravidade e das sérias implicações de suas palavras, se levadas às últimas consequências? Ditadores adoram esse tipo de pensamento e se justificam com ele. É justamente por isso que o cristianismo (se corretamente vivido) é loucura para muita gente. Como assim dar a outra face ao que me agride? Como assim amar quem me persegue? Como assim dar a vida para salvar quem não está nem aí para mim? Bem, foi exatamente isso que o fundador do cristianismo fez. Ele viveu sob os princípios do Céu e não perguntou se eles tinham correspondência com a realidade de um mundo de pecado. Alguns podem até considerá-Lo perdedor por isso, mas Ele mudou a história do mundo e, mais importante do que isso, tem mudado a história de muitas pessoas que resolvem viver essa “loucura”.

Jamais afirmei que “não há um processo de mudança e herança de características biológicas”. Dizer isso seria ignorância científica. O que insisto em defender, como criacionista, é que, embora haja mudanças e transmissão de características genéticas, elas não são e nunca foram responsáveis por acréscimo de informação complexa e específica necessária para aumentar a complexidade dos seres vivos. Defendo a diversificação de baixo nível (microevolução), posto que é fato, mas me oponho à macroevolução, pois se trata de extrapolação metafísica a partir de dados interpretados sob a ótica darwinista. A herança de caracteres ruins é resultado de um processo “natural” de decadência desencadeado pelo pecado (sei, você questiona isso, pois não aceita a revelação que Deus faz dessa história). Mas logo isso será resolvido pelo mesmo Deus que nunca quis que Seus filhos livres fizessem a má escolha que fizeram.

Mais adiante, em seu e-mail, você escreve: “Não tenho intenções de entrar em discussões filosóficas [na verdade, já entramos, pois é inevitável], mas você não acha que vocês (religiosos) são os que mais fazem isso? E ainda acusam quem faz ciência séria [você não sabia que muitos criacionistas fazem ciência séria? Posso lhe dar vários nomes] e que, obviamente, está mais qualificado profissionalmente [outro juízo de sua parte] para estudar essas coisas desse comportamento que vocês são os que mais praticam a troco de politicagem e da vontade, com todo o respeito, infantil de disputar a verdade? [ao acusar religiosos de fazer politicagem, infelizmente, você toma a parte pelo todo; eu poderia cometer a mesma injustiça se acusasse os cientistas de fraudulentos com base no fato de que muitos deles forjam evidências e manipulam dados em pesquisas – e isso está documentado]. Será que é tão doloroso assim estar errado sobre algo?” Na verdade (pelo menos falo por mim, que sou religioso), não se trata de “disputar” a verdade, mas, sim, de seguir as evidências aonde forem dar. Você diz não se preocupar com a ideia de Deus, com a possibilidade de Ele existir, embora haja sérios argumentos na defesa dessa verdade; embora muita gente séria se dedique a essa discussão. Por que evita o assunto? Por que não o encara de maneira séria, analisando os argumentos, concedendo ao tema o “benefício da dúvida” (sincera)? Por que não ser um cético de verdade que, segundo Chesterton, é aquele que duvida até de si mesmo? Não me preocupo em “disputar a verdade”, mas, se ela existe, quero conhecê-la e estar ao lado dela, afinal, como disse Richard Whately, “mais importante do que ter a verdade do nosso lado é estar do lado da verdade”.

Você cita minhas palavras: “Na verdade, fomos projetados para ser felizes, por isso resistimos tanto e sofremos ante a perspectiva da dor. Se a morte e a doença são elementos ‘naturais’ constituintes do processo evolutivo, por que, depois de supostos milhões de anos e com tanto avanço na compressão da evolução, ainda não nos acostumamos a isso? Simples: fomos criados para não morrer e nunca nos conformaremos com esse intruso chamado morte.”

E então questiona: “E se eu pedir qualquer fato que demonstre suas palavras acima, é muito provável que você nada terá a fazer, visto que não há como demonstrar ‘elementos não naturais’ e muito menos que nós somos ‘criados para não morrer’.”

Na verdade, os cientistas ainda não compreendem devidamente o que desencadeia, de repente, o processo degenerativo que leva à morte? Por que as células morrem? Por que o organismo humano (antes capaz de se renovar constantemente) a certa altura da vida começa a morrer? Os darwinistas podem até teorizar que a morte tem lá suas vantagens, mas não terão respondido à pergunta. Algo parecido ocorre quando se pede que eles expliquem por que e como teria surgido a reprodução sexuada. Vão nos dizer que o sexo é vantajoso, do ponto de vista evolutivo. Ok. Isso é sabido. Mas a pergunta é como surgiu a reprodução sexuada, que depende de duas mutações distintas em organismos distintos, numa mesma geração e num mesmo ambiente, a fim de que esses dois organismos pudessem se encontrar e descobrir que essas duas mutações distintas originaram dois complexos sistemas reprodutores totalmente diferentes, mas totalmente compatíveis?

É verdade que não posso fornecer evidências científicas de que não fomos criados para morrer e que não é possível demostrar elementos não naturais, mas posso reverter esse argumento e perguntar: Você pode me provar cientificamente que o naturalismo filosófico é científico? Se não (como prevejo), por que essa visão metafísica serve de base para a ciência, numa confusão (deliberada ou não) entre método e pressupostos? O método científico (ou naturalismo filosófico) é perfeitamente válido como ferramenta humana usada para entender a realidade física que nos rodeia. Mas e se essa realidade extrapolar a capacidade dessa ferramenta? Se houver algo além da nossa capacidade de aferição? Usar o método científico (que lida apenas com o natural) para fazer afirmações sobre uma realidade que pode ser muito maior do que sua capacidade de observação seria como tentar medir estrelas com fita métrica.

Este é o ponto principal da discórdia: criacionistas não se opõem ao método científico que nos foi legado por cientistas criacionistas como Galileu e Newton. Se opõem a interpretações filosóficas que querem posar de método. Criacionistas nunca negam que sua cosmovisão se compõe de aspectos científicos e teológicos. Como têm muitos (mas muitos mesmo) motivos para crer que a Bíblia é uma fonte segura de informações (mas esse é assunto para outra discussão), criacionistas procuram não limitar sua visão da realidade a apenas uma lente: a da ciência. Se a teologia bíblica lhes parece segura, por que não se valer também dessa lente? Por que ignorar a priori a ciência ou a teologia, como se elas não fossem compatíveis? O naturalismo filosófico e o teísmo bíblico são incompatíveis, enquanto filosofia. No entanto, o naturalismo metodológico nada tem que ver com isso.

Você argumenta que minha visão cristã acaba sendo relativa e que eu tentarei, de qualquer maneira, salvaguardar minha crença tentando não distorcer minhas palavras. A verdade é que sempre pensei que Deus não precisa de advogado. Se o cristianismo é verdadeiro, ele se sustentará por si próprio. Se for falso, acabará sendo superado. O que não posso deixar de fazer é criticar respeitosamente uma teoria que posa de puramente científica (método), quando, na verdade, está entranhada na filosofia (naturalismo). Diferentemente dos darwinistas, os criacionistas não procuram esconder sua vertente filosófica/teológica. Por isso, não preciso “distorcer” minhas palavras, uma vez que sempre vou admitir que há aspectos na cosmovisão criacionista que são aceitos unicamente pela fé – mas uma fé calcada em evidências suficientes, portanto, uma fé racional.

A fé cristã não é relativista, pois é fundamentada na crença de que existe uma verdade absoluta que pode ser perscrutada por mentes racionais – na verdade, a própria conectividade entre a mente e a realidade que a cerca (o que torna possível compreender o mundo em que estamos) revela uma criação com propósito. Poderíamos simplesmente não entender as leis da física, por exemplo. Ou então relativizar todo conhecimento humano. Mas, nessas horas, sendo relativista ou não, acreditamos ser possível entender conceitos absolutos. O relativista defende a verdade de que tudo é relativo, menos essa verdade, em si. E, às vezes, nem se dá conta de que ao defender a inexistência de verdades absolutas está, na verdade, defendendo uma. O cristão não precisa se contradizer dessa forma, pois parte do pressuposto de que existe, sim, verdade absoluta: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, disse Jesus. Se Ele, Deus, é o referencial de verdade, pois é a verdade, podemos, sim, falar em “moral absoluta”. Agora, se Deus não existir, o relativismo realmente passa a ser defensável e o mundo pode virar o caos.

Depois de ler o que eu escrevi sobre a redenção, você disse: “Não vejo meios de desenvolver uma lógica partindo do princípio de um ser perfeito fazendo algo imperfeito, para começarmos. Segundo, se nós somos capazes de perdoar uma desobediência entendendo seus motivos, não vejo motivos para um ser tido como superior não o fazer de forma ainda mais louvável, e não replicando todo o sofrimento e desgraça como um legado de algo passado, similar a um ressentimento humano.”

Vou repetir: Deus não criou “algo imperfeito”, criou seres livres com o potencial para desobedecer, se assim o quisessem. São coisas diferentes. A imperfeição, num contexto de pecado, se originou da deliberada escolha errada consciente de criaturas, não do plano original do Criador. Mas o perdão, por parte de Deus, realmente veio “de forma ainda mais louvável” do que qualquer ser criado poderia conceber. A consequência principal do pecado (ou seja, do afastamento de Deus, a fonte da vida) foi a morte. Longe de Deus (e esse afastamento é o que caracteriza o pecado), o ser humano se tornou mortal – e essa mortalidade foi herdada por todos os seres humanos, não o pecado de Adão. A sentença para os desobedientes que escolheram se afastar da Vida foi a morte eterna, mas Deus a experimentou em nosso lugar, na pessoa de Jesus. E na volta dEle, que cremos estar próxima, Ele solucionará esse problema definitivamente, concedendo vida eterna aos que aceitaram Seu plano redentor. Claro que, para uma mente naturalista que rejeita as evidências da existência de Deus e da confiabilidade da Palavra dEle, isso que estou dizendo é loucura. Por isso mesmo Paulo afirma que a mensagem da cruz é loucura para os que se perdem (1Co 1:18).

Um abraço e, mais uma vez, obrigado por manifestar sua opinião.

Michelson Borges

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Não há vantagem evolutiva na depressão

[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Em alguns setores acadêmicos, só se fala em analisar o comportamento humano por meio da biologia evolutiva. Os pesquisadores querem descobrir que vantagens evolutivas estariam escondidas em nossas ações, ou mesmo em nossas patologias [curiosamente, a biologia evolutiva não ajudou em nada no desenvolvimento da medicina]. É a vez de a depressão ser examinada em detalhes. Alguns psicólogos evolucionistas acreditam que essa doença dolorosa e incapacitante pode esconder algo de positivo. Mas, como eu, a maioria dos profissionais que tratam pacientes discorda com veemência. Tome como exemplo uma paciente que analisei há algum tempo, uma mulher de trinta anos de idade cujo marido a havia traído e abandonado. Durante muitas semanas, ela se tornou abatida e se isolou socialmente. Ela desenvolveu insônia e começou a refletir constantemente sobre o que havia feito de errado.

Um psicólogo evolucionista talvez afirmasse que a resposta de minha paciente tinha alguma lógica. Afinal de contas, quando sua rotina normal foi quebrada, ela procurou se isolar, tentou entender a razão para seu abandono e se planejar para o futuro. Talvez você perceba alguma vantagem evolutiva na habilidade que as pessoas depressivas têm de fixar sua atenção de forma rígida e obsessiva em um único problema, desligando-se de tudo e de todos a seu redor.

Alguns estudos parecem dar apoio a essa perspectiva. Paul W. Andrews, psicólogo da Virginia Commonwealth University, relata que sujeitos normais ficam tristes quando tentam resolver um teste de reconhecimento de padrão espacial mais complicado, o que sugere que alguma característica da tristeza possa melhorar a capacidade analítica dos sujeitos.

Com uma abordagem similar, Joseph P. Forgas, psicólogo da Universidade de New South Wales, na Austrália, descobriu que sujeitos tristes obtiveram mais sucesso no reconhecimento de mentiras do que sujeitos felizes submetidos ao mesmo teste. [...]

Resultados como esses podem sugerir alguns benefícios da tristeza, mas, com o tempo, eles foram generalizados para pacientes que sofriam de depressão profunda. Por exemplo, Andrews e o Dr. J. Anderson Thomson Jr., psiquiatra da Universidade da Virgínia, propuseram que a reflexão entre os depressivos seria uma estratégia de adaptação para resolver um problema doloroso. Os psicólogos clínicos, por outro lado, continuam a afirmar que o aspecto sombrio dos depressivos é uma evidência de que seus processos cognitivos estão distorcidos e funcionando de forma errônea. Esses processos devem ser corrigidos, não incentivados. [Assim é com todo tipo de comportamento nocivo ou condenável – aliás, se é condenável é porque existe uma moral absoluta à qual até os ateus e darwinistas apelam. Mesmo a ideia de “sobrevivência do mais apto” deve ser condenada, do ponto de vista sociológico, pelo menos. Resumindo: o pecado é um desvio do plano de Deus; tudo o que causa sofrimento e morte neste planeta não pode ser visto como “normal”, como querem os defensores da teoria da evolução. Devemos sempre lutar contra o mal, a violência, o pecado, as injustiças e promover a disseminação do evangelho no mundo, a fim de que Jesus volte logo e destrua para sempre o mal.]

Há evidências concretas de estudos neuropsicológicos e de imagem cerebral que demonstram que a depressão clínica está ligada a vários tipos de deficiências da memória em todas as faixas etárias e em todos os graus de depressão. Desafiar e modificar os pensamentos disfuncionais da depressão é o objetivo da terapia cognitivo-comportamental, uma das formas mais populares e empiricamente comprovadas de psicoterapia.

Mas quem está certo sobre a depressão, os psicólogos evolucionistas ou os psicólogos clínicos?

Para começar, os sujeitos dos estudos citados eram controles saudáveis, cujo estado de espírito havia sido manipulado para que ficassem temporariamente tristes. Eles não são realmente depressivos do ponto de vista clínico, condição que pode durar por meses ou até anos. [É interessante notar, fazendo um paralelo com esta constatação do Dr. Friedman, que muitas pesquisas de biólogos evolucionistas dependem de modelos computacionais, de interpretações a partir de fósseis e de extrapolações macroevolutivas a partir de evidências de microevolução. Assim, as conclusões acabam se originando de premissas e dados enviesados, mais ou menos como têm feito os psicólogos evolucionistas.] [...]

Sob olhares mais atentos, o caso dos benefícios evolutivos da depressão apresenta grandes problemas. O fato é que o pensamento reflexivo dos deprimidos não é particularmente eficiente na resolução de problemas. Um de meus pacientes disse certa vez: “Eu pensava sempre da mesma maneira e era incapaz de decidir o que fazer. Essa não é uma forma muito criativa de pensar.”

Além disso, a depressão pode surgir sem a influência de qualquer fator psicossocial, o que torna difícil o argumento de que a depressão seria a resposta a uma situação difícil ou a um problema. O Dr. David J. Kupfer, psiquiatra da Universidade de Pittsburgh, descobriu que o primeiro episódio de depressão é quase sempre precedido por um grande fator estressante, mas os episódios recorrentes podem ser desencadeados por pequenos fatores, ou mesmo sem causa aparente.

Caso a depressão aumentasse a capacidade de solucionar problemas, ela nunca iria se transformar em uma condição crônica ou autônoma, mas é isso o que ocorre em praticamente metade dos pacientes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a principal causa de afastamento do trabalho e a quarta doença mais difundida no mundo, devendo alcançar a segunda posição em 2020. Há evidências claras de que ela é um fator de risco para problemas no coração e diversos estudos demonstram que a depressão prolongada está associada a danos seletivos e permanentes no hipocampo, a região do cérebro responsável pela memória e pelo aprendizado. Se adicionarmos ainda o fato de que de 2 a 12 por cento dos deprimidos cometem suicídio, as “vantagens” da depressão deixam de parecer assim tão boas.

Mas, por que ainda existe essa noção de que a depressão traz benefícios e autoconhecimento? [Dr. Richard, essa teimosia, na verdade, é comum em muitos arraiais evolucionistas, pois os darwinistas costumam sempre salvar a teoria dos fatos.]

Recentemente, um paciente me ajudou a compreender essa questão. Ele era um jovem educado e articulado, infeliz porque o mundo era um lugar horrível, segundo dizia. Já que ele tinha diversos outros sintomas da depressão – insônia, fadiga, pouca libido e baixa autoestima – confirmei seu diagnóstico de depressão clínica e lhe disse que sua visão de mundo provavelmente era um resultado da depressão, não sua causa.

Ele zombou, mas estava disposto a tentar um tratamento cognitivo-comportamental associado ao uso de antidepressivos, caso isso o fizesse se sentir melhor. Meses depois, quando já estava recuperado, eu lhe perguntei mais uma vez sobre sua visão de mundo. Para ele, o mundo continuava terrível, mas ele se sentia melhor. Ainda assim, refletiu melancolicamente que sua alegria recém-descoberta não representava o seu verdadeiro eu, que, segundo ele, seria ensimesmado e criativo.

Essa é a razão pela qual a depressão é cada vez mais romantizada. De acordo com esse pensamento, o que é natural, é bom. Se nós fomos projetados para sofrer de depressão como resposta às doenças da vida, deve haver uma boa razão para isso e nós devemos permitir seu curso natural e doloroso. [Na verdade, fomos projetados para ser felizes, por isso resistimos tanto e sofremos ante a perspectiva da dor. Se a morte e a doença são elementos “naturais” constituintes do processo evolutivo, por que, depois de supostos milhões de anos e com tanto avanço na compressão da evolução, ainda não nos acostumamos a isso? Simples: fomos criados para não morrer e nunca nos conformaremos com esse intruso chamado morte.]

Mas, ao contrário da tristeza comum, o curso natural da depressão pode ser devastador e até letal. Mesmo que a tristeza possa ser útil [pelo menos neste lado da eternidade], a depressão clínica assinala uma falha na adaptação à perda ou a situações estressantes, uma vez que diminui a habilidade de resolver os dilemas que a causaram.

Mesmo que a depressão seja “natural” [coisa que não é] e evolua a partir de um estado emocional que, em algum momento, foi vantajoso, isso não significa que ela seja uma doença mais desejável do que outras. A natureza nos oferece infecções, câncer e problemas do coração, e nós fazemos o possível para evitar esses problemas e tratá-los da melhor forma. Não podemos agir de outra forma com a depressão. [E também não deveríamos ignorar o fato de que a causa primária de tudo isso é o pecado. Tratamento? A aceitação da solução proposta por Jesus, que já pagou o preço por nossa redenção. – MB]

(Richard Friedman, UOL)

Nota: Cuidado, Dr. Friedman, ou você pode terminar como este outro médico!

Leia também: “Depressão tem lado bom? Para Darwin, sim” e “Esperança contra a depressão”

terça-feira, janeiro 17, 2012

Crepúsculo e BBB podem deixar você mais burro

Os críticos da televisão e do excesso de reality shows na programação ganharam um forte argumento a seu favor. Uma pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Linz, na Áustria, chegou à conclusão de que o conteúdo que consumimos em livros, TV ou internet pode modificar nosso desempenho cognitivo de uma maneira muito mais poderosa do que imaginávamos. No experimento, os voluntários leram um roteiro sobre um personagem fictício que leva uma vida extremamente fútil: ele arrumava em brigas por causa de esporte, ficava bêbado em bares todas as noites e não conseguia interpretar leituras simples. Já outro grupo de pessoas leu um texto sobre o mesmo personagem, mas todas as ações feitas por ele eram inteligentes e úteis.

Em seguida, todos responderam a um questionário de conhecimentos gerais com perguntas como “Qual a capital da Líbia?” e “Quem pintou o quadro Guernica?”, todas fáceis ou cujas respostas estão em telejornais ou programas culturais. O resultado, de acordo com o BodyOdd, foi surpreendente: quem leu a história do sujeito fútil saiu-se muito pior no quiz do que aqueles que acompanharam a história do personagem inteligente.

Os psicólogos explicam que ler ou ouvir sobre um personagem com um comportamento de sentimentos negativos, como preguiça, violência, raiva ou até burrice, faz com que o espectador seja influenciado por eles e até reproduza algumas das ações da ficção na vida real. Desse modo, a decisão final é toda sua, já que o resultado depende do livro ou programa de TV escolhido.

(Tecmundo)

Leia também: "Sob o império da bobagem", "Ex-BBB diz que Big Brother não é programa para cristão", "Brasil tem mais ex-big brothers do que arqueólogos" e "Histeria, incitação ao sexo e campanha contra evangélica"

segunda-feira, maio 02, 2011

Mau caráter e não evolução explica traição

Os homens traem mais do que as mulheres, certo? Depende. Depois de muitos estudos dando até explicações biológicas para as escapadas masculinas [leia aqui e aqui], uma pesquisa da Universidade de Tilburg, na Holanda, traz uma nova visão sobre o assunto. A infidelidade tem a ver com poder, e não com gênero, afirma o pesquisador Joris Lammers. A sociologia e a psicologia, e não a biologia, estariam por trás da explicação do comportamento. Segundo Lammers, as mulheres poderosas são mais infiéis – tanto quanto os homens – porque têm autoestima mais alta. O estudo, que será publicado no Psychological Science, uma publicação ligada à Associação para a Ciência na Psicologia, baseou-se numa pesquisa anônima via internet com 1.561 indivíduos. Para Lammers, nenhum estudo havia detectado a influência do poder na traição porque não incluía mulheres poderosas. Nesse caso, a pesquisa, feita com leitores de uma revista semanal voltada para carreira, as incluiu.

Na amostra de Lammers, 58% não tinham função gerencial, 22% eram gerentes, 14% eram diretores e 6% ocupavam os cargos mais altos de chefia na empresa. Além de falar sobre sua posição no trabalho, os participantes tinham que dizer quanto poder tinham. A pesquisa também mediu a confiança e a percepção de risco das pessoas.

Uma das conclusões é que os chefes traem não porque ficam mais tempo longe de casa ou porque tendem a gostar de assumir riscos, como se costuma pensar. Eles – e elas – traem porque são mais confiantes – provavelmente a mesma razão pela qual conquistaram cargos mais altos na carreira. Entre os mais poderosos, o sexo não influenciava o desejo dos participantes de trair ou seu número de casos no passado. Mulheres e homens eram igualmente infiéis.

Se Lammers estiver certo e a tendência a trair estiver relacionada ao poder, é natural que, hoje em dia, pular a cerca seja visto como algo masculino. Afinal, as mulheres só ascenderam aos cargos de chefia nas últimas décadas. Mas, com cada vez mais mulheres chegando lá, a percepção de que os homens são mais infiéis tende a desaparecer.

“Como um psicólogo social, acredito que a situação é tudo e que a circunstância é, em geral, mais forte do que o indivíduo”, diz Lammers. “Quanto mais mulheres assumirem posições de poder e forem consideradas iguais aos homens, as suposições sobre seu comportamento também vão mudar. Isso deve levar a um aumento, entre as mulheres, de comportamentos negativos que antes eram mais comuns entre homens.”

(Mulher 7 x 7)

Nota: Alguém que se sente autoconfiante e conquista o poder, valendo-se disso para trair (ou usando isso como desculpa para trair), só pode ter desvios de caráter, que, infelizmente, ainda por cima, são valorizados por certas pessoas – ele/ela é autoconfiante, ambicioso(a), inteligente e poderoso(a), portanto, o que são uns “casinhos” e umas “puladas de cerca” aqui e ali? Além disso, essa pesquisa mostra que o tal determinismo genético não pode ser usado como desculpa para comportamentos objetáveis como o adultério, uma vez que nos seres humanos os instintos devem estar sob o controle da razão e da moral (claro que quem não crê na origem sobrenatural da moralidade e num padrão absoluto de referência terá dificuldades para defender a fidelidade e os valores éticos, que seriam relativos e mutáveis). Finalmente, não resta dúvida de que é positiva a conquista de direitos femininos alcançadas em anos recentes, mas não deixam de ser preocupantes os “efeitos colaterais” dessas mudanças. Muitas mulheres se dizem estressadas/frustradas pelo fato de não conseguir conciliar o cuidado da família com as exigências profissionais (ainda bem que há aquelas que reconhecem e valorizam a suprema missão da mulher/mãe; confira aqui). Outras têm se entregado aos vícios que eram tidos como tipicamente masculinos (o alcoolismo tem aumentado assustadoramente entre as mulheres) e outras, ainda, segundo o texto acima, têm adotado comportamentos negativos que antes eram comuns entre os homens, como a traição e o adultério. Infelizmente, quando a pessoa não é regida pela suprema moral e pela santidade, até aquilo que inicialmente poderia ser considerado como conquista acaba redundando em males e sofrimentos. O ser humano não convertido, quando alcança poder, cultura e status, apenas “refina” o pecado.[MB]