Tempo, tempo, tempo, tempo...

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ai, o fusquinha!!!

O primeiro fusquinha (1969)(Havia tempo para as propagandas gigantes...)
Dia mundial do Fusca: 22/06




Gosto muitoooooo de fusquinha! Vivo lendo sobre ele...


Passeando lá no blogtadeus, deparo-me com um montão de fusquinhas apaixonantes... Escolhi alguns para guardar aqui no meu cantinho, mas indico que visitem: blogtadeus.blogspot.com, para visualizarem  mais preciosidades...









































Leiam a história do fusca: http://pt.wikipedia.org/wiki/Volkswagen_Fusca

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um certo Coronel Quelê e outras histórias...


Revendo meus arquivos de fotos, deparo-me com o registro de um humilde gesto do deputado Geraldo Coelho, que tão gentilmente envia-me um exemplar da obra "Coronel Quelê, adversidade & bonança", no propósito de agregá-la ao acervo da biblioteca na qual exerço minhas atividades como funcionária pública.
O referido deputado, é um dos  filhos do "Coronel Quelê" (pasmem: ele foi pai de dezessete Coelhinhos!), um cidadão intimamente ligado à grandeza e desenvolvimento de Petrolina (minha  honrosa cidade).
Acerca da obra e do velho "Quelê",  falarei-lhes seguidamente. Antes, quero enaltecer a família Coelho (os descendentes do Cel. Clementino). 
Não. Não pensem que sou uma fanática: embora tenha trabalhado no Grupo Coelho durante mais de uma década, não fui em momento algum, uma fanática partidária. Admiro-o por serem homens íntegros (nossa! Aí eu tiro mesmo o meu chapéu!) e por saberem lidar com o âmbito político.
Aos que me leem e não conhecem a história da família Coelho, restrinjo-me a dizer-lhes que o Coronel Quelê (Clementino Coelho) foi um pioneiro da nossa cidade, que aqui fincou pé, trabalhou com perseverança, sabedoria, perspicácia e construiu seu império por meio de muito trabalho e determinação. 
Os descendentes do velho Quelê, primaram na manutenção do império e ele cresceu, cresceu: podemos dizer que o Grupo Coelho passou a ser o maior grupo empresarial da região, além de fazer brotar no âmbito familiar o tino político (com mais de 100 anos, ainda hoje os temos como líderes políticos.)
Não quero adentrar-me por aqui. Saliento apenas que a família Coelho constitui um grupo político imortal e ativo,  que jamais se distancia do poder; quer seja como vereadores, prefeitos, deputados estaduais/federais, senadores e hoje um nome de Coelho enaltece nossa terra no Ministério da Integração Nacional: Fernando Bezerra Coelho é Petrolinense da gema e neto do então citado coronel.

Tive a honra de ter o meu primeiro emprego, junto a esse grupo. Digo honra, porque em meio a eles, pude aprender muitos valores. Dentre esses valores, exalto a integridade e a disciplina (algo extremamente visível no comportamento da família Coelho).

Era um tempo de bonança e o Grupo Coelho tornava-se cada vez mais imponente e crescia no ramo dos negócios. A empresa na qual trabalhava era tão grande, que era comum nos depararmos com funcionários  na área administrativa, que nunca havíamos visto antes. O ramo de negócios era abundante: fábrica de fios, tecidos, saboaria, fabricação de óleo de soja, rede de supermercado, postos de combustíveis, curtume, fazendas, transportadora, imobiliária, escola,  concessionária, construtora e muito, muito mais... As Indústrias Coelho  se encontravam espalhadas, através de filiais, por quase todo  o Brasil e com uma indústria têxtil no estado do Piauí, desde a década de 40.
Fios e tecidos passaram a ser exportados e passou-se a fabricar lençóis/fronhas com o tecido de algodão.
Nesse apogeu, ali estava "euzinha", com o meu primeiro emprego... Conquistei cargos e experiência. Tornei-me determinada, forte, segura, disciplinada, tolerante, no convívio com a família Coelho. Aprendi muito com eles!

Secretariei um dos filhos do deputado Geraldo Coelho e trabalhei diretamente com um outro, na área de exportação: eles nunca me pediram ou exigiram (como muitos políticos o fazem!) o meu voto. Sequer falavam  em política e eu admirava essa postura disciplinada e íntegra!
Ademais,  desconheço um Coelho vândalo, ostentador, beberrão, sem princípios morais acirrados e exposto aos escândalos sociais (algo muito comum em famílias de abastados). 

Petrolina cresceu, graças ao empenho político da família Coelho. Isso é fato. Interesses próprios, quem não os tem, estando no poder? Fato é que muito se deve a ela. Muito mesmo! Principalmente no tocante ao âmbito da educação e da agricultura. 
Eles são tachados de conseguirem votos através do coronelismo, do voto "cabresto". 
Quanta bitolação! Se os Coelhos possuiam seus interesses particulares (comuns numa sociedade capitalista), também primavam por trazer cada vez mais excelentes benefícios à cidade. Algo extremamente benéfico ao progresso. Troca? Que assim o fosse. Os Coelhos sempre tiveram um nome a honrar perante a sociedade petrolinense: Mesmo que realizassem feitos por interesses próprios, algo estava intimamente ligado: eles, de forma direta ou indireta, estavam terminantemente  fazendo por Petrolina (como filhos da terra, acredito que eles a amam). 

A história política da família Coelho é longa, traçada, trilhada... Que dizer de governantes estrangeiros, sem raízes? Que dizer do seu amor à terra? Que dizer do seu compromisso perante o povo petrolinense? Que dizer da evolução da educação, sem as mãos do deputado Osvaldo Coelho? Que dizer da agricultura nos projetos de irrigação? Se não é por mérito, como um dos Coelhos alcançou um Ministério, o Senado?!

É irrefutável, aos que acompanham a política local, a associação feita  entre a família Coelho e a grandeza de nossa cidade.

Cresci, lendo a respeito do Coronel Quelê... Meu pai, também funcionário do grupo Coelho, nos contava histórias engraçadas do velho Quelê... Passei a ler seus "causos", sua história e a história dos seus descendentes. Quero registrar algumas coisas sobre ele. Preocupo-me com a "humildade" da família no tocante ao registro maior de sua história. Creio que Petrolina merece um museu voltado somente para essa saga. Creio também que a família não está volvendo os olhos com afinco,  para esse legado: muitos objetos valoráveis encontram-se esquecidos nos porões dos anos que vão passando. Há pouco exposto no Museu do Sertão. Pouco, para tão longa e bela história de vida. 

Deixo abaixo, texto de Roseanne Albuquerque, escrito no Jornal do Commercio de 18/07/10, resenhando a obra de José Américo de Lima:
(Foto: Lourdes Imoto)


A VIDA E O PIONEIRISMO DO CORONEL QUELÊ

PETROLINA – Conta a história que em meados de 1932 o Sertão pernambucano vivenciou um de seus mais rigorosos períodos de estiagem. Famílias inteiras definhavam de fome e sede, atracadas por um destino que parecia insólito e desafiador. A situação de descaso e pouca iniciativa dos governos federal e  delas, Clementino de Souza Coelho, mais conhecido como Coronel Quelê, fazia sua parte para tentar amenizar o sofrimento dos ribeirinhos: não raro, era visto dando comida aos mais atingidos pela seca. 

A história de Seu Quelê – patriarca da família Coelho, uma das mais representativas do Sertão pernambucano – é relembrada no livro Coronel Quelê, adversidade e Bonança, lançado ontem à noite no auditório do Senai, em Petrolina. Com 198 páginas, o livro – uma publicação da Editora Bagaço – foi 
escrito pelo professor e escritor José Américo de Lima, falecido em dezembro passado. Durou dois anos para produção – entre pesquisas, transcrição de entrevistas e escolha de material – e teve também o trabalho de pesquisa dos professores Moisés Almeida e Carlos Eduardo Romeiro. 
“É um trabalho importante na medida em que pode mostrar às pessoas uma percepção da história da cidade. Petrolina começou a crescer na década de 50, mas teve o reflexo do legado da década de 40, e aí não se pode deixar de registrar o empreendedorismo da família Coelho. Eles foram importantes para a base da economia. Hoje a gente fala de exportação para a Europa, mas seu Quelê foi pioneiro no envio de couro no período da 2ª Guerra Mundial. Na questão política, lutava para melhorar a infraestrutura da região. Quelê queria que as coisas produzidas aqui alcançassem outros mercados”, observa o historiador Moisés Almeida. 
Seu Quelê tem sua história entrelaçada com os primeiros passos de desenvolvimento de Petrolina. Obstinado pela educação dos filhos, pode ser visto como célula fundamental no processo de formação política da cidade sertaneja. 
“Naquela época, Petrolina tinha uma presença pálida do governo. As ações eram fracas, não muito visíveis, a prosperidade não chegava por aqui. Apareceu nesse contexto os homens que enfrentavam isso. As dificuldades eram normais de quem era pobre e não tinha auxílio de governo. Naquele tempo, ele foi forte, educador, empreendedor”, pontua o ex-deputado federal e um dos filhos de seu Quelê, Osvaldo Coelho. 
Osvaldo defende a publicação do livro como uma ferramenta de ensino para as novas gerações. “É uma necessidade histórica. Petrolina tem que ter um conhecimento da sua história, dos primórdios até hoje. Acho que a cidade é até descuidada disso. A nós, da família, ocorreu essa ideia de mostrar o coronel Quelê não apenas para os familiares, mas sobretudo, para as novas gerações. 
Pelo tipo de comportamento que ele teve, tem muito o que ensinar aos mais novos, como empreendedor, como homem de sociedade, como cívico, através do amor à sua terra”, contextualiza. 
Tirou Barbosa Lima do sono.
Casado com Josepha Coelho, com quem conviveu por toda a vida, o Coronel Quelê costumava receber em sua casa autoridades políticas, com a mesma destreza com que abraçava os mais simples. Quando o assunto era o Sertão, as palavras fluíam com facilidade para pedir e exigir melhorias. Em uma das passagens do livro Coronel Quelê, adversidade e bonança, há o relato de uma “chamada” que certa vez deu no governador Barbosa Lima Sobrinho, em 1948. Hospedado na casa da 
família Coelho, o governador – que estava em Petrolina a convite do Primeiro Congresso Eucarístico Diocesano – foi acordado às 7h por Seu Quelê. “Governador, por favor acorde que o senhor veio passar muito pouco tempo aqui e precisa tomar conhecimento dos problemas da região. As oportunidades que o senhor tem de vir até aqui são poucas e não se pode gastar tempo dormindo”, teria dito o Coronel Quelê. A lembrança veio no depoimento de Augusto Coelho, um dos filhos e ex-prefeito de Petrolina, pontuado no livro. 
Na consolidação da política no Sertão pernambucano, Seu Quelê conclamou coronéis de municípios vizinhos – a exemplo de Fernando Bezerra (Ouricuri), Florêncio Barros Filho (Santa Maria da Boa Vista) e Manuel Ramos (Araripina) – a unirem forças e apoiarem candidatos que tivessem compromisso com a região. 
“Ele abriu os caminhos de Petrolina para a representação política. No final da década de 40 preparou seus filhos para representar a cidade na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Os primeiros foram Gercino Coelho, deputado pela Bahia, e Nilo Coelho, por Pernambuco. A história do 
desenvolvimento político e econômico da cidade passa pela família Coelho”, afirma Moisés Almeida, um dos pesquisadores do livro. 
Se por um lado a obra mostra o homem exigente, obstinado, empreendedor, atento às questões sociais que o cercavam, por outro, apresenta um personagem absolutamente reservado, bem relacionado e com uma preocupação muito grande com a união e educação da família. 
Seu Quelê foi grande empresário na época, seus negócios chegaram a se expandir até o norte de Minas. Era conhecido pela coerência e determinação e sua palavra tinha peso. Ao folhear a obra, o leitor vai encontrar a história do clã sertanejo paralelo com os primórdios de Petrolina, com a chegada das grandes obras religiosas e o embrião do que seria o comércio e a indústria no futuro. O 
livro também conta com depoimentos de amigos e familiares de Coronel Quelê, morto em um acidente em 1952".



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Além da arte...


Há livros que sobrepõem a arte!

O Homem que Contava Histórias de Rosane Límoli Pamplona e ilustração de Sônia Magalhães, assim o faz: simplesmente lindo e de um caráter fortemente filosófico, a obra reúne 20 ( vinte) contos de diversas tradições ( judaica, indiana, chinesa, persa, japonesa, italiana, brasileira, grega, russa...).

Todas as histórias são recheadas de ensinamentos e reflexões, além de possuir uma belíssima ilustração, realizada através de colagem e com uma significação, que nos fazem imaginar que estas foram feitas por quem escreveu o relato: através da colagem, a ilustradora utiliza estampas, azulejos, papel para origami, pontos russos, desenhos de porcelas chinesas, mesclando o texto à ilustração característica de cada país.

Durante a leitura do livro, passava momentos apreciando as colagens e ao terminar a leitura, fiquei alguns dias folheando-o, degustando o prazer que os desenhos me causaram.

Escolhi um conto italiano para seu deleite. Espero que gostem, mas devo dizer-lhe que ele é apenas uma das lindas histórias ali encontradas...

Uma questão de interpretação
(Recontado por mim)

Havia, em certo reino, um mosteiro habitado por monges jovens e idosos, que passavam o dia em preces...

Um dia, um novo rei subiu ao trono e quis conhecer melhor seus domínios.

Maravilhado com os jardins do mosteiro, cobiçou-o, pensando em transformá-lo em residência de veraneio.

Como não podia expulsar os monges, resolveu conseguir o queria de modo mais sutil.

Tentando comprovar que os monges eram ignorantes e achando que deveriam levar uma vida mais austera para ampliarem os seus conhecimentos, resolveu escolher um deles para debater com o sumo sacerdote da corte: se o sacerdote ganhasse o debate, eles seriam expulsos e se assim não fosse, os monges ganhariam o direito de habitar o monastério para sempre.

Os monges temeram o debate, já que o sacerdote era um homem muito sapiente e nenhum deles, exceto o jardineiro, se candidatou ao debate.

Este jardineiro era um homem simples, mas não havia saída.

O sacerdote prometera a si mesmo que derrotaria o adversário sem nem sequer pronunciar uma palavra e olhando-o com desprezo, apontou o dedo para cima. O jardineiro, sem se perturbar, apontou o dedo para o chão.

O sacerdote pareceu ficar desconcertado e mostrou-lhe então um dedo, diante de seu nariz. O jardineiro então, mostrou-lhe os cinco dedos, com a mão toda aberta.

Titubeante, o sacerdote tirou do bolso uma laranja. O jardineiro, muito tranquilo, tirou do bolso um pãozinho.

Reconhecendo a derrota, o sacerdote pediu ao rei que encerrasse o debate, dizendo que nunca encontrara um adversário tão sábio.

Os monges conservaram o monastério para sempre e o povo se reuniu com o sacerdote, querendo que ele explicasse o que, tinha sido discutido.

O sacerdote disse que quando apontou o dedo para cima, quis declarar que só a sabedoria dos céus é que conta neste mundo. Mas ele, apontando para a terra, rebateu dizendo que, embora não possamos deixar de considerar os céus, somos homens e vivemos na terra. Mostrando-lhe um único dedo, quis mostrar que somos frágeis, porque estamos sozinhos. E ele sabiamente me fez pensar que não, pois estamos cercados por outros homens, nossos irmãos. Finalmente, ao mostrar a laranja, rebati suas ideias, lembrando-o de que a natureza é mais forte do que o homem, pois sabe criar coisas que ele jamais criaria. Foi assim que ele me deu o golpe de misericórdia: ao mostrar-me o pão, lembrou-me de que o homem é capaz de conhecer e modificar a natureza, criando obras que, sozinha, ela não pode fazer.

Todos ficaram estupefatos com a sabedoria revelada pelos monges.

Enquanto isso, no monastério, os monges se reuniam ao redor do jardineiro, que explicava:

- Foi muito simples. Quando ele apontou para cima, mostrando que ia chover, eu mostrei-lhe o chão, dizendo que seria bom, pois a terra necessita de chuva. Depois ele me pareceu aborrecido e me mostrou um calo no seu dedo. Querendo ser gentil, mostrei-lhe minha mão toda, para que ele visse que isso não tem importância: eu tenho calos em todos os dedos! E quando ele tirou a laranja do bolso, pensei que fosse hora do lanche e peguei meu pão.


É por isso que Enkantinho é xonadinha pelas coisas simples da vida!!!


domingo, 20 de março de 2011

Para quem gosta de rir...






Jessier Quirino é um arquiteto paraibano que possui a poesia no sangue e que enaltece a linguagem nordestina através de suas poesias matutas, recheadas de muito humor... 


Acabo de ler o seu livro "PAISAGEM DE INTERIOR" e confesso que me embeveci com a poesia popular ali encontrada, em especial o poema título "PAISAGEM DE INTERIOR" e "CONVERSA DE MANICURE" que me fizeram gargalhar de maneira incontrolada, porque realmente são carregados do "hilário". 


Jessier Quirino é mesmo um menestrel da poesia nordestina e um matuto por convicção!!! 
Prometo publicar uma de suas poesias, mas farei a tradução para os amigos que não são nordestinos, levando em consideração as nossas variantes linguísticas.


Inté,

quarta-feira, 9 de março de 2011

SABEDORIA CHINESA...



O texto abaixo, foi extraído do livro "O imperador amarelo" (adaptação de Heloisa Prieto): uma verdadeira obra de arte que, além de linda, nos leva ao mundo da aventura, do sonho e da magia chinesa, através de antigas fábulas, lendas e ensinamentos chineses.


Os textos são pequenos e de fácil apreensão e nele podemos nos deparar com monges, princesas, dragões e guerreiros, além de aprendermos através da sabedoria taoísta e de nos deleitarmos com os belos traços da ilustradora Janaina Tokitaka.


A autora é doutoranda na USP e praticante de T'ai Chi e Paulo Bloise ( coordenador da pesquisa) é mestre em psiquiatria e ex cronista do Jornal da Tarde.


O exemplar lido por mim, foi impresso pela Editora Moderna.


A LIÇÃO DO MESTRE

Certa vez um fazendeiro foi até uma vila vender suas peras no mercado. Elas eram tão doces que fizeram fila para compra-las. O fazendeiro sentia-se satisfeito com o lucro de sua colheita, quando, repentinamente, um velho monge taoísta, trajando um manto puído, de algodão, colocou-se à sua frente e lhe pediu uma pera de presente. O fazendeiro ficou furioso:
- Por que o senhor não compra a fruta, como todos os outros? Eu não acredito na caridade, eu não ajudo ninguém! Se o senhor quer comer, que trabalhe, como eu!
- Caro amigo, meu trabalho é importante, mas nem sempre produz dinheiro, como o seu. Sua carroça está lotada de peras, que falta lhe faria uma única fruta?
 Nisso, uma multidão já havia se reunido para ouvir a conversa.
- Por que o senhor não dá ao monge aquela pera um pouco machucada que está no cantinho do cesto? - sugeriu um passante.
Mas o fazendeiro, irado, gritou para chamar a polícia:
- Prendam esse vagabundo! – ele decretou.
Porém, o guarda, que aprendera artes marciais com os velhos monges taoístas, aproximou-se, comprou uma pera e a entregou ao sábio, fazendo-lhe uma respeitosa reverência.
- Nós, os monges, que abandonamos os caminhos do mundo para rezar e meditar, sentimos muita dificuldade em compreender a avareza e a falta de generosidade. Vejo ao meu redor várias pessoas sem recursos. Por favor, senhor fazendeiro, permita que eu os alimente com suas peras.
Então, no lugar de comer a pera que o guarda havia lhe dado, o velo monge abriu a fruta e lhe retirou as sementes, plantando-as no solo. Depois, pediu que lhe dessem um pouco de água para regá-las.
Em seguida, sentou-se calmamente e aguardou. Em  menos de um minuto um broto começou a surgir, que rapidamente se transformou no tronco de uma bela pereira, que logo produziu frutas bem mais saborosas do que aquelas que o fazendeiro trouxera para vender.  A multidão aplaudiu feliz aquela bela árvore que nasceu das mãos mágicas do monge e mais felizes ainda ficaram as pessoas quando o sábio colheu as peras e as distribuiu entre todos os que o cercavam.
Assim que percebeu que as pessoas estavam satisfeitas, o monge apanhou uma pá e arrancou a árvore do solo. Depois, colocou a copa da pereira nos ombros e partiu feliz e contente, sem dar a menor explicação.
Foi quando o fazendeiro, que assistira a tudo aquilo espantado, notou que todas as peras haviam sumido de sua carroça. Aliás, a carroça também havia desaparecido. Envergonhado por sua avareza, ele compreendeu que a madeira da carroça fora transformada pelo monge em tronco de árvore e que suas peras haviam saciado a fome de muita gente necessitada. Cabisbaixo, ele voltou caminhando para suas terras, enquanto a história da pera mágica percorria o mercado, provocando muitas gargalhadas.
P’u Sung- ling (1640-1715): Escritor que nasceu na província de Shandong (China).


sábado, 29 de janeiro de 2011

UM GOLE DE IDEIAS ( 2/2 )


- Painho, por favor dê-me uma luz. Deparei-me com um sujeito que não consigo compreender.
- Pois cite o nome dele, que eu a ajudarei – farei a busca.
- Frederich Niezstiche, costumo o chamar de Fred.
- Vixe! Creio que ajudá-la seria complicado por demais. Minha formação se fez nas cátedras brasilesas, sobretudo em Salvador, Bahia e no Rio de Janeiro. Afora, consegui o título de dicionário na África do Sul após doutoramento em Parapsicologia da Palavra. Se fosse um sujeito lusitano ou latino - talvez africanista - poderia até fazer minhas conjecturas, mas germânico... Não estou à altura para ajudá-la. Vou ter que encaminhá-la para um alemão: o Dr. Adolf Fritz. Entretanto, faça uma oração e passe-me o vocábulo do predicado, pois verei se posso ajudá-la.
- ...Amado da frase: “Frederich é amado por mim”. Mas não o adjetivo, o verbo partcípio.
- Não consigo ler nada. Seja mais precisa na conjugação. Passe-me sua característica no infinitivo.
- Digo sim Painho. Amar. 

Pai Aurélio chacoalhou suas páginas e as arremessou contra a mesa num sexto como se fossem búzios. Ele com cara de interrogação, fez sua leitura espiritual.

- Sim. Vejo, leio claramente. Amar: verbo transitivo direto, ou seja, um nômade. Significa, gostar de... ternura por... Claro, você evidentemente está amando esse tal de Frederich. Porém, creio que isso já era evidente. Mas, você ainda não está sendo precisa.
- Me ajude Painho. Pois mesmo com a minha imprecisão você levantou um dado relevante: nômade, realmente Fred o é. Está bem, serei mais precisa em conjugação: amor.
- Hum, hum... ah! - Nistagmos oculares, mãos em garras nas costas, braços como xícaras de duas asas, ombros elevando-se mediante espasmos e corpo envergado; Painho, diante da busca pela palavra complexa em significação, assaz abstrata, incorporou o Pai de Todos os Santos.
- Ah! Quem me chama? - diz o Pai de Todos os Santos em voz ofegante, tensa e estrangulada. Saber sobre o tal... amor? Ai! Isso é complicado demais. Só de pensar nesta palavra me dá nervoso, mas se é o que queres, direi. Contudo, peço-te em troca algumas oferendas. Acordo fechado, falarei sobre o tal... Ahhhhh!!! - Um grito fez Pai Aurélio retornar ao seu corpo de fato.
- E aí minha querida, conseguiu as respostas que queria? - Com suas reservas de energia exauridas, Pai Aurélio dispensou a cliente, que dissimulada anuíra em reposta.
***
Pai Aurélio está com uma tremenda enxaqueca, por isso repousa sobre a estante ao lado de alguns amigos - a teóloga Bíblia, a historiadora Enciclopédia e a jornalista mexeriqueira Biografia. Sua cliente saiu do consultório com mais dúvidas do que chegara, porém saiu reflexiva.
***
- Como pode ter tal palavra tanto ardor ao mesmo tempo em que há paixão? E, por que Pai Aurélio não conseguiu ofertar-me com seu significado? Claro, já sei: o amor é uma palavra, que ainda que se consulte seu significado, este não será aprendido, senão pelos órgãos dos sentidos. Pois o vocábulo do sentimento deve ser apreendido de forma pragmática, através de nossas vivências. Adquirido através de contextos afetivo-comunicativos de maneira informal. Amor, então é assim que o desvendamos – ao menos em parte? Vivendo, o sentindo? E Fred: será que a sua essência de complicado que me atrai em paixão? Xi! Vou ter mesmo que me agendar com esse tal de Doutor Fritz!


( From: umgoledeideias.blogspot.com/ - Um blog pra lá de criativo! )

UM GOLE DE IDEIAS ( 1/2 )


CONSULTA AO PAI AURÉLIO



Pai Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, médium desde nascença, reside oficialmente na biblioteca do Petit Trianon, sede do Terreiro Brasileiro das Letras. Possui formação em lexologia pela Academia Semântica, porém seu ofício foi dedicar-se à filantropia como consultor espiritual. Apesar de sua magnífica residência a la France, não possui morada fixa. Responsabiliza-se por atender toda a população, desde que passados pelo rito de iniciação (alfabetização) e claro, atende de bom grado aos que se dedicam espiritualmente ao letramento - tarefa infinita. Se não fosse a renúncia à fé dos não-iniciados (analfabetos), Pai Aurélio seria onipresente à semelhança de Zambi, seu deus – estaria em todas as casas, mochilas e bolsos para ser consultado.

( From: umgoledeideias.blogspot.com/ )

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

HERRAR É UMANO!!! ( 5 )

Eu precisava completar a minha coleção e eis que de repente, não mais que de repente, encontro no www.fotocomedia.com, essas propagandas excêntricas! Quem puder visitar o espaço, certamente adorará!
t É TUPPERWARE MESMOOOOOO!
ESSA ÁGUA ENVELHECE OU REJUVENECE? O CACHORRO "POODLE" FOI ESTUPRADO!
Que "LAN HOUSE" autêntica!!!
WITHOUT WORDS...

domingo, 21 de novembro de 2010

Verdades, bobagens e Mansim...

Este é o André Mansim, cartunista, escritor ( sem obra publicada ) e dono do blog "verdades e bobagens" ( um lugar lindãooooo! ). Estou sempre lendo suas postagens e ele também costuma ler as minhas, claro! Sou fã do seu humor, dos seus textos de linguagem agradável e também do seu lado bastante sensível ( ele, como eu, adora animais! ). Hoje fiz uma peripécia: fui lá no bloguinho dele e roubei o texto que segue, porque gostaria de poder compartilhá-lo, mas compartilhar aqui no meu espaço! Enquanto roubava, deixei meu recadinho lá no seu blog alertando-o de que nem adiantará me cobrar seus direitos autorais! kkkkkkkkk Espero que gostem ( tanto quanto eu! ) A linguagem dos poetas ( Por André Mansim - sem alterações) Muitas vezes nós somos enganados pela linguagem rebuscada que os poetas usam para formularem seus textos . Se a gente for prestar atenção mesmo , no conteúdo da coisa a gente percebe como a linguagem poética pode esconder umas coisas que muitas vezes se faladas na linguagem coloquial fica até meio feião de ler e de falar . Resolvi então traduzir para o coloquiês alguns exemplos do rebusquês . Exemplo 1 : Sua tez enrubreceu , ao ver os contornos curvilíneos de sua amada . Seu coração bombeava emoções que sufocavam seu ser .Ela teria que descarregar seu instinto animal e seus fluidos carnais urgentemente !!Tradução : Ou esse cara dá uma rapidinho ou ele vai ter um tróço !!! Exemplo 2 : Ludicamente a criança caminha num mundo de sonhos sobre o jardim em que sua mãe , feito uma artesã , criara sua mais bela obra prima ...Tradução : Eita moleque bagunceiro , estragou todo o jardim que a mãe penou pra deixar bonitinho !! Ah ... vai apanhar na certa. .Exemplo 3 : Os alvos e parcos cabelos brancos que adornavam aquela cabeça octagenária , camuflavam seu falo em riste e seus olhinhos vivos que fitavam entusiasticamente a rebolativa e quase desnuda , arrumadeira da casa de seu derradeiro rebento ...Puxa ... parece lindo né ? Mas lá vai a tradução :Que véinho tarado esse ... Com oitenta anos , ( de pinto duro ) e de zoião na empregada do filho mais novo , e ela por sua vez , não tem nada de santa , com essas roupinhas curtas se mostrando e se insinuando , pra lá e pra cá . Exemplo 4 : Enquanto a boêmia o levava aos braços calientes das damas da noite . A rainha do seu lar , preparava seu recanto e esperava numa noite de longos minutos , a fitar aflitamente o relógio que lhe respondia : Tic tac , tic tac, tic tac ...Agora deu vontade de chorar ... Como é bela essa cena de amor ... Mas traduzindo : O cara é putanheiro e essa mulher é uma tonta !Então amigo leitor , preste atenção nessa linguagem dos poetas , que esses caras são espertos , falam coisas que a gente não entende ou apenas querem passar despercebidos pela nossa cabeça de mamão e nossa linguagem chula e coloquial ... ( http://amansim.blogspot.com/)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

HERRAR É UMANO!!! ( 4 )

Quando faço um post acerca dos deslizes gramaticais das "praquinhas" brasileiras, me pego a pensar que elas são a cara do nosso povo e que não deixam de ser "culturais", não. Ao mesmo tempo, penso que caberia às prefeituras locais a oferta ao povo, de um setor responsável pelas correções e dimensões proporcionais de placas afixadas nos quatro cantos da cidade; e olha que isso seria extremamente importante para as caras das cidades, não?

A população não pode ser punida pelo nível cultural que tem: a principal função da linguagem é a de proporcionar a comunicação; ademais, as pessoas que não conhecem as normas cultas da língua, logicamente jamais as utilizará!

Ah, e hoje me deparei com esse livro lindinho que ainda não conhecia ( fiz questão de fotografar a capa ):

Os autores, José Eduardo Camargo e L. Soares são dois artistas brasileiros: o primeiro, jornalista e editor-chefe dos Guias Quatro Rodas e o segundo, um nordestino cordelista que migrou para SAMPA há mais de 13 anos. Nossa! Fiquei "xonadinha" pelo livro, até porque todas as plaquinhas ali expostas são coisas novas para mim e mais ainda, porque os autores mixaram humor, à riqueza da rima, de uma maneira muito sublime! Bacana também, a utilização das fontes dos textos ( similares às das placas ): aquele S que mais parece um Z, a mistura das maiúsculas com as minúsculas e muito. Muito mais! Uma verdadeira obra de arte! Segue abaixo, duas plaquinhas da obra ( claro que fotografei as páginas do livro ):

Lá no sítio São João

Pra passar pela porteira

É preciso permissão

Professor de português

Nunca passou ali não."

Bloco de texto

"VI UMA PLACA EM ITAÚNAS

VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO

MAS NÃO VI CÂMERA ALGUMA

EM CEM MIL METROS

QUADRADOS

SE ALGUÉM ESTÁ FILMANDO

OU É DEUS OU É O DANADO."

Tendo oportunidade, não deixem de folheá-lo!

( Obra publicada pela Editora Panda Books - São Paulo )

sábado, 4 de setembro de 2010

A MALA DE HANA - uma história real

Ufa! Comecei a ler "A mala de Hana" hoje à tardinha e acabo de degustá-lo... Hummm! Que livro envolvente!
É louvável saber que ele é campeão de vendas em mais de quarenta países!
Deixem que fale um pouco dele procês:
Karen Levine, a autora, é canadense e trabalha na Rádio CBC.
Este é o seu primeiro livro ( a história já possui documentário e mais dois filmes que estavam sendo produzidos ).
O livro, da Editora Melhoramentos, narra a história real de uma garotinha de nome Hana, nascida na Thecoslováquia ( 1930-1940 ) e que sofreu a incongruência de Hitler e seus seguidores, em um campo de concentração nazista.
A narrativa é bastante instigante e a escritora a dinamiza, narrando fatos do passado ( a trajetória da família de Hana, sua vida na Thecoslováquia e nos campos nazistas ) e do presente ( Tóquio - Centro Educacional do Holocausto de Tóquio, local onde hoje se encontra a mala de Hana e Canadá, lugar onde se encontra George, o sobrevivente da família de Hana ).
A autora imbui no seu livro, fotos ( do presente/passado ) que nos aproxima mais e mais da história de cunho extremamente comovente e reflexivo...
Vale a pena conhecer a história , George ( curioso por saber quem é ele??? ) e Fumiko Ishioka, a japonesa que, através da "mala", nos deu o prazer de conhecer a vida da linda loirinha chamada "Hana"...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

LENDAS DE NORTE A SUL...

Desde criança, sempre fui "xonadinha" por lendas e em tempo colegial, fui cerceada por ela, já que fazia parte do grupo artístico da escola que estava sempre envolvido com o lado folclórico do povo brasileiro. A lenda é uma narrativa de fatos repletos de fantasias, entrelaçados a fatos concretos que, ocorreram em um determinado lugar e que, transmitido de pessoa para pessoa, ao longo dos tempos, vai se modificando, alterando-se, diminuindo, incluindo características próprias da região, do povo, da cultura que a narra... O Vocábulo "lenda", origina-se do baixo latim e significa "o que deve ser lido". O Brasil é muito rico em número de lendas, devido a forte miscigenação aqui existente. Muitas delas, tornaram-se famosas por todo o mundo. A exemplo, cito: . Rei Artur e os cavalheiros da Távola redonda. . Robin Hood. . Rômulo e Remo. . Shangrilá. . Atlântida. Acabei de ler o livro " Viagem pelo Brasil em 52 histórias", de Silvana Salerno, com ilustrações belíssimas de Cárcamo, um chileno que mora no Brasil desde 1976. Que livro "delicioso" de se ler! Senti-me na obrigação de postar as lendas que se seguem, mas quero incentivá-los a lê-lo integralmente, ou, mais ainda: tê-lo na estante, porque é uma dessas relíquias que se pode, como as lendas, ir passando de pai para filho. HISTÓRIA DO NORTE: A ORIGEM DO "OIAPOQUE" Muitos anos atrás, a fome atingiu uma aldeia indígena. Havia pouca caça e quase nenhum peixe, e a seca acabara com a plantação de mandioca. O mesmo tinha acontecido com muitas árvores frutíferas, que não deram frutos. Enfraquecidas, as crianças ficavam doentes, e os bebês e os velhos estavam morrendo. Por causa disso, a índia Tarumã, que estava grávida, decidiu sair de lá para salvar o seu bebê. Ela tinha certeza de que sua criança morreria de fome, pois, fraca como estava, provavelmente não teria leite para amamentá-la. E partiu em busca de um lugar melhor para criar seu filho. Alguns dias se passaram. Sozinha na mata, Tarumã já não tinha esperança. Começou então a chorar, com saudade de tudo o que deixara para trás. Em desespero, pediu a Tupã para transformá-la numa cobra, de modo que pudesse transpor a floresta e encontrar um lugar adequado para seu povo construir outra aldeia. Admirado com a coragem da moça, o deus atendeu seu pedido. Durante meses, aquela grande cobra vagou em busca de um local em que houvesse comida e água. Carregando o bebê, seu peso era tanto que por onde passava ela deixava sulcos profundos no chão. Finalmente, Tarumã encontrou um vale cortado por um riacho, com muitas árvores frutíferas e caça nas redondezas. A índia-cobra ficou super feliz! Fez todo o trajeto de volta para avisar seu povo que havia encontrado água e comida: agora, todos estavam salvos. Mas ela estava tão empolgada que se esqueceu de pedir a Tupã para desfazer o encantamento. Quando estava chegando à aldeia, o bebê nasceu. Tarumã teve sua filhinha bem na entrada do povoado. Quando as pessoas viram que uma criança tinha nascido de uma cobra, acharam que fosse algum tipo de bruxaria e mataram o bebê. Tarumã ficou louca de dor, mas não atacou sua gente. Expressou sua tristeza com um choro tão prolongado que as lágrimas preencheram os sulcos que seu corpo havia cavado na mata, transformando-os num grande rio. Com a perda do bebê, Tarumã não quis mais ser gente. Para esconder-se do mundo, mergulhou no rio de suas lágrimas e adormeceu no seu leito. Na aldeia, os índios contam que as águas do rio ficam revoltas nas noites de lua cheia, e quando Tarumã suspira pela falta da filha. Quando ela chora, o volume de água aumenta tanto que o rio transborda e forma-se um grande alagado até as ilhas próximas. Foi assim que esse rio ganhou o nome de Oiapoque. ( Inspirada em "A lenda do rio Oiapoque" ) Tarumã: árvore de frutos comestíveis que se encontra em todo o Brasil. Em tupi-guarani: "fruta que dá em cachos." Oiapoque: na língua dos oiampis, habitantes do centro-oeste do Amapá, significa "casa de oiampi". Rio Oiapoque: faz fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa e percorre todo o norte do Amapá. HISTÓRIA DO NORDESTE: A MOURA TORTA Três príncipes decidiram conhecer o mundo. Depois de algumas horas na estrada, pararam para descansar. Então apareceu uma velhinha, que disse: "Ouvi as preces de sua mãe e resolvi ajudá-los. Trouxe estas melancias para tornar o caminho de vocês mais leve. Faço apenas uma recomendação: só abram as frutas onde houver água por perto". Os moços agradeceram, e ela desapareceu, da mesma forma como havia aparecido. Os irmãos retomaram o caminho, cada um por uma estrada diferente. O mais velho estava curioso e logo abriu a melancia. Assim que partiu a casca, uma bela moça surgiu e foi logo dizendo: "Tenho sede!" Mas não havia água corrente, e a moça caiu no chão e morreu. Em outra estrada, seguia o irmão do meio. Estava decidido a cumprir a orientação da velhinha, mas a a curiosidade não deixou. Abriu a melancia, e uma moça bonita apareceu, pedindo água. Ele correu pelos arredores, mas não encontrou nada. Quando voltou, a moça estava morta. Vítor, o caçula, só abriu a fruta quando surgiu um regato no caminho. Uma moça linda e nua pulou da melancia, dizendo: "Preciso beber água!" Vítor correu até o córrego, encheu uma cabaça e trouxe para a moça. Enquanto observava Milena matar a sede, ele se apaixonou por ela. "Sou príncipe Vítor, e quero me casar com você", disse ele. A moça ficou radiante: ela estava encantada pelo rapaz. "Vou buscar umas roupas para você vestir e depois vou levá-la comigo ao palácio", disse ele, pedindo que ela esperasse no alto da árvore que havia junto ao riacho. Dali a pouco, apareceu uma velha feia, de pernas tortas, conhecida como a Moura Torta. Trabalhava numa casa da cidade e vinha buscar água. Quando chegou às margens do regato, viu a imagem de uma mulher bonita refletida na água e pensou que fosse ela mesma, pois nunca se vira no espelho. "Que desaforo! Uma moça linda assim ter de carregar água!" Jogou o cântaro com raiva, e ele se quebrou. Quando entrou em casa sem água e sem cântaro, levou uma bronca da patroa, que a mandou de volta ao rio. Ao ver outra vez o rosto da moça refletido na água, a Moura Torta atirou de novo a bilha no chão. Então, a moça caiu na gargalhada. Espantada, a velha levantou a cabeça. Quando descobriu Milena no alto da árvore, percebeu tudo. Puxou conversa com a garota, e depois que ela lhe contou sua história, a velha adotou um tom meigo: "Ah, minha netinha, venha cá para eu catar os seus piolhos..." A moça não se mexeu, mas a velha trepou na árvore, estendeu a mão até os cabelos de Milena e enterrou um alfinete na sua cabeça, transformando a moça numa pombinha. E então a Moura tomou o lugar de Milena, à espera do príncipe. Quando ele chegou, estranhou muito aquela transformação. Havia deixado uma mulher moça, bonita e nua e encontrava uma velha, feia e vestida. Para disfarçar a diferença, ela foi logo dizendo: "Tanto tempo fiquei à sua espera que o sol queimou e enrugou minha pele. Eu, que era tão alva, fiquei morena e ressecada..." Contou uma longa história e concluiu dizendo que confiava no amor dele e na sua promessa. O príncipe estranhou tudo aquilo, mas resolveu cumprir a palavra. De nada adiantaram as súplicas do rei e da rainha: o rapaz casou-se com a velha. Alguns dias depois, ele estava à janela, quando reparou numa pombinha branca, que olhava na sua direção. Sem saber por que, sentiu-se atraído por ela. No dia seguinte, lá estava a pomba de novo, e assim foi por vários dias, até que a Moura Torta percebeu. "Por que fica tanto tempo na janela, meu marido?" "Olho para uma pombinha branca que fica olhando para cá", disse ele. "É essa pomba que eu tenho vontade de comer!", respondeu a velha. "Não diga uma coisa dessa! Ela é tão bonita, e não faz mal a ninguém, por que matá-la?" A velha começou a chorar, dizendo que morreria se não comesse aquela pomba, e tanto resmungou que Vítor acabou dizendo: "Está bem. Vou preparar um laço para a apanhar a pombinha". No dia seguinte, ele pôs um laço de corda na árvore e ficou observando. A pomba pousou ao lado do laço e voou para o galho mais alto. Olhando para o príncipe, disse: "Se quiser me pegar, faça um laço de ouro", e levantou voo. O príncipe ficou assombrado: a pombinha falava! Agora era ele que queria prendê-la. Colocou o laço de ouro na árvore e ficou esperando. Muitos dias se passaram até a pomba colocar o pé no laço. "O que você quer de mim, pombinha, para se deixar prender dessa forma?", perguntou o príncipe, com a ave nas mãos. Ela arrulhou em resposta. Vítor acariciava a cabecinha da pomba, quando sentiu uma coisa pontuda e descobriu a cabeça de um alfinete. "Isso deve machucar muito", disse, retirando com todo o cuidado o alfinete. No mesmo instante, Milena surgiu à frente dele. A moça contou ao príncipe o que havia acontecido. A Moura Torta tentou fugir, mas foi presa. O rei e a rainha prepararam uma grande festa para o casamento do príncipe com Milena, com fogos de artifício, espetáculos de teatro e circo e muita música. ( Inspirada em "A Moura Torta", coletada por Sílvio Romero em Contos populares do Brasil e por Câmara Cascudo em Contos tradicionais do Brasil ) Origem da história: ouvida em todo o Brasil, mas a primeira vez foi contada por uma pessoa que vivia no Piauí, uma região de clima semi-árido e vegetação de caatinga, formada de cactos, como o mandacaru, que serve de comida para o gado. HISTÓRIAS DO SUDESTE: O AMIGO-DA-ONÇA Uma onça caiu numa armadilha e ficou presa. Quando viu um moço passar por perto, pediu ajuda. "Se eu tirar você daí, você vai me comer", disse ele. "Pode ficar tranquilo, moço. Prometo que não vou tocar em você." Rafael então concordou. Desatou os nós das cordas que prendiam a tampa do alçapão e soltou a onça. Ela pulou para fora e avançou para cima do rapaz: "Estou morrendo de fome! Agora já tenho almoço", disse. Rafael não gostou da traição e tanto falou para a onça que ela lhe fez uma proposta: "Vamos pedir a opinião de três animais. Se a maioria estiver a meu favor, você vai ser minha comida". Eles saíram então pela floresta, e encontraram um cavalo velho e doente. A onça contou-lhe o caso e o cavalo disse: "Quando eu era jovem e forte, trabalhei muito para ajudar as pessoas a ganhar dinheiro; agora que estou velho, fui abandonado para morrer sozinho. Minha conclusão é que o bem só se paga com o mal". Rafael e a onça continuaram. Mas à frente, encontraram um boi. Também ele tinha dedicado a vida a um sitiante; quandou pensou que seria recompensado, foi vendido para o açougueiro. O boi ficou do lado da onça, repetindo o mesmo provérbio do cavalo: o bem só se paga com o mal. Já sem esperança, o rapaz acompanhava a onça, quando viram um macaco. Depois de ouvir a história, o macaco desandou a rir; pulava, virava de ponta-cabeça e fazia careta. A onça não gostou nada daquilo. "O que há de tão engraçado, companheiro macaco?", perguntou, muito brava. "Não quero desmerecer ninguém, mas não acredito que o homem tenha caído na armadilha que armou", disse o macaco. "Não foi ele que caiu, fui eu", corrigiu a onça. "Você?! Não acredito! Como é que um rapaz pequeno e fraco pôde libertar um bicho grande e forte como a amiga onça?" Ofendida com a desconfiança do macaco, a onça pulou dentro do fosso. Lá de baixo, gritou: "Está vendo, companheiro macaco? Era assim que eu estava presa!" Sem perder tempo, o macaco empurrou a tampa para cima do fosso. "Companheira onça", disse ele, "para mim, o bem só se paga com o bem. Como você fez mal, está recebendo o mal." Pulou no ombro de Rafael e foi embora com ele. ( Inspirada em "O bem se paga com o bem" coletada por Câmara Cascudo em Contos tradicionais do Brasil ) Esta fábula indiana foi divulgada no Ocidente no século VI. Como toda boa história, atravessou fronteiras e oceanos. Nas primeiras versões, era um tigre que caía na armadilha. O Animal foi variando, de acordo como país: em Angola, é um leopardo; no Brasil, é a nossa onça. HISTÓRIA DO SUL: O NEGRINHO DO PASTOREIO No tempo da escravidão, lá pelo início do século XIX, vivia no Rio Grande do Sul um estancieiro de coração muito duro. Suas terras cobriam uma grande extensão de prados, o pampa gaúcho. Com muito gado, vaqueiros a seu serviço e uma grande casa, não dava pousada a ninguém, nem emprestava montaria ao viajante cansado. O estancieiro não tinha amigos. Assim como não gostava de ninguém, também não era querido. Dentre aqueles com quem convivia, só a três olhava nos olhos: um cavalo baio, seu filho e um pequeno escravo. O baio era seu cavalo de confiança; o filho era seu sangue; e o menino escravo, negro bonito, nem nome tinha, era conhecido como Negrinho. Como não tinha nome nem fora batizado, o Negrinho se considerava afilhado de Nossa Senhora. E era maltratado pelo filho do patrão. Depois de muita insistência do vizinho, o estancieiro concordou em participar de uma corrida de cavalos. O vizinho queria que o prêmio fosse para os pobres; o estancieiro não concordou; queria que o vencedor levasse o prêmio. E assim ficou decidido; a corrida seria de trinta quadras, e a aposta, de mil onças de ouro. No dia marcado, reuniu-se toda a gente da região. Os cavalos eram tao perfeitos que os gaúchos não sabiam por qual se decidir. O baio tinha fama de veloz, era ótimo corredor. O mouro do vizinho era duro na queda, não se cansava nunca. As apostas foram abertas, e eram muitas, e muitas altas. O estancieiro decidiu que o Negrinho, que pastoreava os cavalos, montaria o baio. Quando a corrida começou, ele se benzeu: "Valha-me, minha Nossa Senhora! Se o baio perder, o meu senhor me mata!" Durante toda a corrida, o baio seguiu emparelhado com o mouro. Na última volta, a poucos metros da chegada, o baio parou de repente, empinou e fez meia-volta, dando ao mouro tempo para ultrapassá-lo e cruzar a linha de chegada. O estancieiro achou que tinham preparado uma armadilha, mas o juiz sentenciou:"Foi dentro da lei! Quem perdeu deve pagar. Eu perdi cem onças elas estão aqui", disse ele, tirando o dinheiro do bolso. Não havia o que discutir. Furioso, o estancieiro pagou as mil onças conforme o combinado. O ganhador recolheu o dinheiro e deu tudo aos pobres. O perdedor não tinha engolido aquilo. Assim que chegou à estância, mandou amarrar o Negrinho e dar-lhe uma surra de chicote. De madrugada, levou o garoto para o alto de uma colina e então disse a ele: "A pista da corrida que voê perdeu tinha trinta quadras, pois trinta dias você ficará aqui pastoreando os meus trinta cavalos negros. O baio vai ficar amarrado, e a corda dele, presa à sua mão". O Negrinho começou a chorar. O dia amanheceu, e o Negrinho ali, no pastoreio, sem ocmer nem beber. Chegou a noite, e ele se deitou, todo encolhido. As corujas o cercaram, piando, e ele começou a tremer. Pensou na sua madrinha, Nossa Senhora - a madrinha dos que não tem madrinha -, e só então conseguiu dormir. No meio da madrugada, um bando de raposas assustou o baio, que se soltou e saiu a galope, acompanhado dos outros cavalos. De manhã, o filho do patrão viu o Negrinho só e contou ao pai que os cavalos não estavam mais lá. O estancieiro mandou buscar o menino e dar outra surra nele. Quando a noite caiu, mandou que ele fosse procurar os cavalos perdidos. Chorando, o Negrinho rezou a Nossa Senhora, pegou uma vela e saiu pelo campo escuro. Á medida que andava, a vela ia pingando no chão; a cada pingo nascia uma nova luz, e foram tantas que iluminaram todo o campo. O Negrinho encontrou os cavalos deitados. estavam mansos, até mesmo os chucros. Montou no baio e trouxe a tropilha para o alto da colina, onde estava cumprindo o castido determinado pelo fazendeiro. E finalmente riu, contente da vida. E só quando ele se deitou no capim as luzes se apagaram. Quando clareou, apareceu o filho do fazendeiro para enxotar os cavalos, que dispararam campo afora.O menino malvado foi dizer ao pai que os cavalos não estavam lá. Mais uma vez o Negrinho perdeu o seu pastoreio. O estancieiro mandou dar-lhe uma surra de chicote que só terminou quando o menino não chorava mais, tinha a pele toda cortada e estava coberto de sangue. O Negrinho chamou por Nossa Senhora, deu um suspiro fundo e pareceu que tinha morrido. O patrão mandou jogar seu corpo num imenso formigueiro que havia na fazenda, atiçou bem as formigas, e só saiu de lá quando elas tinham coberto o corpo do menino. Uma cerração muito forte se abateu sobre o lugar nos três dias seguintes. No quarto dia, os peões saíram em busca dos cavalos, mas não encontraram nem rastro deles. Então o senhor resolveu ir ao formigueiro ver o que sobrara do escravo. Ao chegar, não pode acreditar no que via: o Negrinho estava em pé, com a ele intacta, espantando as formigas, que o incomodavam. Ao lado dele, o baio e os trinta cavalos. Quando o fazendeiro viu aquilo, caiu de joelhos diante do escravo. E o Negrinho, sorridente, montou em pelo no baio e tocou a tropilha a galope. Nas semanas seguintes, tropeiros e viajantes chegavam com a mesma notícia: todos tinham visto passar, à mesma hora, uma pequena tropa de cavalos conduzido por um Negrinho que montava em pelo um cavalo baio. A partir de então, muitos começaram a acender velas e a rezar pela alma do menino. E, quando alguém perdia alguma coisa no campo, pedia ao Negrinho, que campeava a noite toda e a encontrava. Mas ele só a entregava se a pessoa acendesse uma vela para a sua madrinha. Daquela época até hoje, feliz e risonho, o Negrinho pastoreia os seus cavalos. Quem perder alguma coisa, tanto no campo como na cidade, não deve perder a esperança. É só acender uma vela e pedir ao Negrinho do Pastoreio que o ajude a encontrar. Se ele não achar, ninguém mais acha. ( Inspirada na tradição oral ) Lenda gaúcha mais popular, contada em todo o Brasil.Onça: moeda de ouro que equivalia mais ou menos a 3 centavos. Baio: cavalo de cor castanha ou amarelada. Chucro: cavalo bravo, que ainda não foi domado. HISTÓRIA DO CENTRO-OESTE: < O SOL E A LUA Inimá saiu para caçar e pegar imbira para fazer uma rede. Estava concentrado tirando as imbiras do cipó quando a onça apareceu, acompanhada de uma turma grande, que vinha atrás dela. O grupo começou a fazer um cerco em volta do índio, que ficou com medo de virar comida de onça e disse: "Onça, vamos fazer um trato? Em vez de você me comer, eu lhe dou minhas dus filhas; elas são muito bonitas." "Está bem", disse a onça. "Mas fuja rápido, antes que o pessoal pegue você." Quando o grupo chegou, perguntou pelo índio, "Ele fugiu", disse a onça. "E você deixou?", perguntaram. "Eu não percebi", disse a onça com a maior cara-de-pau. A turma achou aquilo muito estranho, mas não disse nada. Enquanto isso, Inimá chegou à sua casa e se pôs a pensar no que teria de fazer para cumprir sua promessa. Ele não queria dar as filhas à onça, e ficou matutando, matutando, até que teve uma ideia. Foi para o mato procurar Uégovi, o chefe dos paus, que lhe indicou duas árvores, uma de pau-amarelo, outra de pau-de-leite. O índio tirou dois pedaços de cada tronco e esculpiu dois bonecos com cara e corpo de gente. Levou os bonecos para casa, escondeu-os bem e foi dormir. No meio da noite, os bonecos de madeira viraram gente. Quando o índio acordou, duas moças estavam no lugar dos bonecos. "Como vão, minhas filhas? Sou seu pai. Fui eu que fiz vocês", disse ele. "Vamos bem, pai." O índio passou o dia todo com as filhas, mas quando chegou a noite, a coruja apareceu e disse que a onça estava esperando. Ele contou às moças o que tinha acontecido, e elas ficaram tristes porque não queriam se casar com a onça. Mas a coruja disse que se elas não fossem seria pior. Então, as moças foram para a floresta. Depois de muito andar, deram numa encruzilhada e pediram informação ao veado; ele explicou que um caminho levava à casa da onça, e o outro, à do lobo. As irmãs se dividiram. A primeira encontrou o lobo, que logo foi agarrando a moça. A segunda foi dar na casa da onça e contou o que tinha acontecido. A onça foi buscar a irmã da moça, que estava na porta da casa porque o lobo tinha saído. As irmãs se reencontraram e passaram a viver com a onça e a mãe dela. Então, uma das moças ficou grávida e teve os gêmeos Rit, que era o Sol, e Une, a Lua. Quando Rit e Une cresceram, dividiram o povo em grupos e deram nomes a eles: Juruna, Cuicuro, Camaiurá, Calapalo, Tsuva, Iaualápiti, Txucarramãe, Aviotó, Suiá, Aipatsi, Iarumá, Aueti, Trumai etc. Então, Rit disse que eles não deviam ficar juntos. Cada grupo tinha de tomar um rumo diferente, e quando se encontrassem teriam de lutar. Depois disso, Rit e Une foram para o Morená. ( Inspirada em "A origem dos gêmeos Sol e Lua", coletada por Orlando e Cláudi Villas Boas em Xingu: Os índios, seus mitos ) Imbira: casca do cipó, que os índios usam para fazer rede e corda. Morena: a palavra vem de "mouro" ou "mauro", povo arabizado proveniente da Mauritânia ( África ), que invadiu a península Ibérica no ano de 711 e lá permaneceu até 1492.