Nessa última noite sonhei com o fim do mundo.
Meus pais estavam lá, melancólicos, com um olhar perdido sentados no sofá. Ninguém sabia o que realmente tinha acontecido, mas havia um silêncio espiritual pairando no ar, como se algo divino tivesse escolhido quem ficaria na Terra, e por quê.
Enquanto eu fazia comida e tentava acalmar meus pais, soube que haveria um culto da minha antiga igreja. Era como uma esperança, uma promessa de que talvez lá eu encontrasse respostas ou, no mínimo, conforto.
No caminho, passei diante de uma pequena formatura. Eram só dez pessoas, mas havia uma emoção viva, quase sagrada, no ar. As pessoas batiam palmas umas para as outras, como se estivessem tentando substituir todos os familiares e amigos que não estavam mais ali. Fiquei parada um tempo, observando. Era bonito. Triste, mas bonito.
De repente, o sonho mudou.
Estávamos na praia. O sol se punha entre nuvens densas e o ar cheirava a sal e dúvidas. Havia quiosques e uma nave gigantesca, parecida com um dirigível, que levaria os sobreviventes para outro planeta, já que aparentemente, a Terra estava morrendo.
Alguns estavam prontos pra ir. Outros, não.
Em algum momento, voltei à Terra.
Eu estava no quintal do prédio onde cresci, recolhendo coisas de uma cômoda antiga. Uma criança me observava de longe.
Depois voltei à praia, onde os quiosques ainda estavam de pé, e tentei convencer mais gente a embarcar, como a Mónica, minha amiga do trabalho, que descia as escadas com expressão indecisa.
O sonho terminou ali, tão abruptamente como começou, e eu fiquei refletindo acordada, com a sensação de que, mesmo nos sonhos, o fim nunca é exatamente o fim.